Telefone

Paulo discou o número – logo atenderam. Pediu para chamá-la – pediram-lhe para esperar.

Está bem.

Talvez ela tivesse saído. Com quem? com uma amiga, ou um amigo; afinal, será que a diferença é tão importante? Talvez fosse. Talvez realmente ela estivesse com um amigo. Poderiam estar conversando – se descobrindo; ela poderia estar feliz. Feliz sozinha. Não, com outra pessoa. Comparando as felicidades. E, por que não?, concluindo que a nova era maior. Que Paulo não era o melhor. Que não era ele que ela esperava. Bom, e daí? daí run for your life, minha cara, ciao.

Porque, enfim, somando membro a membro as cargas positivas e negativas de felicidades e desesperos, fés e tédios, amores e silêncios, pensamentos e barulhos, o resultado total seria mesmo um sério, compenetrado, bem nutrido zero. E este zero não traz desespero algum – pra quê?

Pode sair com quem você quiser, menina; acreditar que ama seja lá quem for; dormir com qualquer um. Não faz absolutamente diferença alguma. Dia ou noite, calor ou frio, vida ou morte, você ou chifres, é tudo a mesma coisa.

– Alô – disse uma voz.

Voltou a sentir sangue nas veias – sentiu o rosto não mais tão quente –, afrouxou o fone e chegou a sentir dor nos nós dos dedos.

Ouviu a voz repetir o chamado, fechou os olhos e, durante um segundo, desejou acreditar.

 A historinha por trás do texto

 Encontrei, agora em 2009, remexendo nos papéis pensando neste site, duas folhas de caderno com o mesmo texto acima; provavelmente escrevi o texto em casa, levei para a aula e copiei para entregar como redação na aula de Português – que devia ser tema livre. Estava no 3º ano do que se chamava Ciências Sociais no Colégio Estadual do Paraná; havia Ciências Exatas, Ciências Biológicas e Ciências Sociais, no que na época, 1967, era chamado de colegial, e depois virou ensino médio.

Não mudei uma palavra do original.        

Como texto, é uma grande merda, é claro. Mas eu já sabia, aos 17 anos – é o que dá para ver hoje –, juntar palavras. Resolvi botar no ar para que o título do site não fique muito longe da verdade.

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