Crônica da eleição do horror (15)

Dia nº 18 – Quinta-feira,  25 de outubro

A suástica foi auto-inflingida, mostra o laudo. E aí?

O Brasil nunca soube quem matou Dana de Teffé – e lá se vão 57 anos. Muito provavelmente jamais saberá quem matou Marielle Franco, meio ano atrás. Nem exatamente por que  Adélio Bispo de Oliveira enfiou uma faca na barriga de Jair Bolsonaro, outro dia mesmo: se foi um crime de um sujeito solitário, louco, ou se – como várias coisas indicam – teve apoio, e de quem.

Somos um país que parece ter se acostumado a conviver com crimes impunes, não resolvidos, não solucionados.

O caso da moça que denunciou ter sido agredida em Porto Alegre por pessoas que marcaram uma suástica na sua barriga tem tudo para entrar para a longa lista dos mistérios insolúveis da História do Brasil.

Mas e todas as acusações que foram feitas contra os apoiadores de Jair Bolsonaro?

Quem vai retirá-las? Quem vai apagá-las dos jornais, dos textos escritos nos mais diversos blogs?

Quem vai pedir desculpas por todas as acusações feitas aos bolsonaristas quase de imediato, agora que a Polícia Civil do Rio Grande do Sul concluiu que os cortes foram um caso de auto-lesão, de lesão auto-inflingida?

O Brasil deixa de solucionar muitos crimes – mas os brasileiros adoram sair acusando os outros. Se a suspeita recair sobre alguém “da direita!”, então, aí é fatal.

Um dos mais incensados, respeitados jornalistas brasileiros, Elio Gaspari, não teve dúvidas em jogar pedras sobre o delegado gaúcho que acompanhou o caso da moça da suástica. Em sua coluna publicada no Globo e na Folha de S. Paulo no domingo, 14/10, uma semana depois do primeiro turno da eleição e faltando duas semanas para o segundo , ele escreveu:

“Uma jovem de 19 anos contou na terça-feira à polícia de Porto Alegre que na noite anterior vestia uma camiseta com o slogan ‘#EleNão’, desceu de um ônibus e foi agredida por três pessoas. Contou ainda que, imobilizada, fizeram-lhe seis talhos na barriga, marcando-a com uma suástica.

“Ainda não se conhecem as circunstâncias do episódio e, na quinta-feira, a jovem, que não teve o nome revelado, desistiu da denúncia. A investigação prossegue. Um dia antes da desistência, o delegado Paulo César Jardim, tendo visto uma fotografia dos ferimentos, deu uma entrevista aos repórteres Kelly Matos e Pedro Quintana com suas observações preliminares.

“Ele repetiu seis vezes que ali não havia uma suástica. Informando que é um ‘especialista nesta área’, revelou que a cruz gamada do nazismo não tem aquele formato, pois a perna do ‘S’ estava invertida. Segundo Jardim, ‘o que temos é um símbolo milenar religioso budista, símbolo de amor, paz e harmonia’. (A fotografia está na rede, bem como os 16 minutos do áudio da entrevista.)”

E finalizou:

“Sejam quais forem as circunstâncias do episódio, quando aparece uma pessoa com uma suástica na barriga e um delegado como o doutor Jardim diz o que ele disse, algo de muito ruim está acontecendo.”

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Sem dúvida: algo muito ruim está acontecendo quando condena-se um delegado por ter dado algumas declarações, e já se sai com a suspeita de que foram “bolsonaristas” que perpetraram o crime.

Mencionei Elio Gaspari pela importância que ele tem – mas foram diversos, vários os jornalistas que escreveram em tom semelhante.

E agora?

O crime, segundo a Polícia gaúcha, foi cometido pela moça: ela deverá ser indicada por relatar falso crime.

Eis o que diz a reportagem do portal G1, publicada na quarta, 24/10, sem assinatura dos autores:

“O inquérito foi concluído após o delegado Paulo Cesar Jardim receber o laudo pericial que indica que as lesões foram produzidas ‘ou pela própria vítima ou por outro indivíduo com o consentimento da vítima ou, pelo menos, ante alguma forma de incapacidade ou impedimento da vítima em esboçar reação’.

