Quatro aviões para derrubar uma ditadura e impor uma Constituição? Era do que dispunham os revolucionários de 1932, logo após 9 de julho – há oitenta anos. Logo, dois aviadores governistas, que aderiram à Revolução, chegaram do Rio de Janeiro, Capital do País, cada um pilotando um avião. A esquadrilha rebelde subiu para seis unidades, sem contar meia dúzia de pequenas aeronaves particulares, cedidas por seus proprietários. Tal era o poderio dos Gaviões de Penacho, como chamavam a si.
A aviação do governo Vargas tinha 58 aviões. Muitos pintados de vermelho, o que deu a todos o apelido de Vermelhinhos. Com o correr dos conflitos, Vargas comprou 36 aviões Wacon, nos Estados Unidos, mas só houve tempo para a montagem de dez. Os rebeldes fizeram o mesmo, e receberam dez Curtiss Falcon. Modernos, faziam fogo picado: o avião descia a grande velocidade, em ângulos de 60 a 70 graus em relação ao solo.
Durante o conflito, Gaviões de Penacho e Vermelhinhos protagonizaram cenas de Primeira Guerra Mundial, nos céus paulistas. E atacaram alvos, para impedir avanço de tropas, ou destruir aviões do adversário em suas bases. No oitavo dia do conflito, 16 de agosto, os governistas atacaram o Campo de Marte, principal base rebelde, sem contudo produzir grandes estragos.
O episódio que provocou maior comoção entre os constitucionalistas ocorreria no dia 24 de setembro. O estudioso da Revolução Ricardo Della Rosa foi ao Rio, entrevistou parentes dos dois principais protagonistas e trouxe fotos. Ricardo mantém o blog Tudo Por São Paulo – 1932 (http://tudoporsaopaulo1932.blogspot.com.br/).
Na manhã de 24, o tenente Mário Machado Bittencourt e o tenente-aviador João Gomes Ribeiro apresentaram-se ao seu superior, no Campo de Marte, para receber uma missão. Mário era um advogado recém-formado, 23 anos, que fugira de barco de seu Rio de Janeiro natal, e caminhara quilômetros a pé, para se apresentar em São Luiz do Paraitinga, no Vale do Paraíba, e aderir à causa paulista.
Amante da aviação, participou de várias ações aéreas, como observador de bordo. Estava em um dos aviões rebeldes que, cinco dias antes, haviam destruído cinco Vermelhinhos em Mogi Mirim. Seu trabalho valeu-lhe elogios e o posto de primeiro tenente.
João Gomes Ribeiro, filho de general, 31 anos, pai de um menino, também nascera no Rio. Como Mário, viera a São Paulo aderir aos constitucionalistas. Arrojado, não dava atenção aos colegas, que lhe pediam mais prudência nos ataques com seu avião.
A missão era bombardear o cruzador Rio Grande do Sul, fundeado à entrada do porto de Santos. O navio governista impedia que os revolucionários recebessem indispensáveis armas e suprimentos de guerra. Também bloqueava a entrada e saída de produtos comercializados pelos empresários, com sérios danos para a economia do Estado.
Mário Bittencourt e João Ribeiro decolariam em um dos novos Curtiss Falcon, batizado Kavuré-Y. Outra dupla, o major Lysias Rodrigues e Abilio Pereira de Almeida, voariam também em um Curtiss Falcon, o Kyri-Kyri; e uma terceira, com Motta Lima e Hugo Neves partiriam em um Waco pintado de verde.
A ação estava traçada. A esquadrilha faria um primeiro bombardeio, e depois aterrissaria em um campo, na Praia Grande, para se reabastecer de munição e voltar ao ataque. Os rebeldes decolam de Marte e partem para o litoral. Na Baía de Santos, identificam o alvo. O Rio Grande do Sul está a vista. O Kavuré-Y manobra, desce a pique para iniciar o bombardeio e… explode. Em uma fração de segundo, é uma bola de fogo que cai no mar, ao lado da Ilha da Moela.
O avião provavelmente foi abatido por fogo antiaéreo, mas sempre se cogitou de outra hipótese, a de um incêndio no motor. Os corpos de Mário Machado Bittencourt e João Gomes Ribeiro jamais foram encontrados. Acharam-se uns poucos destroços do Curtiss Falcon (a hélice está no Museu Maria Soldado, na Lapa).
Oito dias depois, 2 de outubro, o conflito estava encerrado. Os paulistas rendiam-se. Haviam iniciado a Revolução contando com o apoio de Minas Gerais, Mato Grosso e Rio Grande do Sul, mas estes Estados acabaram por se manter fiéis à ditadura Vargas. Sem aliados, os paulistas enfrentaram Vargas sozinhos.
Dois anos depois, promulgou-se a Constituição de 1934.
Durante o conflito, em 23 de julho, Santos Dumont se suicidou, em um quarto do Grand Hotel La Plage, no Guarujá. Uma das hipóteses para o gesto é que o Pai da Aviação estava desgostoso por ver seu invento ser usado por brasileiros para matar brasileiros. Ele não deixou carta, por isso nada se pôde comprovar.
9 de julho de 2012.
As fotos foram cedidas pelo blog Tudo Por São Paulo – 1932.
Esclareço que o tio que participou da Revolução de 32 e que morreu pela constituinte não foi o tio João Gomes Ribeiro Neto e sim o Tio José Ângelo Gomes Ribeiro que deixou um filho com 1 ano ( meu primo mais velho)Carlos Roberto Gomes Ribeiro.
Respeitosamente.
Eng. João Gomes Ribeiro Neto filho do Major Brigadeiro Attila Gomes Ribeiro que tb lutou por São Paulo com seus amigos do colégio Militar do RJ
Não foi o Tio João Gomes Ribeiro que morreu na Revol.de 32 e sim o Tio José Ângelo Gomes Ribeiro.Respeitosamente Eng Joao Gomes Ribeiro Neto,filho do Brigadeiro Attila Gomes Ribeiro que tb participou por SP