O taxista era jovem, aí uns 30 e poucos anos. Não era o tipo conversador. Quem puxou conversa fui eu.
Foi hoje, sexta-feira, 7 da noite – a hora do pior horror do trânsito sempre horroroso de São Paulo. Isto aqui é pra ser um texto curto – curto –, mas tenho que dizer que só peguei o táxi porque chovia, e eu carregava numa sacolinha que não era de plástico papéis que não podiam molhar. Se não fosse a chuva, teria feito meu caminho de sempre pelo transporte público. Eu, assim como o personagem de Clint Eastwood em Na Linha de Fogo, gosto de transporte público.
Empacamos na descida da Bela Cintra. E eu falava do trânsito, da chuva, da falta de opções – se fôssemos pela Haddock Lobo, túnel e Dr. Arnaldo, seria certamente pior.
E aí o rapaz começou a falar também. Viemos conversando da Consolação até Perdizes, no meio do trânsito pesadérrimo da sexta-feira hora do rush com chuva.
Ele comentou que estamos fazendo todo o possível para que, em breve, o trânsito de São Paulo trave completamente. Falou das facilidades de crédito para que se compre carro. Falou da falta da capacidade das pessoas de admitirem sua culpa. Falou que as pessoas sempre tendem a culpar os outros – o Poder Público – pelas mazelas. Falou que as coisas têm melhorado, ao longo do tempo, que o transporte público não é tão ruim quanto dizem muitos, mas que as pessoas insistem em ter seu próprio carro.
Eu disse que, daqueles 100 carros mais próximos de nós, parados no congestionamento na Bela Cintra por causa do farol da Dona Antônia com Consolação, uns 90 tinham apenas uma pessoa dentro deles – e ele falou que era mais, uns 95%. Falou que, quando trabalhou numa empresa tal, dividia o carro com mais quatro pessoas.
Falou que adora o Centro de São Paulo, que conhece bem desde os tempos em que era garoto e trabalhava como office boy. Eu disse que também trabalhei como office boy no Centro, e adoro tudo ali, e ele disse que espera que tudo o que está sendo feito seja capaz de revitalizar aquela região. Citei a Praça Roosevelt, que acaba de ser renovada, e ele lembrou que picharam tudo, um dia depois da reinauguração – um absurdo.
Comentou que quanto mais fantasiosas são as promessas dos candidatos, menor é a probabilidade de elas serem cumpridas. Citou especificamente uma promessa do Russomano de botar mais sei lá quantas mil pessoas na Guarda Municipal.
Na hora de pagar a conta, eu disse a ele: – “Olha, não quero te vender ninguém, não. Só quero te perguntar: em quem você vai votar”
Ele, firme: – “No Serra.”
***
Pode ser que Russomano e Haddad passem para o segundo turno. Pelo que mostram as pesquisas, e as entrevistas dos diretores dos institutos, está tudo embolado.
Mas, quando eu desci do táxi do rapaz, senti orgulho da cidade que escolhi pra viver.
5 de outubro de 2012
Delícia de texto!
Também amo SP, mas não posso mais viver nela,e não por minha vontade.
Talvez um dia eu volte para ela!Quem sabe…
Sérgio, voltei hj pro Brasil.
Fui do aeroporto pra casa de taxi, conversando com o taxista (68 anos), que me contou que estava contente por Russomano não ter ido ao segundo turno e que agora era votar em Serra. E ainda disse que o mais importante pra ele é que o PT não ganhe as eleições (e me citou o mensalão para depois me perguntar “e depois de tudo isso como é que ainda tem gente que vota neles?”.
Concordo com o Rafael, muito bom o texto. O editor quando quer nos traz bons textos. Assim se faz política, com nossas armas(profissão) e convicções(idéias. Fico feliz por São Paulo ter ser livrado de Russomano.Os tucanos tem uma esperança em São Paulo já que afundaram no resto do Brasil. Em Curitiba acachapante derrota, no Rio tucano só no Zoológico, em Minas deu PSB e no RS seguem a reboque. Quem virá em 2014? Serra. Aécio ou FHC? Estão sem palanque e apoio. Este é o retrato da oposição. Boas notícias para os socialistas, no Rio além da alta votação em Marcelo Freixo o PSOL elegeu 4 vereadores e teve expressivos 114.000 votos de legenda. Apesar dos “fazedores de opinião” o socialismo continua vivo.