Como um raio que nos enche de emoção, a paixão inesperada às vezes nos invade e revolve nosso coração, nosso corpo, nossa sensibilidade. Damos e recebemos choques que não machucam, apenas arrepiam, estremecem e alegram. Geralmente acontece com um casal que se revela em comunhão de sentidos. Mas pode ser um amigo que entra em nossa vida como uma dádiva, um irmão. Os primeiros momentos desse terremoto sentimental são indeléveis, impossível esquecer esse arrebatamento.
Pode ser a felicidade de ter nos braços, pela primeira, os filhos que o amor e a vida nos deram, esse sentir intransferível, inexplicável. Só quem passa pela mesma experiência pode entender. Os primeiros tempos de quem adquire a paternidade mudam a existência da pessoa, o que pode ser notado por todos, na rua, no trabalho ou em casa. E quem incorpora com força esses acontecimentos pode levar para sempre esse sentimento eterno de alegria, o que será muito bom para quem circula ao seu redor. Isso se acentua, mais tarde, com a chegada dos netos, motivo de inveja justa para quem não os possui.
Mas não é só nas relações pessoais que isso ocorre. Nunca fui o mesmo depois de bater de frente com a poesia. Drummond, Bandeira, Cabral, Lorca e tantos outros admiráveis autores, no instante primeiro da revelação que tomou conta de mim, me provocaram esse tipo de distúrbio benigno que o leitor tem diante do inusitado. O que mesmo se deu no dia em que vi o filme Oito e Meio, de Fellini. Essa luz que acende em nós a estrada da beleza artística permanece, ao longo nos anos, com seu clarear constante e não nos abandona, nos orienta.
É o que está acontecendo, nestes dias, com o Leo, talentoso amigo uruguaio, produtor musical preciso, exato, em suas escolhas. Acabou de nos oferecer, junto com seu parceiro, Ronaldo Bastos, o CD Liebe Paradiso, obra-prima irretocável, mas que toca os que amam a boa música popular do Brasil.
Leo está passando por um tempo de espanto. Por obra da quantidade de artistas que gravam no país e pelo mau gosto explícito dos nossos meios de comunicação, só agora, nestes dias, ele conheceu a obra de um compositor de qualidade rara, o nosso Tavinho Moura, de harmonias e melodias supimpas. Eletrizado por esse mundo novo que se abriu aos seus ouvidos, ele passa os dias e as noites ouvindo, apreendendo e buscando entender os mistérios do compositor mineiro. Imagino a felicidade dele, envolvido nessa viagem que é uma floresta de beleza e de uma diversidade incomum.
Acabei de lhe enviar o único CD que ele não tinha, O aventureiro do São Francisco, que tem parcerias com Gonzaguinha, Milton, Murilo Antunes, Márcio Borges e este humilde escritor de canções que lhes fala. As ideias devem estar fervendo na cabeça do Leo e daí certamente virá coisa boa, de espantar.
Esta crônica foi originalmente publicada no Estado de Minas, em abril de 2012.
SÃO MOMENTOS MÁGICOS QUE PASSAMOS E DEVEMOS APROVEITAR BASTANTE,POIS SÃO PERENES COMO TUDO NA VIDA.É A GRAÇA DO VIVER.