Yes, baby, nós repórteres sentamos de frente para a porta. Não vá algum vilão entrar armado para acabar com a gente, e nos irmos desta estupidamente com um tiro nas costas. Cinema à parte, se o Bolsonaro entrar aos beijos com um gay, não perdemos o furo.
Segui a regra, naquela noite, no restaurante de Itapetininga. A cidade do interior paulista nos oferecia alguns restaurantes promissores. Não sei exatamente por que, optamos por um que começava com um espaço um pouco estreito, e se abria no fundo.
Ocupei meu lugar, em uma mesa da parte estreita. Meu colega das lentes sentou ao meu lado. À nossa frente, de costas para a porta, ficou o colega do volante. Aí vai a noite. Um tira-gosto, uma bebidinha, que o dia tinha sido cheio. Em paz, porque a casa – graças, graças Senhor – não tinha aparelho de TV ligado.
(N.da R.: No clichê ao lado, o bandido, à esquerda, entra no bar. O mocinho, à direita, estava de frente para a porta, é claro.)
Fizemos o pedido, e se bem lembro estávamos no fim do jantar quando… Um fantástico som ao vivo eclode às nossas costas, enchendo o lugar com um número de bossa-nova! Viramos, eu e o fotógrafo, e descobrimos poucos metros atrás de nós um conjunto de piano, bateria, baixo de pau e cantora!
A cena clássica, o pianista com seu copo de uísque em cima do tampo. E um baixista jazzístico, de grande performance. O baterista, com a batida impecável (pelo menos aos nossos ouvidos amadores) da bossa nova. E a cantora? Afinadíssima.
É prudente dar o desconto de que estou falando de um dos meus gêneros prediletos. Aquele que, no fim dos anos 1950, embalou a juventude nas ondas de um barquinho…
Certamente o piano já estava lá, quando chegamos – e não notamos. Mas nada e ninguém mais. O baterista armou seu instrumento, e não percebemos! No intervalo falei com eles, e descobri que estavam ensaiando. Um ou dois dias mais tarde se apresentariam em um lugar da cidade que não gravei.
Pentelhamente, num intervalo depois de “Corcovado” (”Um banquinho, um violão”…), expliquei ao pianista que a letra original não era essa. Era um cigarro, um violão, mas, a pedido de João Gilberto, Tom trocou o cigarro pelo banquinho (erudição de leitura de jornal).
Os músicos foram simpáticos, aceitaram bem o pequeno discurso fora de hora. A música continuou. Dada a nossa empolgação, a casa ofereceu uma rodada de uísque. Sim, baby, nós repórteres não aceitamos presentes. Mas àquela altura seria uma grosseria devolver a bebida.
E fomos ficando… Até o momento em que o pianista deu o concerto por encerrado. Muito bêbado, achou que era hora de se despedir.
Janeiro de 2011
Beleza, Valdir! Mas devo fazer uma observação sobre a referência ao filme: você esqueceu de citar que, além do mocinho, também o repórter está de frente para a porta. Sim! Olha na foto, sentado à mesa, atento aos acontecimentos: lá está Mr. Peabody, proprietário, redator, repórter, tipógrafo e impressor do Shimbone Star, valoroso jornal que atacava os “malfeitos” de Liberty Valance. (Pena que nossos jornalistas de hoje pareçam mais interessados em defender os Liberty do Brasil.) Abraço!
Grande Valdir, pequeno-grande texto. Mas quem é mesmo que disse que small is…, Ah, minha memória para grafar termos em inglês. Help me, Sérgio Vaz, como é mesmo belo na língua de Poe? E alguém que pensou que eu ia referir-me ao idioma do Cheique, enganou-se, hehehe. Quanta enrolação, hein, homem de Guarulhos? Mas aceite meus parachoques… e tudo o mais.
E boa, também, Sérgio Luís (ou Luiz?) Caetano Rondino, sua lembrança sobre a presença, na foto da cena do filme, do publisher do Shimbone Star, interpretado pelo Edmond O’Brien.