Assim não há espírito de Natal que aguente

A vida devia ser maravilhosa quando, no Natal, apenas tocavam os sinos. Ou o clássico “Jingle bell, jingle bell”, em corais natalinos. Agora, você passou um sábado ótimo, em sua casa no condomínio fechado, em lugar aprazível, muito verde, andorinhas em árvore da calçada, casal de pica-paus em outra próxima, céu azulíssimo de zero poluição.

A paz alcançava o fim de tarde, quando… Um som despropositado estala sobre as casas dos condôminos, altíssimo “Jingle Bell” gravado por um coro de gritonas. Seguramente espantou a fauna e atordoou os humanos. Eram, na verdade, dois caminhões fechados, contornados por luzes coloridas, em trânsito lentíssimo, para dar aos ouvintes a chance de enlouquecer.

E o espírito do Natal? – perguntarão os que achem este narrador intolerante. Sim, viva ele, mas não poderia ser uma proposta mais natural, uma amável apresentação musical, que despertasse o espírito natalino (desde que dessem o serviço logo e caíssem fora)?

Cumprido o circuito de ruas, os caminhões estacionaram em algum ponto do condomínio e baixaram o som. O repertório, repetido, que chegou aqui em casa quase como um fundo musical, ficou tolerável. Tratei de relaxar. É Natal…

Lembrei de quando ganhei uma bicicleta com novidades como freio contrapedal. Chegou uns cinco dias antes da data, e ficou no meu quarto.  Eu podia subir nela, e era tudo.  Sair à rua só no Dia de Natal. Encarei a situação com naturalidade. Naquela época não era um velho ranzinza.

Dezembro de 2020

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