Pra Que Mentir?

Pra que mentir

Se tu ainda não tens

Esse dom de saber iludir?

Pra quê? Pra que mentir

Se não há necessidade de me trair? 

Tem razão o Noel Rosa em fazer essa pergunta. Pra que mentir, se a verdade é inexorável e, um belo dia, ela acaba caindo na conta do mentiroso, igual boleto bancário?

Como se diz, a mentira tem perna curta e, em alguns casos, vem com nome e sobrenome.

Nestes últimos dias, dois desses nomes se destacaram no cenário político atual (os outros já vinham mentindo há tempos, então não vão entrar na lista): o advogado que escondeu Fabrício Queiroz, Frederick Wassef, e o ex-quase ministro da Educação Carlos Alberto Decotelli.

Do primeiro nem há muito o que falar, porque de um advogado que se presta a esse tipo de serviço podemos esperar por mentiras bem cabeludas. Mas o outro surpreendeu.

No dia em que foi cogitado seu nome para o Ministério da Educação, os comentaristas políticos estavam animados e apostavam que essa tinha sido uma escolha acertada.

Afinal, o sr. Decotelli era experiente por já estar ocupando um cargo dentro do MEC, portanto seria uma escolha técnica e não uma da ala ideológica, como aconteceu com o “falecido” Weintraub.

Senti um “agora vai” por parte da mídia e até mesmo por parte dos integrantes da área de ensino.

Eu mesma me animei. Oba! Vamos ter ministro que não vai “insitar” a violência contra estudantes, que não apoiará a “paralização” de pesquisas e que não irá tranquilizar os guerreiros do PT e de seus “acepipes”. Seria “imprecionante” enfim ter alguém articulado e com conhecimento na área, pra fazer decolar essa Educação que até hoje não saiu do chão.

Mas vai que daí esse senhor de sorriso largo e cheio de boa vontade resolveu caprichar no curriculum vitae.

Meteu lá um doutorado que teria conseguido na Argentina, mas que não concluiu (sua tese não foi aprovada), um pós-doutorado na Alemanha que não aconteceu (não dá pra fazer pós-doutorado sem o prévio doutorado, né?), e, como sujeira pouca é bobagem, resolveu usurpar textos dozotro e meter na sua tese como se fossem seus. Só faltou imitar o menino que viralizou nas redes sociais e finalizar com “é verdade esse bilete”.

Coisa feia, seu quase-ministro! Achou que ninguém iria escarafunchar sua vida?

Que molecagem!

Mas aí fico pensando por que ele teria mentido. Me perguntei e eu mesma respondi: ele deve ter surfado na onda desse governo demente que mente o tempo todo.

Então se perguntou que diferença faria uma pinta a mais na onça, se isso contribuísse para o engrandecimento de sua pessoa?

Parece pouco provável que algum candidato a ministro comparecesse diante de um presidente sério com um curriculum cheio de inverdades. Nem mesmo no Brasil, onde 75% dos candidatos a empregos mentem no curriculum vitae, segundo levantamento da DNA Outplacement.

Ok que tá cheio de mitômano (nesse caso específico, mitômano quer dizer adorador de mito que mente bagaray 😂) espalhado por aí, mas enfeitar o pavão pra conseguir um cargo público, justamente nessa área, onde o assunto Educação deveria ser elevado à quinta potência, já é demais da conta!

E como se não bastassem as mentiras do candidato, me deparo lá no twiter com ferrenhos defensores do presidente, e por tabela, do novo quase-ministro.

De acordo com eles, todos os que estavam condenando as mentiras do Decotelli eram racistas que não suportavam a ideia de o Brasil ter um ministro preto.

E pra não ser chamada de racista aqui também, quero deixar claro que o meu prêmio Framboesa vai exclusivamente para a falsificação de dados. Mentira não, pirulão!

Ciao! Vou voltar pro Noel Rosa, na voz do queridíssimo Paulinho da Viola! 🎼pra que mentir tanto assim…🎼

Esta crônica foi originalmente publicada em O Boletim, em 3/7/2020. 

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