Fundação Palmadas!

“Vontade de encher de porrada pra virar gente” (Alcione).

Na última terça-feira, a cantora Alcione resolveu botar pra fora o que pensa sobre o jornalista Sérgio Camargo, presidente da Fundação Palmares.

Não se fez de rogada e entrou de bicão na live da sambista Teresa Cristina pra dar seus pitacos, tamanha a revolta.

O tema da live era o axé, o que deu o gancho pra Marrom descascar o abacaxi no ar sobre as manifestações racistas de Camargo, que vieram à tona através de um áudio vazado.

Ele chamou Zumbi, o líder quilombola brasileiro, de filho da puta, disse que o movimento negro é uma “escória maldita” que abriga “vagabundos” e de quebra, disse que não tem de apoiar agenda da consciência negra: “Aqui não vai ter. Vai ter zero de consciência negra”.

Na live, Alcione, comenta: “Hoje vi aquela matéria do zé ninguém lá da Fundação Palmares. Ainda dou na cara dele pra parar de ser um sem noção”.

Tirando o presidente da República, com quem Sérgio Camargo se diz “alinhado”, deve ter muita gente, negra, branca, amarela ou vermelha, querendo fazer a mesma coisa que Alcione.

Bem que merece umas palmadas o presidente de uma fundação que foi criada justamente para preservar a cultura afro e sua influência direta nos nossos costumes e que age como um supremacista branco tomador de leite.

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E por falar nisso, tem umas bestas metidas a gente por aí imitando atos e palavras dos adoradores da suástica.

Está dando o que falar aquela live do presidente tomando leite com seus “acepipes”. Para alguns, o fato de tomar leite numa live representa a simbologia nazista do movimento que defende a supremacia branca pregada por eles.

Teve político que chamou o ato de “dog whistle”, que, traduzido do inglês, quer dizer apito de cachorro. Em outras palavras, uma mensagem direcionada exclusivamente para um clã de adeptos desse movimento, que não pode ser entendido por quem não participa. Uma espécie de código.

Na cola do Jair, o blogueiro apontado como um dos responsáveis pela máquina de espalhar fake news, Allan dos Santos, também apareceu na sua live do Terça Livre tomando um copo de leite puro, dizendo: “Entendedores entenderão”. Sugerindo que aí tem!

Já a turma lá de cima garante que é apenas uma referência à campanha “Desafio do Leite”, lançada pela Associação Brasileira de Produtores de Leite, e que teve a presença de Jair Bolsonaro e da ministra da Agricultura Tereza Cristina.

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Também não ficou muito claro o que significou aquela marcha dos “300 pelo Brasil” (que, na verdade eram 30 ou até menos que isso) na frente do STF, na noite de 27/5.

Um grupo de encapuzados carregando tochas, liderado pela youtuber Sara Winter, ex-feminista, ex-candidata a deputada federal pelo DEM, ex-candidata ao BBB, ex-prostituta, ex-peladona (participou nua em protestos contra o machismo no Rio, em 2012) e agora bolsonarista de carteirinha e também, ou por isso mesmo, alvo de busca e apreensão na operação da PF contra as fake news.

Ela, que tem organizado manifestações pró-governo, resolveu desta vez levar sua turminha pra passear na frente ao Supremo em sinal de protesto contra a instituição.

Ai, que meda! Os ministros devem estar tremendo até agora.

Uma ridícula aparição de meia dúzia de babacas que provavelmente acreditavam que iriam amedrontar seus alvos, como fazia a temível e terrível Ku Klux Klan.

Não sabemos se a intenção era essa, a de imitar a organização terrorista americana, mas se for fica uma sugestão de nome para o grupelho, baseado na importância do movimento: Cu Cus Clã!

Esta crônica foi originalmente publicada em O Boletim, em 5/6/2020. 

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