Um belo rosto de mulher, com um cartaz nas mãos. Juliette Binoche chora, lágrimas rolam por sua face de atriz. Mas ela não está representando nenhum papel cinematográfico. Seu choro é real, vivo e de protesto pela prisão, nos porões do governo do Irã, do cineasta Jafar Panahi. A poesia das lágrimas femininas se contrapõe à brutalidade de governantes selvagens, que matam nas ruas e torturam em celas os cidadãos que defendem seus direitos em Teerã.
O protesto pacífico da musa comove e me leva a pensar em meus semelhantes massacrados pela brutalidade de bárbaros dirigentes espalhados pelo mundo.
Parece ser sina de todos os que chegam ao poder e não trazem em seu íntimo o sentimento de servir ao público com democracia. Democracia, palavra antiga e essencial, bela e pura quando realmente praticada, única forma política razoável de conviver com os nossos semelhantes, com nossas diferenças.
Somos iguais e diferentes, essa a grandeza da humanidade.
Calar as vozes dissidentes, dos que enxergam outros caminhos, e ouvir somente os que aclamam, é a regra do jogo em vários países. E me entristece perceber que, por acomodamento ou dogma, muita gente boa que lutou e protestou por causas justas, que arriscou sua segurança e sua vida para que nos livrássemos de uma ditadura, não tenha olhos para ver o abuso praticado pelos variados regimes, não ouça o grito de desespero dos presos políticos encarcerados pela direita e pela esquerda. Se é que esses conceitos resistem ainda ou são utilizados somente para escamotear necessidades partidárias e de mando.
Bebo nos versos de Cecília Meireles.
“ Liberdade – essa palavra
que o sonho humano alimenta:
que não há ninguém que explique
e ninguém que não entenda.”
Saio de casa para respirar um pouco o ar gostoso dessa manhã de inverno. Há sempre um sol em nosso inverno, um céu azul, uma vontade de deitar na rede e meditar nas pessoas e coisas da vida. Preciso manter aceso o pensar e o sentir. Não me acostumar com os recados vindos dos novos e dos velhos meios de comunicação, convites para me afogar na multidão de informações inúteis, aceitar tudo o que diz a propaganda e o marketing, concordar que o país e o mundo seguem seus cursos e não há nada a fazer para modificá-los.
Sou apenas um homem, mineiro e brasileiro, que continua acreditando na poesia, na amizade, no afeto, na justiça, na democracia e nas três palavras irmãs, que definem o que entendo por civilização: liberdade, igualdade e fraternidade. Sou teimoso.
Abril de 2010. Esta crônica foi originalmente publicada no Estado de Minas