Quando cheguei a Roraima, em fevereiro de 1984, o então território federal tinha como governador o general Arídio Martins de Magalhães, indicado pelo Ministério do Interior e nomeado pelo presidente da Republica. A polarização política se dividia entre o PDS e o PMDB. Continue lendo “O dia em que Joãozinho conheceu o doutor Ulysses”
Venezuela cerrada, Guiana open
LETHEM, REPÚBLICA DA GUIANA – O motorista de primeira viagem estranha ao dar de cara com a mudança logo depois da ponte Olavo Brasil, construída sobre o Tacutu, rio que demarca a fronteira entre Brasil e a Guiana. No fim da cabeceira, dentro do território guianense, o trânsito muda de mão, com tráfego pela esquerda, coisa que a grande maioria dos roraimenses (e dos demais brasileiros) só conhece pela TV e pelo cinema. Continue lendo “Venezuela cerrada, Guiana open”
Cerrado. Gracias y adiós
SANTA ELENA DE UAIRÉN, VENEZUELA – As ruas desta pequena cidade venezuelana, a primeira depois da fronteira, já não são mais o calçadão de milhares de roraimenses, a maioria dos frequentadores dos seus supermercados e de todo tipo de loja. A grande variedade de produtos importados, que faziam a festa dos que se aproveitavam dos preços e das facilidades do comércio formiga, sumiu. Principalmente os itens básicos de alimentação, higiene e limpeza, agora proibidos para os estrangeiros. Continue lendo “Cerrado. Gracias y adiós”
Viagem ao inferno bolivariano
Quem conheceu a Venezuela há 30 anos não a reconhece hoje, tamanhas e tão profundas são as mudanças na vida do país. Quando atravessei a fronteira pela primeira vez, o petróleo, cotado a preços estratosféricos, carreava bilhões de dólares para os cofres do governo e garantia uma fartura de produtos que chegavam do mundo todo. As importações só não eram maiores que a exportação do óleo cru que jorrava – e ainda jorra – das maiores reservas mundiais que se espalham pelo subsolo. Continue lendo “Viagem ao inferno bolivariano”
O menino, o benzedor e a galinha preta
Nasci em Nova Europa, região central do Estado de São Paulo, mas ainda recém-nascido fui levado por minha mãe para a Mombuca, uma seção da Fazenda Guatapará, um enorme latifúndio de 17 mil hectares espalhados pelo município de Ribeirão Preto, onde passei parte da minha infância convivendo com as sequelas da pólio. Continue lendo “O menino, o benzedor e a galinha preta”
Ser pé-de-cana é direito de todo cidadão
Roraimense é pé-de-cana como qualquer brasileiro que goste de uma abrideira, aca, aço, a do ó, água-benta, água-bruta, água de briga, água de cana, água que gato não bebe, água que passarinho não bebe, aguardente, aguarrás, águas de setembro, alpista, aninha, arrebenta-peito, assovio de cobra, azougue, azuladinha, azulzinha, bagaceira, baronesa, bicha, bico, birita, boa, borbulhante, boresca, branca, branquinha, brasa, brasileira… Continue lendo “Ser pé-de-cana é direito de todo cidadão”
Eu, Pierre Trudeau e o tuxaua Lourival
Assim que desembarcou em Boa Vista, em setembro de 1988, o ex-primeiro-ministro do Canadá, Pierre Trudeau, me ligou pedindo para que eu o assessorasse por aqui. Levei um susto, pois nem sabia que ele viria ao território. Fui informado de que consultara alguém do Estadão – não disse exatamente quem – para saber quem era o correspondente em Roraima, pois queria que o acompanhasse na visita a uma aldeia indígena. Continue lendo “Eu, Pierre Trudeau e o tuxaua Lourival”
O assalto ao Banco Itaú
No início de 1980 passei a dividir a chefia de Reportagem Geral do Estadão com José da Silva (nome fictício), um dos sujeitos mais agitados que conheci. Na mesma época, por indicação do Faustão, então repórter esportivo, fui chefiar a Reportagem do sistema Globo de Rádio (Globo AM e Excelsior FM), que alimentava dois radiojornais. Continue lendo “O assalto ao Banco Itaú”
O santeiro e o galo voador
Não sei bem em que ano foi precisamente, mas sei que foi lá pelo começo dos anos 50, disso tenho certeza. No terreirão que separava a frente da nossa casa da estrada, minha família costumava montar uma fogueira de mais de três braças e erguer um mastro no 23 de junho, véspera de São João. Continue lendo “O santeiro e o galo voador”
O amestrador de rola-bosta
O Cotingo herda o Uailan, de curta distância entre seu nascedouro no monte Roraima e as fraldas da cadeia de montanhas do maciço das Guianas, e desce cortando o lavrado em busca do Surumu, já em terras de Pacaraima. Continue lendo “O amestrador de rola-bosta”
Alma penada na fazenda do Rockfeller
A pequena floresta, que me disseram ser encantada, empurrada pelos canaviais em direção às barrancas do Rio Jacaré, já não guarda mais os mesmos mistérios dos anos 40 do século passado. Mas quando a vi pela última vez, lá pelos idos dos anos 80, ela fez minha imaginação viajar na garupa de velhas lembranças trazidas da primeira infância. Continue lendo “Alma penada na fazenda do Rockfeller”
A promessa
As tempestades de setembro já eram poucas e esparsas, anunciando o fim do inverno amazônico. A passarada espalhava-se pela mata, onde fruteiras generosas ofereciam abundância e variedade capazes de alimentar bandos e bandos de araras, papagaios, jandaias, tucanos, sabiás, assanhaços e tantos outros da vasta fauna que habita o extremo norte. Continue lendo “A promessa”
Macaco!!!, macaco!!!, macaco!!!…
No embalo de mais uma ofensa racista entre as muitas que têm ocorrido nos campos de futebol do Brasil e mundo afora, esta última, a de torcedores do Grêmio contra o goleiro santista Aranha, me leva a viajar no tempo para resgatar um episódio que testemunhei há uns 20 e tantos anos. Ele me serve para mostrar como nem sempre as coisas são como nossos olhos vêem e nossos ouvidos escutam. Continue lendo “Macaco!!!, macaco!!!, macaco!!!…”
A viagem do Dr. Antônio
Causou-me profunda tristeza a morte, no domingo à noite, aos 86 anos, do cidadão brasileiro Antônio Ermírio de Moraes. Foi a perda de um ser humano que fez parte da minha vida, mesmo sendo ele um dos mais destacados empresários do país e eu apenas um modesto jornalista. Continue lendo “A viagem do Dr. Antônio”
A madrugada em que a onça bebeu água
Conheci ainda na infância uma fazenda, a Santa Olímpia, ligada à vila de Guatapará por uma estrada margeada pela mata fechada. Nela, ao passar por uma clareira dava ainda para a gente ver as marcas do primeiro cemitério da região. Por causa dele ninguém se aventurava a andar por ali à noite, pois os mais velhos contavam que nas chamadas horas mortas as almas saiam ao relento acompanhadas dos esturros de uma onça pintada. Continue lendo “A madrugada em que a onça bebeu água”