O juízo fora dos trilhos

Algumas coisas saíram dos trilhos na carruagem petista ultimamente e a mais importante delas parece ser o juízo.

O ataque de nervos provocado pelo julgamento do mensalão está desencadeando reações desproporcionais às que deveriam ser as reações de um partido adulto e amadurecido por uma importante inserção histórica na vida política brasileira no período pós redemocratização.

Todo mundo conhece a história birrenta do PT, sua negativa em apoiar o Colégio Eleitoral que elegeu indiretamente Tancredo Neves, sua negativa inicial em assinar a Constituição, em dar seu apoio à transição política possível e até mesmo em votar em medidas importantes que reinstitucionalizaram a história econômica do País a partir do Plano Real.

O “diferente de tudo que está aí” afinal de contas constitui-se no diferencial mercadológico que ajudou a plantar as raízes do partido no cenário político brasileiro.

O partido cresceu com isso, institucionalizou-se, chegou ao poder e acabou dando a sua contribuição, ainda que às vezes por linhas tortas, à consolidação democrática do País.

Está no terceiro mandato consecutivo no comando político da República e não tem mais motivos para portar-se como um diretório acadêmico de jovens rebeldes amalucados.

O episódio do julgamento do mensalão teve o efeito de mexer com a “húbris” de Lula, que as contingências da vida deveriam ter aplacado, quando era lícito acreditar que elas deixariam lições de sabedoria e tolerância em vez de açular o rancor.

Politicamente o partido instalou-se à beira de um ataque de nervos, impondo truculentamente a sua vontade a aliados e maltratando acordos a tal ponto que não consegue despontar como favorito nas eleições municipais em mais do que duas capitais do país – Goiania e Rio Branco.

E o que é pior: não consegue demonstrar força para juntar em apoio ao candidato que Lula impôs ao partido sequer metade do seu eleitorado cativo em São Paulo.

E mais grave ainda: vozes influentes como a do seu presidente Ruy Falcão, o secretário de comunicação André Vargas, o senador Jorge Viana e o presidente da Câmara Marcos Maia, saem em desatinadas agressões sem propósito confrontando o Poder Judiciário e agitando o espantalho de um doentiamente fantasioso “golpe das elites”contra o partido.

A agressividade do PT contra as instituições como a Justiça e a Imprensa, que estão trabalhando rigorosamente dentro das atribuições que lhe são garantidas pela lei, está passando dos limites, criando um clima artificialmente exacerbado de confronto que faz temer pela saúde da democracia.

E aquele que deveria ter a sabedoria do bombeiro prefere colocar a fantasia de incendiário.

Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 21/9/2012.

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