Uma vez um amigo meu se viu numa situação curiosa, fascinante mesmo: em uma cidade que não era a dele, ficou interessado por duas colegas de trabalho, ambas belas, competentes, atraentes.
Uma era triste, a outra era alegre.
As duas pareciam se interessar por ele.
O puto se sentia numa situação estranha, inusitada. Sentia que podia escolher. Para qual das duas ele tentaria jogar o laço?
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Me lembrei dessa história porque, de repente, minha memória trouxe de volta Sylvie Vartan e Françoise Hardy.
(Talvez porque o livro que estou lendo, “O Boneco de Neve”, do norueguês Jo Nesbø, tenha me feito lembrar demais de Regina, que, como a Rakel de Harry Hole, estava sempre presente.)
Françoise e Sylvie são da mesma geração, e começaram suas carreiras de cantoras na França da primeira metade dos anos 60 – mas eram tão distantes, díspares, quanto as duas moças que meu amigo conheceu na cidade que não era a dele.
Sylvie era pop. Françoise também era discretamente pop, mas era bem mais densa, séria.
Se fôssemos tentar uma tradução para a música brasileira dos anos 60, a década em que as duas surgiram e explodiram na França, Sylvie seria algo próximo a Wanderlea, e Françoise, a Nara – com a diferença apenas de que Nara compôs muito pouco, e Françoise sempre compôs quase tudo o que gravou.
Sylvie era jovem guarda. Alegrinha. Françoise era mais chanson française, daquela longa, digníssima linhagem que gosta de uma tristeza, uma melancolia, até mesmo de um tédio. L’ennuie. Até a palavra francesa para tédio é mais tristonha.
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Esta anotação não quer dizer nada, não. É só um pretexto para eu ouvir de novo Sylvie e Françoise.
Aí vai Sylvie, com “La plus belle pour aller dancer”.
E aí vai Françoise, com “Tous les garçons et les filles”.
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Ou quem sabe esta anotação que não quer dizer nada talvez queira dizer alguma coisa?
Sylvie e Françoise são mais ou menos da mesma idade, fizeram carreira no mesmo país, têm a mesma cultura, a mesma formação. Lindas, as duas, cada uma no seu estilo.
A gente pode escolher ser alegre ou ser triste?
Vinicius, sábio, dizia que ser alegre é melhor do que ser triste.
23 de novembro de 2013
Ah, uma confissão: não é um amigo meu, o personagem citado acima. Sou eu mesmo.
E como a mulher alegre sou eu, atesto: é melhor ser alegre do que triste.
É preciso um bocado de tristeza.
Diria o mesmo e sábio Vinicius no seu Samba da Benção.
Senão é como amar uma mulher só linda
E daí? Uma mulher tem que ter
Qualquer coisa além de beleza
Qualquer coisa de triste
Qualquer coisa que chora
Qualquer coisa que sente saudade
Um molejo de amor machucado
Uma beleza que vem da tristeza
De se saber mulher
Feita apenas para amar
Para sofrer pelo seu amor
E pra ser só perdão
Sylvie é búlgara. Marca sutil: sempre quea ocasião permite, como no caso dessa gravação, ela veste uma blusa como a da seleção da Bulgária, meio estilizada.
Ia tudo muito bem até comparar a Sylvie Vartan com a Wanderleia!
Vem cá, avô da Marina, precisa de pretexto para ouvir essas músicas deliciosas de antanho?
E por falar em Marina. Lembra da Marina Vlady?
Não entendi direito seu protesto, Maria Helena querida!
Eu não quis falar mal da Wanderlea, de jeito nenhum! Não quis falar mal de ninguém! Só quis fazer uma comparação de estilos, mais ou menos…
E claro que lembro da Mariná Vlady! Linda, maravilhosa. Como a Macha Méril, lembra?
E a Marie Laforêt? La fille aux yeux d’or…
Vou botar no Face umas músicas da Marie Laforêt…