Caminhada

Há uma figura – um homem… um velho – que pode ser vista em solitária caminhada, quando o sol da tarde arrefece. O tipo vence uma quadra, e chega ao lago do condomínio de ares campestre onde vive. Lá estão os cisnes (são três). Navegam em formação, um atrás do outro. Na margem, há pessoas apreciando a paisagem, às vezes conversando. E pescadores.

Ora, pesca em um lugar desses? Bem, os peixes pegos têm que ser devolvidos ao lago, norma cumprida religiosamente. O que será melhor para eles? Ser recolhidos e terminar em uma frigideira, ou sobreviver (se é que isso acontece) feridos?

A natureza talvez cuide de uma revanche. Certa vez, o caminhante sentou um pouco nos tocos de árvore dispostos como bancos, usados pelos pescadores. Pôde ver, então, cardumes de minúsculos peixes próximos à tona. Distante uns quatro metros, havia um pescador. O intruso arriscou um comentário.

– São os devoradores de isca – respondeu o cidadão, amuado.

O propósito do observador é, na verdade, caminhar. Qualquer profissional de medicina carimbará um “faz bem à saúde” em uma receita. Do ponto onde está, pode cumprir esse mister seguindo em frente, o que possibilita alcançar a outra margem do lago. Ou subir uma rua; todas as que partem daqui são íngremes, levam a outras situadas no alto de montanhas, ocupadas por belas casas.

E lá se foi o andarilho de ocasião.  No jardim de uma casa, em rua alta, havia três pessoas conversando. Pareciam ser um casal de moradores e uma visita. Ficaram vivamente impressionados ao ver passar a figura com jeito de quem está se esforçando para prosseguir (e era verdade). Diante disto, só restou dizer, a título de cumprimento:

– O idoso Sanches, em sua caminhada.

Abril de 2021

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