É preciso julgar o genocida golpista

Assim como milhões de brasileiros, os editorialistas de O Estado de S. Paulo estão perdendo a paciência com o capitão genocida e golpista e seu desgoverno:

“O Brasil chegou ao ponto em que é urgente deixar de dar ouvidos ao que diz o presidente da República. Jair Bolsonaro se tornou em si mesmo um ruído que desnorteia os brasileiros sobre como devem se comportar diante da pandemia de covid-19, que no momento mata mais de 3 mil pessoas por dia no País. (…) Enquanto Bolsonaro tiver poder para atrapalhar, a única comunicação eficiente, infelizmente, será a dos óbitos.”

Assim como milhões de brasileiros, os editorialistas de O Globo estão perdendo a paciência. O tom de irritação sobe algumas oitavas:

“O Brasil precisa urgentemente de um norte na pandemia. Não se pode ficar assistindo à escalada macabra, rezando para que um dia o horror tenha fim. Qual é o limite da insensatez? Por enquanto, a única luz que desponta é a dos refletores instalados nos cemitérios para permitir sepultamentos noite e dia.”

Assim como milhões de brasileiros, os melhores jornalistas do país estão perdendo a paciência. Não conseguem mais conter a irritação com os absurdos do capitão genocida e golpista e seu desgoverno. Como Fernando Gabeira, por exemplo, em seu artigo no Estado:

“Não se trata apenas de governabilidade num momento qualquer, mas durante uma pandemia de que o Brasil é o epicentro mundial, campeão indiscutível em número de mortos. Um presidente incapaz, entregue no campo político à voracidade dos seus aliados do Centrão, buscando de todas as maneiras sabotar a luta contra a pandemia – tudo isso compõe um cenário desolador, sobretudo porque a sociedade está reduzida, no momento, a protestos virtuais. Cedo ou tarde, julgaremos Bolsonaro.”

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Fernando Gabeira mais uma vez tem toda razão: cedo ou tarde, Bolsonaro será julgado. No futuro, com toda e absoluta certeza, pela História. Nos dias de hoje, pela imprensa, tanto a brasileira quanto a internacional – a cada semana charges, editoriais e artigos mundo afora mostram Jair Bolsonaro como sério candidato ao posto de pior líder de todo o mundo no enfrentamento da Covid, como fez por exemplo o Washington Post.

(Na reprodução, artigo no site do Washington Post: “Que líder mundial tem o pior recorde na pandemia? A competição é dura.”)

Mas será julgado também pela Justiça, em tribunais, que, diferentemente da História e da imprensa, estipulam penas.

Mais cedo ou mais tarde ele será julgado pelo Tribunal Penal Internacional da Haia.

E será julgado também pelo Congresso, em conjunto com o presidente do STF, em processo de impeachment. Mais cedo ou mais tarde.

Milhões de brasileiros esperam que seja mais cedo.

Até porque, se o Congresso, mais especificamente a Câmara dos Deputados, mais especificamente o presidente da Câmara, deputado Artur Lira, não julgarem Bolsonaro, serão eles julgados – pela História, pela imprensa e, em especial, pelos eleitores.

Abaixo estão as íntegras dos editoriais do Estado e do Globo e do artigo de Fernando Gabeira, todos publicados nesta sexta-feira, 2/4.

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Ignorem o presidente

Editorial, O Estado de S.Paulo, 2 de abril de 2021

O Brasil chegou ao ponto em que é urgente deixar de dar ouvidos ao que diz o presidente da República. Jair Bolsonaro se tornou em si mesmo um ruído que desnorteia os brasileiros sobre como devem se comportar diante da pandemia de covid-19, que no momento mata mais de 3 mil pessoas por dia no País (ver abaixo o editorial O quadro da pandemia).

Nenhum esforço de comunicação no sentido de orientar corretamente os cidadãos a respeito das medidas de prevenção será bem-sucedido enquanto o chefe de governo continuar contrariando as mensagens das próprias autoridades federais mobilizadas contra o vírus, reunidas no chamado Comitê de Coordenação Nacional para o Enfrentamento da Pandemia de Covid-19.

