Meu amigo paulistano, nascido e criado na colônia italiana, me olha com olhos de espanto quando lhe digo, entre acertos e desacertos de um texto em que trabalhamos juntos, que fazer pão de queijo é tarefa bem mais fácil.
– O quê? Você sabe fazer pão de queijo?
– E não era pra saber?
– Não conheço ninguém capaz de uma proeza dessas. Posso te chamar em minha casa, um dia, e te pedir pra fazer?
Tento acalmá-lo, lembrando que ele está diante de uma mineira.
– E mineiros, às vezes, além do pão de queijo, fazem também o queijo, sabia?
– E você é um desses seres?
– Claro.
– Claro?
Meu amigo Edmir Perroti abandona os textos sobre os quais, há alguns dias, se debruça – nos debruçamos – com tanto empenho, e me olha como se me visse pela primeira vez:
– Tá legal, tá legal. Mas, explica aí, vai. Como é que se faz uma coisa dessas?
– Um queijo, você quer dizer?
Começo a dissertar sobre curral, vaca, balde, leite, coalho, soro, forma de madeira, caçamba, queijeira.
A cada nova informação, o espanto é tão sincero, tão paulistano, tão italiano, que, meio sem jeito, tento, mais uma vez, me justificar:
– Sou mineira da roça, esqueceu? Cresci vendo minha mãe fazer queijo, todo dia, todo dia, todo dia.
Ansioso, ele arrisca:
– E o que mais você viu, ou aprendeu, enquanto crescia?
Quase lhe conto que bem que meu pai fez duas ou três tentativas, mas não consegui aprender a tirar leite, coisa que a mãe dele – dizem – fazia muito bem.
As crônicas escritas por Vivina de Assis Viana para o Estado de Minas, entre 1990 e 2000, estão sendo republicadas pelo site primeiroprograma.com.br, graças a um trabalho de garimpo feito por Leonel Prata, publicitário, jornalista, editor, roteirista e escritor, um dos autores do livro Damas de Ouro & Valetes Espada (MGuarnieri Editorial). Com a autorização de Vivina e de Leonel, estou aproveitando o trabalho dele e republicando também aqui os textos.