No Colégio Arnaldo, batina preta e rosto branco, ele gastava com vontade a saliva para ensinar aos meninos os teoremas essenciais da matemática. Tinha clareza e entusiasmo, o que me contagiava. Confesso que o que aprendi naquele ano colou em minha memória.
A vida e minha vocação me levaram para longe das ciências exatas, mas a delícia de resolver problemas de aritmética não me abandonaram. Fiquei apenas nos fundamentos, o que não impediu que muitos anos mais tarde, estudando com minhas filhas, eu me lembrasse de tudo e pudesse ajudá-las em seus estudos. Até hoje eu tenho um certo encanto com os números, só superado pelo amor às palavras. Tudo porque tive um bom professor no momento certo. O mesmo eu não posso dizer do professor e das aulas de desenho, que me tiraram qualquer possibilidade remota de me expressar nessa matéria. O aluno era sem jeito e quem devia instruir destruiu.
A dívida que Marcel Camus dizia ter para seu mestre na Argélia, que o tirou do analfabetismo e abriu o caminho para que ele viesse a ser prêmio Nobel de literatura, me vem sempre à mente quando penso nos professores que tive. Tenho o maior respeito e admiração por quem trabalha para transmitir seus conhecimentos.
Foi o que eu disse à leitora Hortense, que dedicou sua vida a ensinar francês e inglês nos principais colégios da cidade. Ela lamenta o descaso dos nossos governantes para com a educação. Em seu voto de um ano melhor para todos, nos deseja um país mais sério. E eu lhe falo de um vídeo que eu vi, em que Anísio Teixeira, nos anos vinte do século passado, insistia na necessidade de se educar e educar e educar o povo brasileiro. Sem conhecimento o futuro do Brasil não se realizaria.
Pensando na boa educação e nos bons mestres, sou atropelado por um outro tipo de profissional público, o deseducador. É esse tipo de político, mas será isso política?, que trata o que é de todos como propriedade sua e de seu grupo. Pego com a mão na cumbuca, sai o ministro Bezerra a justificar o indefensável. Ministro deveria ser o que serve. E integração nacional pressupõe todo o pais, e não apenas seu estado, sua cidade ou seus familiares e partidários. No latim, professor é o máximo, o “magister”, o que conduz e orienta. Ministro é servo do príncipe; na democracia, do povo.
Um mês depois de começada a tragédia das chuvas em Minas Gerais e quinze dias depois da calamidade atingir o Rio de Janeiro, o referido senhor passa três horas em reuniões fechadas, diz banalidades e pega o voo de volta para Brasília. Essa não é uma questão de partido ou sigla, pois esse descaso é comum quando a administração e a políticas não são sérias.
Desanimador assistir ao espetáculo medíocre e antibrasileiro dessa gente. Eles deveriam voltar para a escola.
Esta crônica foi originalmente publicada no Estado de Minas, em janeiro de 2011.