Quando a besteira assolava o país

Stanislaw Ponte Preta (nascido Sérgio Porto) escreveu o Febeapá, Festival de Besteira que Assola o País, com fatos reais, em 1966, dois anos depois de instalada a “redentora”, como ele chamava o regime militar.

“Notei o alastramento do Festival de Besteira depois que uma inspetora de ensino do interior de São Paulo (…), ao saber que seu filho tirara zero numa prova de matemática, não vacilou em apontar às autoridades o professor da criança como perigoso agente comunista.” Stanislaw nos deixou em 1968. Não viu o que acontece nos dias de hoje.

Naquele meados dos 1960…

Um juiz de menores proibia as alunas dos colégios de fazer ginástica, “porque aula de educação física não é desfile de pernas”.

O secretário de Segurança de Minas Gerais proibia mulheres com pernas de fora em bailes de carnaval “para impedir que apareçam fantasias que ofendam as Forças Armadas”.

Em Mariana, um delegado barrou o namoro em jardim de praça pública; outro, de Belo Horizonte, o beijo em lugar público, “mesmo em estação de trem na hora do trem partir”.

“Foi então que estreou no Teatro Municipal de São Paulo a peça clássica ‘Electra’, tendo comparecido ao local alguns agentes do DOPS para prender Sófocles, autor da peça e acusado de subversão, mas já falecido em 406 A.C.”

Depois de intervenção em todos os sindicatos, o governo resolvia enviar uma delegação à 16ª Sessão do Conselho de Administração da Organização Internacional do Trabalho, OIT, em Genebra. O Brasil fazia parte, justamente, da Comissão de Liberdade Sindical.

O diretor de Suprimento em Brasília proibiu a venda de vodca “para combater o comunismo”.

“O ministro da (que Deus nos perdoe) Educação, que viria a se tornar um dos mais iminentes membros do Festival (de Besteira), reunia a imprensa para explicar aquilo que o coleguinha Nélson Rodrigues apelidou de óbvio ululante. Disse que ia diminuir os cursos superiores de cinco para quatro anos. E acrescentou: “Agora, os cursos que tinham normalmente cinco anos passam a ser feitos em quatro”.

Um deputado do então Estado da Guanabara apareceu com um projeto que instituía a escritura pública para a venda de automóveis. “Na ocasião enviamos nossos sinceros parabéns, com a sugestão de que aproveitasse o embalo e instituísse também um projeto sugerindo a lei do inquilinato para aluguel de táxis”.

Agosto de 2019

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