Tadeu Tá Dando o que Falar!

Dentre os assuntos mais comentados da semana, o que mais chamou minha atenção foi aquele gesto tresloucado do deputado Coronel Tadeu, do PSL.

Mostrando total destempero, o deputado passou pelo corredor da Câmara onde estavam expostas obras alusivas ao Dia da Consciência Negra, não gostou de uma e simplesmente partiu pra ignorância.

Vandalizou a obra do chargista Carlos Latuff porque interpretou a cena do negro caído no chão, abatido por um policial, como ofensiva à classe.

Ora, ora, seu Tadeu! Alguém te deu autorização pra tomar uma atitude, no mínimo, bestial como essa, com um objeto que não te pertence? Quer quebrar coisas, vai pra tua casa e pega o pinguim de geladeira ou os pratos de colorex que sobraram do casamento e atira na parede.

Mas mesmo praticando um gesto pouco louvável para um parlamentar – ou para qualquer ser civilizado -, o ilustre deputado ganhou uma lista enorme de fãs que aplaudiram em pé o ato, considerando que é normal as pessoas saírem por aí destruindo o que não gostam de ver.

Vejam alguns comentários na postagem do Blog do Noblat, no twitter: “Tem que destruir mesmo. Isso é um escárnio contra pais de família que dão a vida pelo bem estar da sociedade. Mídia lixo!”. “Seu doente, essa imagem é criminosa, associa policiais a assassinos”. “Devia ter colocado fogo. Isso é uma palhaçada”. “Lixo esquerdopático”… E por aí vai.

Fico imaginando esse deputado e seus seguidores fazendo um tour pelos museus que guardam as relíquias de arte mais famosas do mundo.

Quando entrassem no Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia em Madrid, e dessem de cara com a famosa Guernica, certamente iriam sair e comprar umas latas de tinta para cobrir a parede que reflete “uma declaração de guerra contra a guerra e uma manifestação contra a violência”, idealizada por Pablo Picasso, achando se tratar apenas de uma suruba entre gente e bicho.

Se fossem ao Museu Rodin em Paris, levariam suas machadinhas para destruir “aquela pouca vergonha” da obra O Beijo que o próprio Rodin esculpiu no mármore. Onde já se viu deixar que crianças vejam esses dois peladões se beijando sobre uma pedra? (Aliás, que desconforto!)

Os mais politicamente corretos, ou chatos, como preferirem, também destruiriam com prazer a obra Garçon à la Pipe, por considerarem que alguém segurando um cachimbo seria uma apologia ao fumo e ou à droga. Quem poderia provar que aquele rapazinho, com traços de uma jovem donzela, ornado por rosas (essa obra pertence à fase rosa de Picasso), na verdade não estaria fumando umas pedrinhas de crack?

Dá medo só de pensar! Com essa mentalidade pudorenta e com o dom de se acharem soberanos em suas vontades, poderiam destruir acervos inteiros dos mais renomados artistas.

Talvez no Louvre, poupassem a Vênus de Milo de Alexandre de Antioquia. Entenderiam que ela só está com os peitos de fora porque não consegue abotoar o sutiã.

Esta crônica foi originalmente publicada em O Boletim, em 22/11/2019. 

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