O mineiro e o minério

Vozes da cidadania me chamam e não posso ignorá-las. Quem anda pelas Minas Gerais se deslumbra com suas surpreendentes paisagens, pelas montanhas, rios e vales. E se enamora de sua gente simples, sábia, pronta para receber com simpatia todos os viajantes. Mas quem é daqui e observa há anos o que conosco se passa, esse batalhar sem fim pelo que é de interesse nacional e uma certa falta de jeito de exigir o que é devido à nossa terra e à nossa gente, o cenário não é tão belo assim.

Taí na cara de todos, todos os dias, o espetáculo mortal de BR -81, essa máquina de triturar brasileiros. Ou então o metrô de Belo Horizonte, obra iniciada há mais de 30 anos e, até hoje, mesmo sendo de superfície, o que é menos caro, não passa de um trenzinho vagabundo de quatro carros percorrendo míseros quilômetros. Será que dá inveja ver as estradas, metrôs e obras públicas federais de outros Estados ou o sentimento real deveria ser de vergonha?

Minas e sua natureza foram esburacadas e seus rios contaminados, nos tempos coloniais, quando se buscava freneticamente pelo ouro e pelo diamante. Embora a riqueza tenha sido levada para Portugal e perdulariamente gasta pelo reino ou transferida para a Inglaterra, algo daquela febre nos restou. É o que está na canção que fiz com Tavinho Moura, “ O Fruto do Ouro”:

“ o que ficou desse ouro depois de tanto suor, de tanta gente enterrada

na busca da riqueza? Para onde foi a glória, para onde o poder, se o

destino é um só: a eterna fortaleza?

ficaram casas, cidades, igrejas iluminadas, o desejo nas ladeiras e o sonho

dos homens, ficou o que foi escrito: as esculturas de pedra, a poesia e o canto,

o que ficou foi a cultura, que o povo hoje cultiva, carregando em seu andor,

sem saber que para tanto houve morte e muita dor.”

Mas o que nos restará da exploração de nosso minério de ferro e bauxita se nada for feito pelas autoridades e pelo povo mineiro, nos alerta o cidadão mineiro Paulo Rogério Lage?

Muito mais perversa que a exploração de petróleo em alto mar, que deve sim pagar royalties para compensar as gerações futuras, os malefícios da exploração do minério mineiro são, evidente, maiores. Ela destrói cidades, rios, estradas e montanhas. Lembrem-se do Pico de Itabira, cujo fim foi chorado por Carlos Drummond de Andrade. E da Serra do Curral, símbolo de nossa Belo Horizonte. As mineradoras têm de pagar a compensação pelo estrago que fazem e pelo minério que levam a preço de estrume de nosso país. O minério exportado deve pagar o dobro do minério que por aqui fica para se transformar em aço em nossas indústrias.

Vamos lá, mineiros: sempre é hora de defendermos os nossos direitos.

Esta crônica foi originalmente publicada no Estado de Minas, em novembro de 2011.

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