I met my old lover on the street last night.
Não sei se ela parecia tão feliz em me ver. Parecia, acho, um tanto curiosa.
Como eu, ela se lembrava bem de que fazia tempo não nos víamos. Fez as contas: oito meses. Oito meses, em 14 anos, contabilizou.
Perguntou da vida, e falei da Agência Estado. Me queixei suavemente, durante a sessão do aperitivo. Me sugeriu procurar emprego na Editora Globo; estão para lançar revistas.
No começo do jantar, perguntou dos amores, e falei de Mary. Relatei mansamente. Acho que fielmente.
Me contou, então, de seu namoro. Tem três meses, como o meu com Mary. Encontrou o que queria, neste momento da vida – um namoro calmo, tranqüilo, gostoso, que não aperta até sufocar.
Me deu carona até em casa, subiu para pegar um livro e um xerox de um texto de Borges que pendurei na cortiça e que ela, como eu, conheceu há pouco. Comentou depois, quando desci para acompanhá-la até o carro, que não imaginava que Mary estivesse na minha casa (Mary estava dormindo; trabalha bem cedo hoje), que o namoro dela não é tão íntimo quanto o meu.
Nos abraçamos de leve, suavemente, sem emoção.
Mary acordou quando deitei. Não fez pergunta sobre o jantar.
Acordei às 5 e meia da manhã com sede, ouvi “Still Crazy After All These Years” algumas vezes, e corri aqui pro violão, e a manhã está nascendo azul.
O texto é de 11 de setembro de 1990.
Passei por ele por puro acaso, quando procurava uma data para identificar velhas fotos. Achei bonito, pensei um publicar, não sei bem por quê. Saudade, talvez.
Sei é que “Still Crazy After All These Years”, que Paul Simon fez em 1975, é uma absoluta maravilha (aqui, a versão original ):
I met my old lover
On the street last night
She seemed so glad to see me
I just smiled
And we talked about some old times
And we drank ourselves some beers
Still crazy afler all these years
Oh, still crazy after all these years.
I’m not the kind of man
Who tends to socialize
I seem to lean on
Old familiar ways
And I ain’t no fool for love songs
That whisper in my ears
Still crazy afler all these years
Oh, still crazy after all these years
Four in the morning
Crapped out, yawning
Longing my life away
I’ll never worry
Why should i?
It’s all gonna fade
Now I sit by my window
And I watch the cars
I fear I’ll do some damage
One fine day
But I would not be convicted
By a jury of my peers
Still crazy after all these years
Oh, still crazy
Still crazy
Still crazy after all these years.
Linda memória. Ótimo texto!