Bolsonaro mente compulsivamente

É absolutamente impressionante a cara de pau com que Jair Bolsonaro mente. O sujeito mente conscientemente, meticulosamente, insistentemente, compulsivamente.

Mente por escrito – e não dá a menor bola para o fato de que há diversas comprovações de que aquilo que afirmou não tem a ver com a verdade dos fatos. Nem com a verdade, nem com os fatos.

Botou no Twitter na terça-feira agora, dia 3/3: “Não houve qualquer negociação em cima dos 30 bilhões. A proposta orçamentária original do Governo foi 100% mantida”.

É mentira! É uma inverdade. É falso!

Os jornais noticiaram em detalhes: houve reuniões de negociação entre representantes do Executivo e do Legislativo ao longo de toda a segunda-feira – e algumas entraram pela madrugada da terça. O próprio presidente da República teve um encontro com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (AP-DEM), na tarde de segunda. O ministro da economia, Paulo Guedes, negociou com os parlamentares – e o resultado da negociação foi que foram enviados ao Congresso, na terça-feira, três projetos de lei, que vão permitir que o Parlamento defina a prioridade para a aplicação de R$ 19 bilhões daqueles R$ 30 bilhões.

No mesmo dia em que Bolsonaro escreveu no Twitter que “não houve qualquer negociação em cima dos 30 bilhões”, seu governo enviou ao Congresso três projetos – com a assinatura dele próprio!

O sujeito mente em cima dos projetos assinados por ele que o desmentem!

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“Por que Bolsonaro diz que não fez o acordo que fez?” O Globo publicou texto com este título na edição da quinta-feira, 5/3. Eis o texto, assinado por Francisco Leali:

“Envolto em uma nova crise com o parlamento, o presidente Jair Bolsonaro foi às redes sociais para anunciar que não fez acordo algum com o Congresso. “Não houve qualquer negociação em cima dos 30 bilhões. A proposta orçamentária original do Governo foi 100% mantida”, publicou ontem na internet.

A declaração mostra que o presidente prefere discursar para o público que planeja protestar contra o Congresso, para que continuem no mesmo espírito de confrontação. E está disposto a enfrentar eventuais reações dos parlamentares, se eles tiverem vontade para tanto.

Segundo o presidente, as reuniões que entraram pela madrugada de terça-feira entre seus ministros e parlamentares não existiram. Os três projetos enviados pelo poder Executivo ao Congresso também não. De nada importa se estão registrados formalmente no Diário Oficial.

Caberia, então, a pergunta: se não houve negociação, por que mandou esses novos projetos e assinou embaixo? Em oposição ao mundo virtual, no mundo real, o acordo selado envolvendo os tais R$ 30 bilhões pode levar o Congresso a votar os vetos presidenciais ao projeto que trata das regras do Orçamento. Pelo acordo que Bolsonaro diz não existir, o Legislativo teria poder para influenciar no gasto de metade dessa cifra.

Por enquanto, não há pistas de que deputados e senadores se importarão com as palavras que o presidente lança nas redes.”

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Essa fantástica exibição de apaixonado desapego à verdade e aos fatos foi na terça. No dia seguinte, atacou de novo.

Diante das repercussões duras à palhaçada que patrocinou diante do Palácio da Alvorada, colocou na boca de pessoas próximas a ele o seguinte – segundo informou a Coluna do Estadão desta quinta-feira:

Ah, o presidente não sabia que o comediante Carioca iria distribuir bananas aos jornalistas. Se soubesse, teria vetado a brincadeira do humorista.

Ora, mas façam-me o favor – tanto Bolsonaro quanto os tais governistas que foram dizer isso à Coluna do Estadão.

O tal comediante Carioca, fantasiado de Bolsonaro, com uma faixa presidencial, chegou ao local da palhaçada – a entrada do Alvorada – em carro oficial da Presidência da República, ao lado do secretário de Comunicação da Presidência da República, carregando as bananas, e o presidente não sabia?

É dureza.

5/3/2020

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