Esse comitê realizou na quarta-feira passada sua primeira reunião formal. A lista de participantes mostra a importância que se pretende dar a essa iniciativa. Estavam presentes o presidente Bolsonaro, os presidentes da Câmara, Arthur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco, os ministros da Saúde, Marcelo Queiroga, das Comunicações, Fábio Faria, da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marcos Pontes, e da Secretaria de Governo, Flávia Arruda, além de representantes do Ministério da Justiça, do Judiciário e do Ministério Público.

Pois bem. Ao final desse encontro, o deputado Arthur Lira e o senador Rodrigo Pacheco falaram com os jornalistas como se fossem os líderes de fato da iniciativa – o presidente Bolsonaro, a quem cabe formalmente a direção do grupo, já não estava no local.

Os parlamentares informaram que o comitê discutiu a centralização das ações no Ministério da Saúde e também a compra de vacinas pela iniciativa privada, além de outras medidas já aprovadas pelo Congresso. O senador Pacheco, então, enfatizou a necessidade de um “alinhamento da comunicação social do governo e da assessoria de imprensa do presidente da República no sentido de haver uma uniformização do discurso de que é necessário se vacinar, de que é necessário usar máscara e higienizar as mãos e de que é necessário o distanciamento social, de modo a prevenirmos o aumento da doença em nosso país”.

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, reforçou essa mensagem. Embora tenha se empenhado em não contrariar demais o chefe, ao dizer que é muito difícil adotar medidas mais duras de isolamento social – de resto atacadas dia e noite por Bolsonaro –, o ministro pediu que a população evitasse “aglomerações desnecessárias” no feriado e sublinhou que “é importante usar máscara, manter o isolamento”.

Quando parecia que finalmente o governo federal havia decidido parar de sabotar não só as vacinas, mas também as medidas de distanciamento e o uso de máscaras, eis que o presidente Bolsonaro, minutos depois das declarações dos integrantes do comitê, saiu de seu gabinete e, a título de falar sobre a volta do auxílio emergencial, desatou a criticar as restrições impostas por governadores para conter a pandemia.

Sem máscara, Bolsonaro declarou que “o Brasil tem que voltar a trabalhar” e disse que as determinações dos governadores “têm superado em muito até mesmo o que seria um estado de sítio”, pois envolvem “supressão do direito de ir e vir”.

Nem se deve perder tempo corrigindo as bobagens de Bolsonaro acerca do estado de sítio e do direito de ir e vir. O mais grave é a reiteração de declarações que prejudicam todo o trabalho de esclarecimento da população sobre os cuidados a serem tomados para evitar a covid-19.

Embora seja chocante, tal comportamento não surpreende. Bolsonaro só engoliu o tal comitê de enfrentamento da pandemia por pressão do Centrão, o grupo político que lhe dá sobrevida. Quando perceberam o potencial de letalidade da pandemia sobre seus projetos eleitorais, esses oportunistas trataram de enquadrar Bolsonaro, forçando-o não só a formar o comitê, com um ano de atraso, como a acelerar a vacinação. De quebra, o presidente, ao anunciar a iniciativa, há alguns dias, apareceu de máscara, para simular seriedade.

Mas nem o comitê é muito efetivo – afinal, não tem representantes de prefeitos e de governadores, que lidam diretamente com a pandemia – nem o presidente é sério. Enquanto Bolsonaro tiver poder para atrapalhar, a única comunicação eficiente, infelizmente, será a dos óbitos.

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Governo não pode ficar assistindo à escalada brutal de mortes por Covid

Editorial, O Globo, 2/4/2021

Na sexta-feira da semana passada, o Brasil registrou 3.610 mortes pelo novo coronavírus em apenas 24 horas; na última terça, foram 3.668; na quarta, 3.950. E, ontem, 3.673. Não se trata apenas de números, mas de vidas perdidas. Uma a cada 25 segundos. Até quando assistiremos horrorizados a estatísticas que se aproximam das 4 mil mortes por dia? Num momento em que o presidente Jair Bolsonaro semeia crises desnecessárias, pergunta-se: qual o plano do governo para estancar o morticínio que mergulha o país num luto interminável?

