O Quinto Homem

A prova, onde está a prova?

A guerrilha virtual das milícias ideológicas na internet passou 12 dias atirando desesperados torpedos contra seu alvo ficcional preferido, a mídia golpista, tentando salvar da morte anunciada o ministro do Esporte Orlando Silva, que foi posto a agonizar publicamente na Esplanada dos Ministérios até o golpe de misericórdia ao cair da tarde da quarta-feira.

Difícil entender essa predileção quase sádica que o centro decisório do governo tem por prolongar a agonia pública de seus cadáveres políticos.

Deixar que o ministro fosse ao Congresso para falar sobre a Lei Geral da Copa exatamente no dia em que o Supremo Tribunal Federal aceitava um pedido do Procurador Geral da República para investigá-lo soou como uma inaudita maldade, quase uma falta de compaixão.

Quem quereria saber as opiniões de um ministro politicamente moribundo sobre um evento com o qual ele não tinha mais nada a ver?

A narrativa da militância dividiu-se em duas vertentes: a primeira, francamente decepcionada com a “fraqueza” da presidente Dilma, segundo seus intérpretes, impotente diante das “pressões da mídia golpista”, a quem teria se curvado covardemente; a segunda, insistindo no enredo da “falta de provas”, como se uma questão francamente politica fosse obrigada a seguir um script mais adequado à justiça criminal, uma instância a quem caberá entrar em cena no final do processo.

A gritaria desatinada simplesmente optou por ignorar a enxurrada de provas sobre o aparelhamento e o desvio de recursos do ministério para a mão (e os cofres) de ONGs suspeitíssimas e todas ligadas ao PCdoB, proprietário a porteiras fechadas de todas as instâncias do Ministério.

Os militantes insistiam na falta de provas de que o ministro teria recebido maços de dinheiro na garagem do prédio, como se a denúncia de malversação se resumisse a isso.

O ministro, eles achavam – e ainda acham – só poderia ser demitido se flagrado recebendo maços de notas.

Estranho critério de probidade. Todas as outras evidências apresentadas e documentadas pelos jornais, pela TV e pelas revistas e todas as provas amealhadas pela AGU e pelo TCU mostrando detalhadamente as fraudes nos convênios, não bastaram para os são tomés do PCdoB e seus aliados ocasionais do PT se conformassem com a demissão.

Nem mesmo o fato de que o denunciante do ministro, desqualificado como “bandido”, tenha sido favorecido por um segundo convênio quando o primeiro já estava sob investigação, conseguiu convencer os renitentes defensores do ministro de que havia algo de podre no reino da Dinamarca.

E lá se foi o quinto ministro indicado pelo ex-presidente Lula que a atual presidente foi obrigada a desalojar em apenas dez meses de governo.

Ele ainda conclamou os comunistas do B e o ministro a resistirem, para depois, diante das evidências do descalabro, sair discretamente de cena dizendo-se “enganado” pelos seus parceiros.

Apesar de todas as evidências de que o ME está sendo usado para engordar o caixa do partido, ele continuou nas mãos do PCdoB, por força do arranjo político de loteamento entre aliados que Lula implantou e Dilma não desmontou.

O fato de o novo ministro, Aldo Rebelo, ser dono de uma boa reputação moral não é garantia de que ele consiga desmontar o esquema que seu partido montou e do qual vem se locupletando.

Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 28/10/2011.

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