Jolene, a Outra

Tenho uma paixão pelas canções que falam da Outra.

As canções que falam da Outra em geral roçam o brega, o que é tido como mau gosto, o boko moko, o cafajeste. Coisas tipo Lupicínio Rodrigues, já que sou uma pessoa de gosto um tanto refinado, que não tem discos de Odair José, Lindomar Gatilho, Wando, essas coisas assumidamente bregas, cafajestes.

A música que fala da Outra que me parece mais extraordinária foi composta por Dolly Parton. Dolly Parton é uma figura extasiantemente  maravilhosa. Boa compositora, boa cantora, boa atriz, ela brinca bem humoradamente com a imagem de brega. Industrializa a imagem de brega.

Foi capaz de criar uma canção em que a Matriz se dirige à Filial.

          ***

Aliás, quem compôs “Matriz e Filial”? Foi Lupicínio? Nelson Gonçalves cantava, e Simone também gravou. Ah, sim, Lúcio Cardim.

“Quem sou eu pra ter direitos exclusivos sobre ela

Se eu não posso sutentar os sonhos dela

Se nada tenho e cada um vale o que tem

Quem sou eu pra sufocar a solidão da sua boca

Que hoje diz que é matriz e quase louca

Quando brigamos diz que é a filial

 

Afinal se amar demais passou a ser o meu defeito

É bem possível que eu não tenha mais direito

De ser matriz por ter sòmente amor pra dar

 

Afinal o que ela pensa em conseguir me desprezando

Se sua sina sempre é voltar chorando,

Arrependida, me pedindo pra ficar”

 ***

Vixe!

***

Quem achar que “Matriz e Filial” é o fundo no poço é porque não conhece “Jolene”, de Dolly Parton.

Em “Jolene”, Dolly Parton teve a coragem de ir ao mais fundo do brega. Ela criou uma canção em que a Matriz, a Esposa, a Titular, deixa de lado qualquer tipo de auto-respeito, de auto-consideração, e suplica, perdidamente, à Outra, que não conquiste seu maridão.

Ela, a Titular, sabe que a Outra é em tudo melhor que ela própria. E então ela implora que Jolene, a Outra, não venha pra cima do maridão. Não o leve apenas porque você pode. Sua beleza é incomparável, com a pele de marfim e olhos verdes de esmeralda, seu sorriso é como um sopro da primavera, sua voz é suave como a chuva deverão, e não posso competir com você, Jolene…

É de pasmar:

Jolene, Jolene, Jolene, Jolene
I’m begging of you please don’t take my man
Jolene, Jolene, Jolene, Jolene
Please don’t take him just because you can
Your beauty is beyond compare
With flaming locks of auburn hair
With ivory skin and eyes of emerald green
Your smile is like a breath of spring
Your voice is soft like summer rain
And I cannot compete with you, jolene

He talks about you in his sleep
There’s nothing I can do to keep
From crying when he calls your name, jolene

And I can easily understand
How you could easily take my man
But you don’t know what he means to me, jolene

Jolene, Jolene, Jolene, Jolene
I’m begging of you please don’t take my man
Jolene, Jolene, Jolene, Jolene
Please don’t take him just because you can

You could have your choice of men
But I could never love again
Hes the only one for me, jolene

I had to have this talk with you
My happiness depends on you
And whatever you decide to do, jolene

Jolene, Jolene, Jolene, Jolene
I’m begging of you please don’t take my man
Jolene, Jolene, Jolene, Jolene
Please don’t take him even though you can
Jolene, Jolene 

Acho essa canção uma maravilha. É das poucas canções que já foram compostas no mundo que são mais politicamente incorretas que as de Lupicínio.

É uma canção que parece absolutamente sórdida, e na verdade é tão denunciadora de descaminhos. Foi regravada por um monte de gente importante. A estranha e fantástica norueguesa Susanna e sua orquestra mágica fez uma gravação de babar.

À primeira vista pateticamente machista, “Jolene” na verdade é o exato contrário disso.

Epa! Será que, no fundo, no fundo, Lupicínio, Nelson Gonçalves e os outros bregas todos eram também feministas?

Novembro de 2012

5 Comentários para “Jolene, a Outra”

  1. Jolene, Jolene, Jolene, Jolene
    Eu estou implorando de vocês, por favor não tome o meu homem
    Jolene, Jolene, Jolene, Jolene
    Por favor, não levá-lo apenas porque você pode
    Sua beleza é incomparável
    Com fechaduras flamejantes de cabelos ruivos
    Com pele de marfim e olhos de cor verde esmeralda
    Seu sorriso é como um sopro de primavera
    Sua voz é suave como chuva de verão
    E eu não posso competir com você, Jolene

    Ele fala sobre você em seu sono
    Não há nada que eu possa fazer para manter
    De chorar quando ele chama o seu nome, Jolene

    E eu posso entender facilmente
    Como você poderia facilmente levar o meu homem
    Mas você não sabe o que ele significa para mim, Jolene

    Jolene, Jolene, Jolene, Jolene
    Eu estou implorando de vocês, por favor não tome o meu homem
    Jolene, Jolene, Jolene, Jolene
    Por favor, não levá-lo apenas porque você pode

    Você pode ter a sua escolha de homens
    Mas eu nunca poderia amar novamente
    Ele é o único para mim, Jolene

    Eu tinha que ter essa conversa com você
    Minha felicidade depende de você
    E o que você decidir fazer, Jolene

    Jolene, Jolene, Jolene, Jolene
    Eu estou implorando de vocês, por favor não tome o meu homem
    Jolene, Jolene, Jolene, Jolene
    Por favor, não levá-lo, mesmo que você pode
    Jolene, Jolene

  2. Em matéria de dor de corno o cancioneiro brasileiro dá de 10. Apesar dos preconceitos contra o brega, Caetano veloso gravou uma maravilha de Fernando Mendes. Uma música que faz corno e não corno babar.

    “Agora, que faço eu da vida sem você?
    Você não me ensinou a te esquecer
    Você só me ensinou a te querer
    E te querendo eu vou tentando me encontrar”.

  3. Sérgio, Miltinho. No caso a seguir, não há explicitamente outro, mas alguém que não quer a separação. Pensando bem, nada a ver com o artigo do Sérgio. Aqui, sai o brega, entra o sublime. Desculpem, não resisti. Trechos:
    “Se nós nas travessuras das noites eternas
    Já confundimos tanto as nossas pernas
    Diz com que pernas eu devo seguir.”
    “Como, se na desordem do armário embutido
    Meu paletó enlaça o teu vestido
    E o meu sapato inda pisa no teu.”
    “Não, acho que estás te fazendo de tonta
    Te dei meus olhos pra tomares conta
    Agora conta como hei de partir.”

  4. De fato, Valdir, aí você foi do brega para o sublime…
    Um abraço.
    Sérgio

  5. Valdir, foi tiro certo. Realmente sublime. Cabe o registro, música Eu te amo de Chico Buarque e Tom Jobim, para o filme do mesmo nome de Arnaldo Jabor. Compositores que não são comparáveis aos bregas Odair,Lindomar e Wando.Dor de corno de Elite. Sublimes música e filme.

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