A menudo los hijos se nos parecen

Está aí o post, não precisa mais nada. O post são essas fotos, essas duplas de fotos, esses combos.

Parecido com o que disse a Vera no post logo abaixo deste aqui: não precisa de texto.

Hum… Precisa, é? O troço chama 50 Anos de Textos, portanto tem que ter texto, é? Cacete…

Então tá.

Posso começar brincalhão, como já comecei.

Ou posso começar sério, citando Serrat – é impossível não pensar nestes versos quando se fala sobre filhos, pais e filhos:

A menudo los hijos se nos parecen, y así nos dan la primera satisfacción; ésos que se menean con nuestros gestos, echando mano a cuanto hay a su alrededor. Esos locos bajitos que se incorporan con los ojos abiertos de par en par, sin respeto al horario ni a las costumbres y a los que, por su bien, (dicen) que hay que domesticar.

Posso começar como num suelto, fingindo que estou fugindo do assunto, lembrando de uma história do velho Jornal da Tarde, começo dos anos 70. José Bigatti, o diagramador que era arquiteto e tocava piano muito bem, comentava comigo que, ao publicar duas fotos de pessoas lado a lado, é preciso tomar extremo cuidado para que a proporção seja exata, perfeita. O rosto de um tem que ser exatamente, perfeitamente do mesmo tamanho do outro.

Nunca soube mexer muito bem com fotos. Não consegui fazer com que os dois rostinhos lindos da primeira dupla de fotos, lá em cima, ficassem na mesma exata proporção. Mary saberia fazer isso em dois palitos, mas Mary está em São Petersburgo, e eu estou aqui sozinho nesta sexta-feira como um Robinson Crusoé antes de encontrar o Sexta-Feira.

***

Quando era criança, adolescente no inicio da adolescência, minha filha costumava se divertir com a semelhança dos nossos dedos. Não exatamente as mãos inteiras, os pés inteiros – mas os dedos, tanto das mãos quanto dos pés, o formato, a proporção entre eles, tudo. O formato do conjunto dos dedos é igualzinho que nem, e minha filha brincava com isso. Lembro de ela estender aos mãos e dizer: – “Olha isso, paiê! É igualzinho!”

Felizmente, das minhas características físicas ela puxou só os dedos. O rosto lindo tem tudo a ver com o rosto lindo da mãe – conforme mostra muito bem a foto P&B do terceiro combo. Aquela foto – que fiz com as duas na  cama de casal no apartamento da João Moura, em maio de 1979 – faz parte de uma sequência que é a mais bela de todas as que já fiz na vida. E, diacho, fiz muita sequência de fotos na minha vida.

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Parecença comigo ela tem, sim, e muita – acho que mais do que seria bom para a vida dela. Puxou do pai a angústia com o futuro iminente: como eu, acha que vai dar tudo errado, que vai ser um horror. Talvez isso no fundo seja uma forma de a gente se preparar para o pior de maneira a sentir algum alívio se o que vier não for o horror do horror do horror, for só um horrorzinho. Não sei.

Igualinho que nem eu, não gosta nunca de tomar a dianteira e dizer o que deseja, quando se está planejando alguma coisa. Diz: diga aí o que você prefere… E eu digo: não, não, diga aí o que você quer… E demoramos a sair do lugar…

Felizmente, felizmente, em muitas coisas é bem o contrário do pai. Para dar apenas um exemplo: consegue se impor disciplina, foco, atenção. Se tem que estudar tal coisa 14 horas, senta e estuda tal coisa 14 horas. Já o pai se dispersa, viaja, vai longe, presta atenção a quatro coisas diferentes ao mesmo tempo, o que indica que não foca em nada.

(Bom, é verdade que quando eu era jovem conseguia ter mais disciplina. Mas nunca como a dela.)

***

Desde os primeiros momentos em que a criaturinha foi levada pelas enfermeiras ao quarto da maternidade, minha filha diz que ela se parece com o pai.

É óbvio que a pequena se parece com o pai em muitas coisas – fisicamente, o nariz, as orelhas, e de resto uma deliciosa montanha de características, em especial a musicalidade e o jeito para as artes plásticas. (Gosto por música e pelas artes ela herdou dos dois lados – mas o jeito, o talento, esses vêm do pai, no doubt about it).

Agora, assim quanto à parecença física… Acho que o primeiro e o segundo combos dizem tudo, e até algo mais.

O terceiro combo não é perfeito. Eu teria que ter tentado refazer aquela sequência quando a pequena estava com a idade que a mãe tinha na sequência original… Diacho… Mas nada impede que eu ainda tente fazer. Antes tarde do que nunca!

***

A menudo nos hijos se nos parecen…

A pequena adora grudar na vovó – no vovô, dá um beijinho e um abraço de vez em quando. Não estou reclamando, não – apenas relatando

Me divirto demais ao ver como minha neta se parece com a Mary. As duas se adoram deliciosamente, e são igualinhas que nem em vários quesitos, em especial o quesito grude, agarramento.  Não há qualquer DNA incluído – mas DNA é só uma parte. Quer saber? DNA é, definitivamente, menos importante do que convivência, carinho, presença. Grude.

Amo essas meninas.

19 e 20/7/2019

 

 

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