A luva branca

Usava luvas. E, filho de mãe de ori­gem fran­cesa, uma desi­lu­dida ben­gala aris­to­crá­tica. Escre­via tão bem como se ves­tia. Uma ele­gân­cia cép­tica em cada frase. Um ela­bo­rado ritmo des­cri­tivo que sugere acção e intriga onde acção e intriga quase não exis­tem. É pre­ciso talento. E com­bi­nar bem tumul­tu­o­sos subs­tan­ti­vos com dis­cre­tos adjectivos. Continue lendo “A luva branca”

O bocejo das urnas

Para quem se dedica a olhar o mundo pelo universo das redes sociais, ou até mesmo da imprensa convencional, o segundo turno das eleições, principalmente as de prefeito de São Paulo, parece antecipar a batalha do Armageddon – o conflito final. Continue lendo “O bocejo das urnas”

Os com-moral

Derrotado no primeiro turno por Paulo Maluf, por 32,2% contra 22,9%, e com apenas 70 mil votos de frente sobre a terceira colocada Marta Suplicy, em 1998, Mario Covas virou o jogo e se reelegeu a partir de um mote único: moral. Continue lendo “Os com-moral”

Três balas e uma laranja

Enter­re­mos hoje os nos­sos sonhos como ontem Michael Cor­le­one enter­rou os dele. Foi no pri­meiro, o mais per­feito The God­father. Don Vito Cor­le­one já fora bale­ado antes. Ouvira-se o baru­lho seco dos tiros e o Padri­nho dan­çara hesi­tante, um pé a fugir ao outro, o vulto patri­ar­cal a tom­bar sobre uma banca da fruta e legu­mes. Duas, tal­vez três balas no corpo, e uma laranja a rolar no can­sado alcatrão. Continue lendo “Três balas e uma laranja”

Alegria sem graça

Estava muito alegre ao abrir o jornal ontem e ver aquela série de fotos de todos os condenados pelo STF, com os crimes cometidos por eles bem explicados ao lado, quando então fui tomada por um sentimento de tristeza e desânimo acentuado. Continue lendo “Alegria sem graça”

O trem supersônico

Êta trem bão. Desde que trocou Arraialzinho por Belo Horizonte, Marquinho sempre deu um jeito de se dar bem. Agora havia voltado para, como disse, “assumir a prefeitura”. Cada vez que um morador falava “Êta trem bão”, repetia o slogan da campanha do candidato. Continue lendo “O trem supersônico”

“Do you ever read the books you burn?”

A pergunta é feita por uma das duas personagens interpretadas por Julie Christie, a musa, a deusa, ao protagonista da história, o bombeiro-queimador de livros feito por Oskar Werner, em seu segundo filme sob a batuta de François Truffaut, apenas quatro anos após Jules et Jim. Continue lendo ““Do you ever read the books you burn?””