Para não servir gato por lebre, informo que este artigo resulta de experiências vividas em restaurantes médios da cidade, e em viagens. Aos freqüentadores dos Jardins, serve apenas como curiosidade.
São três tópicos, que publiquei em minha coluna no Carro Express, um jornal de Guarulhos, em 2002. Aqui vai o primeiro.
A bebida
O garçom vem com a garrafa de uísque, o copo e o dosador – tudo na bandeja. Despeja a bebida no dosador, onde cabe exatamente uma dose. Vira o dosador e a bebida cai no copo. Então coloca o copo na mesa e, de lambuja, dá um “choro”. Acaba de me aplicar o golpe do choro.
Quando serviu a dose, ele estava em pé, e eu sentado. Fica difícil ver quanto da bebida ele pôs no dosador. Mas dá para perceber: ele não encheu o dosador inteiramente. O que economizou no dosador, deu de “choro”. Portanto, não deu “choro” nenhum.
O preço do uísque nacionalizado, no cardápio, está muito alto, tão alto que encosta no do scotch. Já que é assim, o negócio é tomar o importado. Essa é uma forma esperta de a casa empurrar a bebida mais cara.
Em uma cantina de São Paulo, tomei uísque nacionalizado. Veio a conta. Nunca deixo de conferir a conta. Lá estava: preço de scotch. Reclamei, e ouvi a desculpa: “A moça da caixa é nova, se confundiu”.
Na noite seguinte eu estava no Rio. Pedi nacionalizado, veio a conta com preço de importado. “O rapaz é novo, se confundiu”, disse o garçom, trazendo a conta certa.
Nos restaurantes da Avenida Atlântica, no Rio, é comum colocarem a garrafa na mesa, quando você pede uma dose. A garrafa vem com a fita gomada que controla o consumo. Vinte risquinhos, igual a vinte doses. Só que a fita de algumas casas têm até 27 risquinhos. Se um grupo toma a garrafa inteira, pagará por 27 doses, embora só tenha consumido as 20 que cabem na garrafa.
Uma noite, num restaurante desses, pedi ao garçom que trouxesse o dosador. Voltou com a peça. Eu: “O que é isso?”. Ele: “O dosador”. Pedi o gerente. Ele veio, conversou e desconversou, acabou servindo direto no copo algo com cara de uma dose. Mais tarde, o garçom confidenciou: “O senhor tem razão, aquele dosador não é de uísque, é de licor”.
Numa famosa casa de Ribeirão Preto pedi Johnny Walker Red. Quando veio a conta o preço estava acompanhado de um discreto “B”. B de Black. Pedi o Red, segunda linha, estavam me cobrando o Black, primeira linha. Reclamei e o garçom ainda quis enrolar, disse que tinha servido o Black. Mas acabou trazendo a conta certa.
Examinei o cardápio de um restaurante de Passos, Minas Gerais, e disse para meu colega Élvio Romero, repórter-fotográfico: “O preço das bebidas está muito bom, na verdade bom demais.” Vem o garçom. Veja o diálogo:
– Meu amigo, a casa garante a qualidade destas bebidas?
– Não!
– Como não?
– O pessoal que vem aqui reclama demais. O senhor quer uma provinha?
– Não!