O grande satã

Desde o escândalo do mensalão, habilmente transformado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em caixa 2, e, pouco depois, em uma trama das elites preconceituosas, o script adotado pelo lulo-petismo para livrar-se dos crimes que comete é sempre igual.

De início, nega-se a denúncia ou alega-se ignorância, o tal “eu não sabia”. Na cena seguinte, se coletiviza o delito: “afinal todo mundo faz”. Em seguida, garante-se a apuração rápida e a punição exemplar que, dita com o tom de “doa a quem doer”, nunca vem. E entregam-se cabeças quando a barra pesa.

É sempre assim, nunca muda. Mas nada é tão recorrente quanto jogar a culpa dos malfeitos na mídia.

Do filme de 2004 que expõe o ato de extorsão de Waldomiro Diniz às denúncias das propinas mensais regiamente ofertadas a parlamentares, feitas pelo então aliado Roberto Jefferson (PTB), tudo de ruim que acontece no seio do governo Lula foi e é engendrado pela grande imprensa.

Esse satã cuja única missão é impedir a eleição de Dilma Rousseff já no primeiro turno, ferindo o brilho do grand finale de Lula, o presidente mais popular que o país já teve.

Sendo assim, é da imprensa a responsabilidade da quebra do sigilo fiscal de milhares de brasileiros, entre eles os de familiares do candidato da oposição.

Como já era puro golpismo jornalístico a existência do caseiro Francenildo, arrombado em seu sigilo bancário por asseclas do então ministro Antônio Palloci, hoje um dos coordenadores da campanha de Dilma Rousseff. É também obra dos jornalistas anti-Lula as tramóias dos filhos da recém defenestrada ministra da Casa Civil Erenice Guerra.

Como a desfaçatez não tem mesmo limites, a grande imprensa é o mal em si só quando a conveniência assim o dita. E enche-se de credibilidade quando é para mostrar os feitos do governo.

Chega a ser patético ver os mesmos que criticam a mídia aplaudir o programa eleitoral de Dilma na TV. Ali, usa-se e abusa-se das manchetes do Estadão e da expressamente odiada Folha de S. Paulo, jornal que inspirou dilmistas digitais a fazerem pelo menos dois grandes movimentos orquestrados no twitter. Ainda que bem humorada, a mobilização “#meentrevistafolha” tem um só objetivo: tentar ridicularizar o jornal.

Há de se perguntar por que os marqueteiros da candidata oficial preferem usar manchetes da Folha às dos blogs governistas que se auto-intitulam como progressistas. Ou por que o coordenador da campanha de Dilma e assessor especial para Assuntos Internacionais do governo Lula, Marco Aurélio Garcia, prefere bradar raivosamente que a grande imprensa não deu bola para as denúncias da revista Carta Capital ao invés de usá-las.

Se a denúncia é quente, tem lastro e a revista tem crédito, por que não incluí-la nos mais de 10 minutos de horário gratuito que a candidata oficial tem na TV, corrigindo assim a danada da imprensa golpista?

Não o fazem porque não há lógica alguma que sustente o discurso da demonização da mídia. É só uma boa brincadeirinha que serve aos companheiros pagos e de cola para os militantes crédulos. Um falatório barato para dizer que a maléfica grande imprensa está a serviço de alguma força oculta, etérea, que o governo Lula adora chamar de elite.

Mas que elite? Emissoras de TV e de rádio, jornais e revistas de circulação nacional estariam, todas eles, conspirando contra o presidente? Agiriam contra Lula e sua candidata – que bate recorde atrás de recorde na arrecadação de campanha – os bancos, os grandes investidores estrangeiros e nacionais que se deliciam com as benesses do governo, nunca antes tão fartas?

Quais seriam mesmo as forças retrógadas a apoiar os jornalões e a grande imprensa, se os Sarneys, Collors e Jaders estão todos com Lula? Quais e quem seriam os beneficiários de uma derrota de Dilma?

Onde está esta gente tão poderosa que consegue financiar toda a mídia e ao mesmo tempo é tão incompetente que não é capaz de convencer mais de 4%?

A história não se faz em um mandato ou dois, muito menos em uma eleição. Mais cedo ou mais tarde corpos bóiam, crimes aparecem, máscaras caem. Afinal, como consagrou com toda a sapiência o presidente norte-americano Abraham Lincoln “pode-se enganar a todos por algum tempo, pode-se enganar alguns por todo o tempo, mas não se pode enganar a todos todo o tempo”.

Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat

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