Eu estava ali, avô, entre as prateleiras da loja de brinquedos. Tinha um objetivo: comprar algo que fosse do agrado da Clara e do Lucas. Mas viajei pra longe no tempo, indo parar na contemplação de jogos que nem existem mais. Continue lendo “A criança e o brinquedo (segunda parte)”
A multidão unânime
“Não troque o certo pelo duvidoso!”
Essas são palavras do maior e mais experiente palanqueiro que este país já viu. Quando se trata de escolher em quem votar, concordo inteiramente com Lula. Aliás, devo essa lição a ele. Votei no novo em 2002. Continue lendo ““Não troque o certo pelo duvidoso!””
A luta pelo cérebro vermelho
Quando o eloquente Adlai Stevenson disputava a presidência dos EUA com Dwight Eisenhower, uma mulher entusiasmada disse ao candidato Democrata, depois de um comício: “Todo ser pensante vai votar em você”, ao que Stevenson supostamente respondeu: “Senhora, isso nao é suficiente. Preciso da maioria”. Continue lendo “A luta pelo cérebro vermelho”
Não existe esse troço de melhor filme de todos os tempos
Cidadão Kane é o melhor filme jamais feito. Durante meio século, essa verdade foi martelada na nossa cabeça. Recentemente, surgiu uma lista, vinda da Inglaterra, que subvertia essa verdade meio-secular: Um Corpo que Cai, sim, é o melhor filme que jamais foi feito. Continue lendo “Não existe esse troço de melhor filme de todos os tempos”
No clichê abaixo…
Adoro a expressão: “No clichê acima, um aspecto de…” tal e tal coisa.
Coisa antiquíssima. Pouquíssima gente hoje sabe o que isso significa; pode-se até dizer ninguém, no lugar de pouquíssima gente. Continue lendo “No clichê abaixo…”
A criança e o brinquedo (primeira parte)
Dia das crianças, dias das mães e dos pais, dia do índio, dia da mulher, dia do negro. Uns foram criados pelo comércio, ávido de aumentar seu faturamento. Outros lembram lutas centenárias. Mas confesso não assimilar bem essas efemérides. Continue lendo “A criança e o brinquedo (primeira parte)”
A luva branca
Usava luvas. E, filho de mãe de origem francesa, uma desiludida bengala aristocrática. Escrevia tão bem como se vestia. Uma elegância céptica em cada frase. Um elaborado ritmo descritivo que sugere acção e intriga onde acção e intriga quase não existem. É preciso talento. E combinar bem tumultuosos substantivos com discretos adjectivos. Continue lendo “A luva branca”
O bocejo das urnas
Para quem se dedica a olhar o mundo pelo universo das redes sociais, ou até mesmo da imprensa convencional, o segundo turno das eleições, principalmente as de prefeito de São Paulo, parece antecipar a batalha do Armageddon – o conflito final. Continue lendo “O bocejo das urnas”
Duas semanas sem As Más Notícia
Nesta sexta-feira, 19, e também na próxima, 26, o 50 Anos de Textos deixa de publicar As más notícias do país de Dilma. Continue lendo “Duas semanas sem As Más Notícia”
Os com-moral
Derrotado no primeiro turno por Paulo Maluf, por 32,2% contra 22,9%, e com apenas 70 mil votos de frente sobre a terceira colocada Marta Suplicy, em 1998, Mario Covas virou o jogo e se reelegeu a partir de um mote único: moral. Continue lendo “Os com-moral”
Sai a gentileza, voltam os abutres
Existem pessoas que odeiam os autores, os criadores de arte. Penso que andava distraído ou poetando, pois não me dava conta desse fato. Talvez por ligar esse sentimento negativo às ditaduras, que não suportam o pensamento livre, as opiniões diversas das suas. Continue lendo “Sai a gentileza, voltam os abutres”
Três balas e uma laranja
Enterremos hoje os nossos sonhos como ontem Michael Corleone enterrou os dele. Foi no primeiro, o mais perfeito The Godfather. Don Vito Corleone já fora baleado antes. Ouvira-se o barulho seco dos tiros e o Padrinho dançara hesitante, um pé a fugir ao outro, o vulto patriarcal a tombar sobre uma banca da fruta e legumes. Duas, talvez três balas no corpo, e uma laranja a rolar no cansado alcatrão. Continue lendo “Três balas e uma laranja”
O bêbado moderado
Ele foi ao bar beber com moderação. Com moderação, tomou a primeira, a segunda, a terceira. Moderadamente, pediu a quarta, a quinta, a sexta. Cada vez mais moderado, encheu a cara. Continue lendo “O bêbado moderado”
Alegria sem graça
Estava muito alegre ao abrir o jornal ontem e ver aquela série de fotos de todos os condenados pelo STF, com os crimes cometidos por eles bem explicados ao lado, quando então fui tomada por um sentimento de tristeza e desânimo acentuado. Continue lendo “Alegria sem graça”