Não sabia da Dona Diva, mas acompanho com atenção, há muito tempo, o filho dela. Erasmo Carlos é uma unanimidade para quem o conhece, mesmo de longe.
No aeroporto compro sua biografia. Abro o livro e num instante estou viajando, sorrindo, pelas alegres estripulias de sua vida. Menino criado pela mãe no bairro da Tijuca, cresceu vendo-a trabalhar em três horários para sustentá-lo. Não entro em detalhes, apenas provoco quem esteja disposto a passar horas agradáveis na companhia das histórias do Tremendão.
O que me atraiu particularmente no desenrolar do livro foi o nascimento de uma turma de garotos de classe média baixa, vidrados em rock, que aos poucos foram construindo, além de uma carreira de sucesso, uma forte amizade que, fincada no coração, não os abandonou nunca. Roberto, Erasmo, Jorge Ben e Tim Maia certamente não imaginavam, naquele tempo de juventude, até onde chegariam.
Eu também tive minhas turmas e também construí amigos para toda a vida. Antes do pessoal da música, convivi com meninos que pouco ligavam para as coisas da cultura e, com esses, passei por aventuras semelhantes. Por exemplo, beber cachacola, bebida intragável, antes de criar coragem para entrar nos bailes de carnaval. Molecagens existem que são universais e não machucam ninguém, apenas perturbam os mais velhos impacientes.
Gosto muito dessas histórias de amigos. Carrego comigo sentimentos fraternos correspondidos que me ajudam a ser um passageiro alegre da existência.
Sem amores e amigos não dá.
Ao ler o depoimento, sincero e bem-humorado do amigo e irmão camarada de Roberto Carlos, revela-se humanizada a trajetória desses hipnotizadores de multidões. Nenhuma fofoca, nenhum mistério, nenhuma jogada mercadológica. Apenas dois jovens que se conheceram no subúrbio carioca e, por força da afinidade e do destino, ganharam o mundo da música e embalaram sonhos de milhões de brasileiros.
A história de minha amizade com o Milton Nascimento e toda a nossa turma não é igual, mas guarda semelhanças. Há uma sintonia que passa pelo afeto e pela música. “O que importa é ouvir a voz do coração”.
E essa é a voz que se ouve quando se mergulha no testemunho de Erasmo.
Ele, assim como Milton e Roberto, brasileiros talentosos, que venceram condições econômicas adversas e conquistaram um lugar privilegiado na alma e no sentimento de todos nós.
Findo o livro, fecho-o e sigo leve, descendo ao sol da tarde, na sombra, pela Rua Santa Rita Durão. Vou distraído. Na esquina me encontro, ó felicidade, com a Isabel da Teresa do Tavinho Moura. Do carrinho, seis meses de vida, ela me sorri. Ganhei meu dia.
Esta crônica foi publicada no Estado de Minas.
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