O problema não é o Coaf

Pouco importa o endereço do Coaf. Na Economia ou na Justiça o Conselho continuará como um dos importantes pilares no combate à corrupção.

Foi assim durante o Mensalão, continuou na Lava-Jato, e se mantém também agora quando trata das movimentações financeiras suspeitas do filho do presidente Flávio Bolsonaro e do ex-assessor Fabrício Queiróz. Aquele que, depois de dar explicações inexplicáveis para o dinheiro sem lastro em sua conta, sumiu, ninguém sabe, ninguém viu. Aquele que a Polícia Federal de Sérgio Moro não consegue encontrar.

Combatente implacável contra a corrupção, alçado a super-herói nas manifestações de domingo, Moro é o único derrotado na reforma de seu chefe. Embora o Coaf aqui ou lá não faça diferença no que tange às suas atribuições, Moro foi duplamente abatido: tiraram dele o Coaf e lhe devolveram os índios da Funai, que ele preferia não ter.

Dois reveses a mais para a sua coleção. Já havia perdido no decreto de porte e depois no de posse de armas, que, em ambos os casos, ele pretendia mais brando. E até na nomeação de uma suplente para o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária. Isso, em fevereiro, quando deveria ter se dado conta que a carta branca que lhe fora prometida pelo presidente não tinha lastro algum.

Para piorar, terá de conviver – no mínimo por dois anos, se tudo der certo – com a indiscrição programada do presidente, que “confessou” ter barganhado a nomeação para o STF se o ex-juiz da Lava-Jato aceitasse tocar o Ministério da Justiça.

Mesmo assim Moro continua fazendo mais sucesso que o capitão, nas redes e nas ruas. E, ainda que revigorado pelo domingão, Bolsonaro sabe que as asas de seu auxiliar têm de ser aparadas com frequência, mantidas no tamanho certo para que a ambição do agora subordinado não extrapole a de “ganhar na loteria” de ser ungido membro do Supremo.

Melhor para o presidente é Moro cuidar dos índios.

Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, na Veja, em 29/5/2019. 

Um comentário para “O problema não é o Coaf”

  1. Sra. Mary, será possível que a senhora não consiga ver nada de positivo nesse novo governo!! Muitos enxergam os exageros e trapalhadas do novo presidente, inclusive eu, porém a falta de disposição de seus textos em vislumbrar novos rumos para o país, tolhidos e execrados pela esquerda delinquente, deixa uma sombra incômoda sobre suas palavras.

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