Apresentando Yoani Sánchez ao Brasil

Faro jornalístico, assim como outros talentos, não se aprende em escola. Ou se tem, ou não se tem. Uns têm mais que os outros. Quando Sandro Vaia resolveu ir a Cuba entrevistar Yoani Sánchez, em julho de 2008, pouquíssima gente, por aqui, já havia ouvido falar nela.

Pois ele foi à ilha, com o propósito exclusivo de conversar com a jovem blogueira e em seguida escrever um livro, já combinado com a jornalista Lu Fernandes, da editora Barcarolla.

A Ilha Roubada foi lançado em maio de 2009.

Em 2011, dois dos três grandes jornais do país – O Estado de S. Paulo e O Globo – começaram a publicar artigos de Yoani Sánchez. Ela já era, então, uma figura bastante conhecida no Brasil.

Sandro e a Barcarolla anteciparam-se dois anos e meio aos dois jornalões.

Faro é faro.

E as pequenas embarcações têm muito mais agilidade que os porta-aviões, os transatlânticos.

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Em março de 2009, o livro quase já pronto para ir para a gráfica, Lu Fernandes me telefonou encomendando o texto para a orelha. Gelei – e bem que tentei recusar. Apresentei nomes de jornalistas importantes que poderiam assinar aquilo; na minha opinião, era tarefa para gente de nome, gente importante. Além do mais, era responsabilidade grande demais para mim: ao longo de quase 40 anos de jornalismo, Sandro foi meu superior, meu chefe, durante uns bons 30, no Jornal da Tarde, na revista Afinal, na Agência Estado, no Estadão. Jogador júnior não apresenta artilheiro do time principal.

Mas Lu foi inflexível.

E tive que encarar o desafio. Que é ainda maior porque exige concisão, texto enxuto, dizer muito em pouquíssimas linhas, parquíssimos toques, e meu texto é exatamente o contrário disso, é derramado, longo.

Mas tinha que fazer, e então fiz.

Não ficou lá grandes coisas. Ficou, seguramente, muitíssimo abaixo do livro que deveria apresentar.

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No primeiro lançamento de A Ilha Roubada, uma bela festa na Livraria Cultura do térreo do Conjunto Nacional, meu amigo Robson Pereira, que veio do Rio especialmente para a noite de autógrafos, brincou comigo que ia rasgar as orelhas do livro: “Tá reacionário demais!”.

Rimos muito com o comentário, no lançamento e na cachaça depois.

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Reacionário demais ou não, isso depende da opinião de cada um. Mas vejo agora que o texto que escrevi é velho, datado. Em 2009, quando Sandro Vaia lançou o livro apresentando Yoani Sánchez aos brasileiros, ela ainda era uma operária, uma formiguinha que, com outros dissidentes, iniciava o rompimento da muralha do medo em Cuba. Hoje ela é bem mais. O tempo realçou muito sua importância.

Hoje dá para ter a clara certeza: Yoani Sánchez será, sim, o nome de una hermosa plaza liberada de Havana. É só uma questão de tempo.

Janeiro de 2012

 

7 Comentários para “Apresentando Yoani Sánchez ao Brasil”

  1. Como o Sérgio escamoteou o texto da orelha, vejam como começa: “Há 120 organizações contrárias ao regime castrista, mas a voz oposicionista mais ouvida não tem conexão com nenhuma delas. Pertence a uma mulher de 33 anos, de pele clara, teimosa a toda prova e uma habilidade ímpar de expor com clareza, elegância e eficiência a inépcia de um regime que prometia a luz e distribuiu trevas.

  2. Caro Sergio

    Texto primoroso. Mas isso não é novidade :-)
    Adoraria ler o texto da orelha do livro. O aperitivo do post acima promete :-)

    Grande abraço, com a admiração e respeito de sempre.

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