Educassão!

Aos domingos costumo pegar minha mãe para o almoço e aqui ela fica até o fim da tarde de segunda, quando sua “babá” volta da folga.
Aos 98 anos – em novembro 99 – não sobra muita coisa na vida a não ser ver televisão. As vistas cansadas não permitem uma leitura ou um tricô. As pernas mais pesadas não permitem passeios nem pra costumeira pizza dominical no shopping. Então o negócio é ficar no sofá vendo TV, e de preferência assistindo a qualquer coisa que não requeira atenção.

O primeiro programa depois da siesta após almoço é futebol. (Ela adora futebol. Palmeirense roxa mas que assiste a todos os jogos, especialmente aos do Corinthians só pra torcer contra. 😆)

Ótimo para mim. Também gosto de futebol e ainda ganho duas horas inteiras de descanso para os meus ouvidos mais seletivos. Mas assim que acaba o jogo começa o martírio da programação escolhida por ela. E aí o bicho pega!

Na hora do 🎼 Domingãããão do Faustão…🎼 corro pra cozinha providenciar o jantar. Dependendo da atração, às vezes vou até o supermercado fazer um pouco de hora. Terminados o programa e o jantar, ela, de posse do controle, corre pros braços do Silvio Santos.

Aí eu sou obrigada a ficar na sala ouvindo o festival de besteiras encabeçado pelo próprio e engrossado pelo auditório.

Nesse último programa, até fiz umas anotações para não me esquecer dos absurdos que ouvi. Dois participantes tinham de matar uma charada e as dicas eram as seguintes: Tem no cinema, com duas sílabas. Faz parte dos olhos, com duas sílabas. Rede Record. Nenhum dos participantes acertou a palavra “televisão”, e aí o apresentador rolou a bola pras meninas do auditório, que nadaram de braçada nos chutes. Baseadas nas dicas, começaram a lançar suas bombas gramaticais: “córnea do olho”?””Rotina”? “Binóquio”?

Çocorro!

Ô tristeza que dá constatar que a educação, nem mesmo a básica, chega para todos.

Então, para evitar me aborrecer mais ainda com isso, procuro me distrair no Twitter.

Só que daí chega um momento em que não sei o que é pior. Uma fã do programa que confunde a retina dos olhos com rotina, ou se é passar vergonha alheia com aquele vídeo de gosto duvidoso que continua rolando nas redes sociais, estrelado pelo nosso Gene Kelly tupiniquim, Abraham Weintraub. Armado de um guarda-chuva, tendo como fundo musical “Singing in the Rain”, Weintraub aparece desmentindo uma notícia, uma fake news, segundo ele, sobre corte de verba ao museu carioca que pegou fogo.

Precisava pagar esse mico, ministro? Para desmentir fake news a internet já dispõe de meios que elucidam se a fofoca é fake ou se a fofoca é verdadeira.

Não seria mais do interesse da população ter gravado um vídeo sério, mostrando o que de fato o MEC fez de edificante até agora? Ou mostrando que medidas estão sendo tomadas para acabar com a violência nas escolas, como a que aconteceu na semana passada, quando uma professora quase apanhou dos alunos? Afinal, em campanha, o teu chefe não prometeu que ia acabar com issaí?

(Pensando bem, acho que seria mais difícil gravar esse vídeo. Faltariam elementos para montar o roteiro.)

E como seu negócio é aparecer na mídia, esta semana o ministro showman paulista da gema gravou um novo vídeo tocando “Baião” de Luiz Gonzaga numa gaita, para “provar” que tem origem cearense.

Já podemos mudar o nome da pasta para Ministério do Pão e Circo?

Este artigo foi originalmente publicado em O Boletim, em 7/6/2019. 

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