alguém me tocou no ombro. acordei cheio de suor.
você está tendo um pesadelo? não pára de roncar e de chiar!, falou meu pai.
sentei-me na cama.
acho que sonhei. o barulho era muito feio?
pô!, eu fiquei até com medo! falou o menino.
de repente os três soltamos fortes gargalhadas.
será que falta muito pro dia?, perguntei.
você ontem não cantou pra eu dormir, falou o menino.
não reparou que eu pus um disco?
qual?
o carnaval, de Schumann.
ah… e falou a seguir:
será que falta muito pro dia?
há um morcego voando no cômodo lá em baixo. o velho.
uau! vou ficar com a cabeça coberta.
não tenha medo, filho. é um morceguinho que mora atrás do espelho.
ele vive aqui dentro?
sim! amanhã eu te mostro.
deitados, tentamos dormir de novo. mas apenas nos mexíamos dentro da mesma insônia.
será que falta muito pro dia?, perguntou o velho.
o silêncio e o calor das cobertas foram aquietando nossos corpos. tentava fixar a atenção em algo, mas, tal houvesse uma figura dentro da minha cabeça, e não um pensamento, a forma dançava lenta ante meus olhos e se desmanchava num tipo de vácuo. fiz um tremendo esforço e pedi:
filho, fale mais dos homens.
e ele:
A Espécie Humana, romance de Jorge Teles, está sendo publicado em capítulos.
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