Na última quinta-feira, enquanto no STF o ministro relator Joaquim Barbosa votava pela condenação dos primeiros quatro dos 37 réus da Ação Penal 470, o quinto dos sete acusados pelo assassinato do então prefeito de Santo André Celso Daniel ouvia a sentença que lhe imputou 22 anos de prisão. O caso, que também tem ligações com caixa 2 para campanha eleitoral, assombra tanto ou mais o PT do que o escândalo do mensalão.
Sequestrado e encontrado morto dois dias depois com oito tiros e sinais de tortura, em janeiro de 2002, o prefeito acabara de ser indicado para coordenar a campanha presidencial do candidato Luiz Inácio Lula da Silva. E, de acordo com Ministério Público, ele teria sido eliminado ao discordar que parte do caixa 2 que sua cidade patrocinava não ia para os cofres do PT e sim para os bolsos de alguns petistas.
Desde que a denúncia veio à tona, o caixa 2 de Santo André foi negado com todas as unhas e todos os dentes. A começar por José Dirceu, presidente do PT à época. Negativas também vieram do ministro Gilberto Carvalho e de todas as estrelas de primeira grandeza.
Ninguém naquele início de 2002 considerava caixa 2 crime admissível ou menor. Muito menos imaginava que pudesse ser um dos principais argumentos para defender acusados de corrupção na Suprema Corte do país.
“É a mesma acusação que se tem hoje lá em Brasília”, argumentou o promotor Mario Augusto Friggi de Carvalho ao pedir a condenação de Elcyd Oliveira Brito, um dos participantes do assassinato do prefeito. Citou o depoimento de Rosângela Gabrilli, dona de uma empresa de ônibus, que dava todo mês R$ 41.800 para a caixinha do PT – R$ 550 por ônibus. E, detalhadamente, expôs a teia do caixa 2 de Santo André ao Tribunal do Júri de Itapecerica da Serra, município situado a 60 quilômetros de Osasco, onde o deputado João Paulo Cunha (PT-SP), apontado como culpado pelo relator do mensalão, é candidato a prefeito.
Não que Cunha tenha a ver com a morte do ex-prefeito. Mas o crime de caixa 2, tão propalado pelos advogados de defesa no STF, sim.
No caso de Santo André, o MP está convencido – e já condenou cinco em cima da tese – de que Celso Daniel conhecia a propina que era cobrada durante o seu mandato para engordar o caixa paralelo e financiar campanhas do PT. O prefeito morto, portanto, não era santo. Roubava ou deixava roubar. Mas se sentia protegido ao fazê-lo em nome de levar um líder popular e o povo ao poder.
Perto dos métodos sofisticados do mensalão, o esquema de Santo André era quase ingênuo. Mas sua consequência foi trágica. Por isso mesmo, seus fantasmas aterrorizam mais.
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 19/8/2012.