Ou na cerveja, no espumante, sei lá. O certo é que, inebriado ou não, a vida tem me ensinado a moderação. Não que eu não tenha cometido ou ainda não cometa exageros. Sou de carne, ossos, emoções e sentimentos, como qualquer um dos meus semelhantes. Mas eu sigo aprendendo e um dia, se der tempo, chego lá.
Sinto que a mente acelera a lucidez e a poesia quando alimentada por uma dose civilizada. Tudo se torna sintetizável em frases curtas e definitivas. Certa vez, em Brasília, passando de carro em frente da catedral majestosa, disse a meu amigo Paulo Sérgio Valle: “ só um ateu poderia ter feito isso”. As formas externas parecem buscar o eterno, o espiritual, o absoluto, a proteção. Mãos aos céus, não mãos ao alto. Findo aquele momento em que meu sangue se misturara àquilo que Cristo dissera ser o seu, continuo apreciando o que eu decretei naquela noite da capital brasileira.
Ainda agora no Natal, cercado pela família amorosa, e com o rubro da verdade circulando pelas veias, e os ditos saem naturalmente e sem aviso de minha boca, afirmei que “ o álcool é que fez andar o mundo, a humanidade.” Repeti o dito para o meu cunhado, pensando nos egípcios, gregos e romanos, que nos indicaram caminhos do conhecimento, mas também nos humanos da pré-história a colher líquidos fermentados derramados de vegetais.
Essa reflexão não nega os males que a bebida traz quando usada de forma excessiva, irresponsável. Até o amor imoderado não faz bem. Quantos se destróem e infelicitam os seus, todos conhecemos casos e mais casos. E os que bebem e saem pilotando carros pelas ruas das cidades, matando e aleijando inocentes.
Pensando nisso, e não querendo ser mais um imbecil nas estatísticas dos causadores de mortes no trânsito, sempre ando de táxi, e isso faz muito tempo, quando há possibilidade de alguma cerveja ou vinho no meu destino. Louvo as campanhas educativas, apesar de pensar que a lei seca poderia ser melhor do que é. Mais racional, o que nem sempre é possível esperar de nossos legisladores.
O fato é que, proibido o álcool em qualquer quantidade, em todos os fins de semana, de tarde e nos dias de festa, a procura pela condução é muito maior do que a oferta. Os telefones não atendem, os carros que passam pelas ruas estão ocupados. Antes e depois da ceia de Natal, os cidadãos de Belo Horizonte ficaram chupando dedos nas esquinas. A Prefeitura precisa agir rapidamente para resolver esse problema.
Lá se vai 2011. Um ano em que se perde a mãe não pode ser bom. Um ano em que nasce o segundo neto só pode ser bom. A vida é assim: enquanto uns nos deixam outros chegam. Memória e tristeza, nascimento e alegria.
Este artigo foi originalmente publicado no Estado de Minas, em dezembro de 2011.