Na situação surreal que vivemos, celebra-se que o novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, defenda uso de máscaras, distanciamento e vacinação. Ótimo. Mas isso não é o óbvio? Ou viveremos eternamente numa espécie de Sucupira do século XXI, abarrotada de poções mágicas, cloroquinas e ivermectinas? A diferença mais notável para a ficção de Dias Gomes é que um político que quisesse inaugurar cemitério hoje, como Odorico Paraguaçu tenta ao longo de “O bem amado”, não teria dificuldade em encontrar cadáveres.

Até agora, o único plano de Bolsonaro na pandemia não tem cabimento. É atacar medidas de restrição adotadas por governadores, prefeitos e até pelo Exército para conter a transmissão do vírus e aliviar a pressão sobre um sistema de saúde em colapso. O isolamento pode não ser a melhor resposta quando há vacina, mas a experiência tem mostrado que funciona.

Até a ministra Damares Alves saiu do ostracismo para dizer que as restrições violam direitos humanos. Ela pediu providências ao procurador-geral da República, Augusto Aras, contra o uso da força para mantê-las. Damares deveria se preocupar também com o direito à saúde e à vida, o direito de ter um atendimento digno, de não ser ludibriado com remédios ineficazes contra a Covid-19, de não morrer numa fila de espera sufocado pela incompetência de um governo que só pensa em 2022.

Está claro que a vacina é uma solução que ainda demorará a surtir efeito. Imunizamos menos de 10% da população. Ninguém tem dúvidas de que é necessário aumentar o ritmo, mas não há doses disponíveis. Enquanto o número de mortos sobe a cada dia, a previsão de doses de vacinas para abril só cai.

Continuamos na dependência de apenas duas vacinas, AstraZeneca e CoronaVac. A indiana Covaxin não recebeu aprovação da Anvisa, e a documentação da russa Sputnik V ainda não está em dia. Pfizer e Janssen, já compradas pelo governo, só estarão disponíveis no segundo semestre. Que acontecerá com o Brasil até lá?

Há algo de muito errado num país quando vans escolares deixam de levar crianças à escola para transportar cadáveres aos cemitérios, como ocorre em São Paulo. O Brasil precisa urgentemente de um norte na pandemia. Não se pode ficar assistindo à escalada macabra, rezando para que um dia o horror tenha fim. Qual é o limite da insensatez? Por enquanto, a única luz que desponta é a dos refletores instalados nos cemitérios para permitir sepultamentos noite e dia.

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Vacinados contra o golpe

Fernando Gabeira, O Estado de S.Paulo, 2 de abril de 2021

Enquanto os líderes mundiais lançavam um comunicado considerando a pandemia o maior problema da humanidade desde a 2.ª Guerra, aqui, no Brasil, Bolsonaro quis dar um golpe para evitar o combate eficaz contra o coronavírus. Esta é a leitura que faço dos episódios da semana.

Bolsonaro pressionou o ministro da Defesa, Fernando Azevedo, não apenas para demitir o comandante do Exército, mas para ter condições de neutralizar pela força as medidas restritivas que os governadores impuseram em seus Estados para salvar vidas.

Com a demissão do ministro, os comandantes das três Armas renunciaram em protesto contra Bolsonaro. E ficou evidente ali que o Exército não se lançaria na aventura de Bolsonaro, que, em nome da economia, tinha o potencial de matar mais ainda uma população já devastada pelo coronavírus.

A divergência entre a visão do Exército e a de Bolsonaro sobre a pandemia ficou evidente na véspera da demissão do ministro Fernando Azevedo, que ao sair se limitou a dizer que manteve a instituição militar como força do Estado, e não de um governo.

Em entrevista ao Correio Braziliense, o general Paulo Sérgio, diretor do Departamento de Pessoal do Exército, mostrou como a instituição atravessou a pandemia, obedecendo os mais estritos protocolos de segurança. Previdente, como, aliás, o são todos os governos do mundo, o Exército já se preparava para uma terceira onda. O saldo do combate, na proteção de 700 mil pessoas sob sua influência, foi muito positivo. Basta comparar o índice de mortalidade na Força, que foi de 0,13%, com o do Brasil, 2,5%.

