Crônica da eleição do horror

Dia 1 – Segunda-feira, 8 de outubro

O Poste corre para a prisão!

O que o PT e Haddad deveriam fazer no segundo turno, segundo boa análise do Ascânio Seleme no Globo:

“O PT pode até vencer no dia 28, mas terá de ser menos PT. Precisará fazer um extraordinário mea culpa e assinar um compromisso de gestão compartilhada em favor do Brasil e dos brasileiros.”

“Um grande e dificílimo acordo entre todos os perdedores deve começar a ser costurado neste domingo, para que até sexta-feira Haddad possa posar para fotos ao lado de Ciro, Alckmin, Marina, Meirelles, Amoedo, Fernando Henrique. O PT terá de prometer um choque de capitalismo como propôs Mário Covas na eleição presidencial do longínquo 1989. Haddad vai precisar se comprometer a fazer um governo de reformas, não intervencionista, honesto e democrático, além de enterrar a proposta de constituinte exclusiva. Terá de prometer um governo maior do que o PT e muito maior do que Lula.”

Uma bela síntese:

“Terá de prometer um governo maior do que o PT e muito maior do que Lula.”

E o que fazem o PT e Haddad?

O Poste foi correndo visitar o presidiário, pedir a bênção, pedir orientação!

Exatamente o presidiário que é o símbolo do sentimento demonstrado por um número imenso de brasileiros nestas eleições, o antipetismo – que, a rigor, deveria ser chamado de antilulo-petismo!

Estratégia, inteligência, sagacidade, tirocínio político é isso aí.

***

Na primeira página do Globo do dia seguinte, a terça-feira, 9/10, a charge de Chico Caruso gozaria a falta de tato de Fernando Haddad em fazer a sinalização contrária àquela que deveria fazer se quisesse conquistar novos eleitores:

Uma lista de erros do PT

 O jornalista Carlos Dias, que tem se especializado em análises de ações de comunicação e marketing, escreveu um texto listando uma série de erros da campanha de Haddad – e acertos na campanha de seu adversário.

A primeira bobagem cometida pelos petistas que ele lista é exatamente a visita de Haddad, mal terminada a contagem final dos resultados das urnas, ao presidiário mais famoso do Brasil:

“1 – O dia seguinte à expressiva vantagem sufragada nas urnas concedida ao sr. Bolsonaro, ato contínuo o sr. Haddad vai à Curitiba visitar o ex-presidente Lula. Não poderia ter sido pior a mensagem, o emblema, diante de um voto notadamente antipetista nas urnas.

2 -Bolsonaro entende de comunicação. Foi a público dizer que não vai mexer no Bolsa Família. E desautorizou seus asseclas Mourão e Guedes sobre questões como CPMF, constituinte, decimo-terceiro salário. Fala com a “dona Maria”. Direto. Sem titubear. Preto no branco, sem dialética. E com foco, Nordeste, onde perdeu para o PT.

No JN, Bolsonaro disse que seu vice deu uma “canelada” sobre Constituinte e quem manda ali é ele. Você pode até achar um tom de galhofa, mas é o que pega para o eleitorado brasileiro.

3 – Usa magistralmente – repito, magistralmente – com sua trupe as redes sociais o sr. Bolsonaro. Estão dando de lavada no PT. Com memes, frases. Argumentar, do outro lado, que se usam fake news é de uma infantilidade medonha. Onde está o exército criativo do PT nas redes?

4 – WhatsApp. Para mim será um estudo de caso após as eleições. Por razões pueris: você não rastreia algoritimo no WhatsApp; viraliza como fogo; impossível combater. E, novamente, o sr. Bolsonaro tem se mostrado mestre. Com um exército espontâneo.

5- No raciocínio dialético, que inexiste hoje, o voto foi levado à condição de “votar contra o PT”. Custe o que custar. É o que se vê nas ruas. Cadê o contraponto comunicacional do petismo para derrubar esse argumento? Até agora não vi nada.

6 – Desautorizar a fonte narrativa é um instrumento clássico em Comunicação. Bolsonaro foi taxado de homofóbico, autoritário com as mulheres, truculento. Não deu certa esta estratégia. Simples assim. As urnas no primeiro turno mostraram isto. Tá na hora de pensar fora da caixa.”

A pessoa lê “não”, e tem certeza de que ali está  escrito “sim”

Fiz um post no Facebook com os primeiros parágrafos desta anotação aqui – transcrevendo duas daquelas frases do Ascânio Seleme, e falando da visita de Haddad ao presidiário. Mais a conclusão: “Estratégia, inteligência, sagacidade, tirocínio político é isso aí”.

Mary leu e me advertiu que iria ter gente achando que eu estava defendendo o Lula, o Haddad, o PT.

Repliquei que isso era loucura. Imagine, não é possível! O post está absolutamente claro!

Daí a pouco começaram a aparecer comentários de eleitores de Bolsonaro dizendo que eu estava defendendo o PT.

É: os ânimos estão acirrados demais.

As pessoas estão lendo o que está escrito no Facebook muito rapidamente, muito apressadamente. Melhor seria dizer que as pessoas estão passando os olhos pelos textos, sem prestar atenção direito – e já correm para contestar o que elas acharam que estava escrito, embora o que esteja escrito não queira dizer o que elas acharam que estava.

Não é, obviamente, uma questão de analfabetismo funcional. Não. Muitas dessas pessoas, que conheço ali do Facebook, sabem ler perfeitamente, perfeitissimamente.

O Brasil está enfrentando um tipo específico de analfabetismo, de incapacidade de interpretação de texto. Tem nome conhecido, bem identificado: chama-se cegueira ideológica.

Credo em cruz.

Um tempinho com menos Facebook, que a coisa tá feia demais

No início da noite deste primeiro dia do segundo turno, meu amigo Carlos Marchi postou no Facebook que a situação estava ficando insuportável, com ódio demais na rede, e que iria dar um tempo, ficar sem falar de política ali por um período.

A reação dos bolsonaristas a meu post sobre a visita apressada de Haddad a Lula, o post do Marchi, esse clima de ódio todo destilado ali, tudo junto me deu vontade de também dar um tempo de Facebook.

Não vou conseguir ficar sem comentar sobre política, é claro. Então pensei em fazer meus comentários apenas aqui, no meu site. Meu site é lido por dois ou três amigos apenas, mais e daí? A gente escreve porque tem vontade de escrever – se os outros vão ler ou não é problema dos outros…

Menos um neguinho gritando no meio dessa algaravia das redes.

Nada definitivo, de jeito nenhum. Posso de vez em quando dar um ou outro pitaco no Facebook. Mas vou tentar me concentrar mais é aqui.

8 e 9/10/2018

3 Comentários para “Crônica da eleição do horror”

  1. Caro Sérgio, parece que não vai votar nas próximas eleições – Bolsonaro é fascista e muito fascista, Haddad é do PT e portanto detestável, tão mau como o outro. Vai ficar em casa a descansar.

  2. Que bom que trouxe os textos do Feicy pra cá, pois assim posso lê-los. Aquilo lá deve estar insuportável/infernal nessa época de eleição, com a seita do PT e os bolsominions atacando a tudo e todos.

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