Apesar de ter processado milhares de comprimidos de hidroxicloroquina em seus laboratórios, por influência de Bolsonaro, o Exército internamente comportou-se como grande parte da humanidade, tentando seguir protocolos de segurança. Houve também a passagem desastrosa do general Pazuello pelo Ministério da Saúde. Mas no seu pronunciamento o comandante Edson Pujol ressaltou que a ida de militares para o governo era uma escolha pessoal.

A posição de Pujol a respeito da pandemia pareceu inequívoca no seu documentado encontro com Bolsonaro em Porto Alegre. Bolsonaro estendeu a mão, Pujol ofereceu o cotovelo, que é o tipo de saudação recomendado pela OMS.

Lembro-me, naquele momento, de que escrevi sobre as ligações originárias das Forças Armadas com o positivismo, o que deve ter despertado nos militares não só um respeito, mas também uma disposição de associar seu trabalho à ciência.

Felizmente, a tentativa de envolver os militares na aventura macabra de sabotar pela força as medidas contra a pandemia fracassou. Mas Bolsonaro tinha um plano B.

Ele sabe que a instituição é mais sólida do que as PMs e logo em seguida pôs o plano em prática. Por intermédio de um deputado, tentou aprovar com urgência um projeto de mobilização nacional, que lhe daria controle de todas as PMs do Brasil. Tudo indica que ele busca desesperadamente uma força militar para impor suas ideias acerca da pandemia, uma força de intimidação dos adversários ancorados no bom senso.

Fora essa tentativa desastrada de dar um golpe para aplicar sua política de morte, Bolsonaro fez uma minirreforma ministerial, que apenas colocou o Centrão dentro do palácio, com a chave do cofre, e renovou algumas indicações familiares para cargos decisivos, como, por exemplo, o Ministério das Relações Exteriores. Poucos se lembram de que o início da crise era a pressão do Senado para derrubar o pior chanceler da nossa História, Ernesto Araújo.

Araújo apenas teorizava as ideias toscas de Bolsonaro com tintas de Steve Bannon, Olavo de Carvalho e da própria Alt Right americana. O foco do nosso isolamento internacional, diria mesmo de nossa vergonha, é o comportamento do presidente Bolsonaro, que fez do Brasil uma ameaça internacional, pela destruição ambiental e pela tragédia sanitária.

Ao escolher um modesto diplomata, que jamais ocupou uma embaixada, Bolsonaro quer mantê-lo agradecido pelo cargo e aberto à sua influência – mais precisamente, à influência do filho Eduardo, um dos grandes artífices da nossa destruidora política externa.

Bolsonaro enfrenta essa crise profunda num momento em que as próprias condições de governabilidade se diluem. Uma clara demonstração disso foi o Orçamento aprovado no Congresso. Sempre se diz que o Orçamento no Brasil é uma peça de ficção. Mas este, que foi aprovado com uma hipertrofia dos gastos militares, talvez esteja mais para um filme de horror.

Não se trata apenas de governabilidade num momento qualquer, mas durante uma pandemia de que o Brasil é o epicentro mundial, campeão indiscutível em número de mortos.

Um presidente incapaz, entregue no campo político à voracidade dos seus aliados do Centrão, buscando de todas as maneiras sabotar a luta contra a pandemia – tudo isso compõe um cenário desolador, sobretudo porque a sociedade está reduzida, no momento, a protestos virtuais.

Cedo ou tarde, julgaremos Bolsonaro.

2/4/2021

Este post pertence à série de textos e compilações “Fora, Bolsonaro”. 

A série não tem periodicidade fixa.

Não se usa máscara no Ministério da Saúde! Achou esquisito? Não é. É coerente com o desgoverno do genocida. (45)

A cada dia editoriais e artigos demonstram como Bolsonaro faz imenso mal ao País. (44)

Quatro belos artigos mostram por que é preciso tirar Bolsonaro o quanto antes. (43)

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