“Foram analisados 23 traços no corpo da mulher. Em alguns deles, a perícia diz que corresponderam a ‘arranhões’.

“À polícia, no registro da ocorrência, a jovem disse que descia de um ônibus, a caminho de casa, no bairro Cidade Baixa, quando foi abordada por três homens que a agrediram.

“Durante o exame de corpo de delito, ela disse ‘ter sido agredida, no dia anterior, por duas pessoas que a teriam imobilizado e por uma terceira que teria realizado uma inscrição em sua barriga’. Acrescentou ‘haver apenas uma lesão, a qual, segundo ela, teria o aspecto de uma ‘suástica’.

“De acordo com o delegado, mais de 20 pessoas foram ouvidas na região. ‘Toda a área que ela percorreu identificamos 12 câmeras, uma visão muito boa, ela não aparece, tampouco alguma agressão. Delito de pequeno poder ofensivo, a pena é de seis meses a um ano, estamos encaminhando ao Judiciário, ela é indiciada.’

“De acordo com a perícia, não há evidência de que a jovem tenha se defendido. O laudo diz ainda que as lesões formam ‘traçados retilíneos’ e que a movimentação do corpo poderia ter prejudicado o desenho. ‘A figura poderia ser mais facilmente produzida com o consentimento ou com a colaboração da própria periciada. (…) Pode-se concluir que as lesões tenham sido produzidas cautelosamente, de modo a não causarem dano às camadas profundas da pele’.

“Quando às lesões, ela teria dito, no momento do exame pericial, que ‘não teria, de forma alguma, reagido ao ataque e que, ao ser imobilizada pelos supostos agressores, os quais lhe teriam segurado apenas pelos braços, como ela estaria usando uma roupa com mangas muito macias, estas lhe teriam protegido. Mais de uma vez, afirmou não ter havido luta corporal entre ela e os agressores, apenas a imobilização pelos braços, ao que ela teria ficado, de pronto, paralisada.’

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É bem possível, a rigor é quase certo que nunca vá se conhecer exatamente a verdade sobre o caso da moça que disse ter sido agredida por homens que marcaram uma suástica em sua barriga. Mais um crime nunca solucionado, como o assassinato de Dana de Teffé, como o de Marielle Costa.

Há agora então indícios fortes de que foi um crime dela, a até agora vítima. Ela teria forjado o ataque horrendo, muito provavelmente com a ajuda de amigos.

Entre o primeiro e o segundo turno das eleições.

Seria possível uma coisa dessas? Auto-infligir-se? Expor-se à dor horrorosa? E pior ainda: ao risco de acabar desmascarada?

Muito provavelmente jamais ficaremos sabendo a verdade.

Mas – insisto – e todas as acusações que foram feitas aos bolsonaristsas, ao longo destes últimos 10 dias? Fica tudo por isso mesmo?

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A carta de Lula, a baixaria das baixarias

Nesta campanha tão absolutamente eivada de baixarias, fake news e até mesmo, como se disse, com ironia, nas redes sociais, fuck news, uma baixaria especialmente asquerosa, nojenta, foi a carta à nação assinada pelo ex-presidente Lula e divulgada na quarta-feira, 24/10, não por coincidência o dia seguinte à visita que o presidiário recebeu de Franklin Martins, seu ex-ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social, o homem que criou a TV Lula, traço de audiência e milhões de reais do dinheiro do contribuinte jogados no ralo todo mês.

A carta de Franklin, perdão, de Luís Inácio Lula da Silva, é um das obras mais abjetas da História política do Brasil.

“A carta” – definiu o Estadão, em editorial – “é uma reafirmação de todas as mistificações que fazem de Lula um dos demagogos mais perniciosos da história nacional.”

Aí vai a íntegra do maravilhoso editorial.

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O ego de Lula

Editorial, O Estado de S.Paulo, 25/10/2018

Por mais que o PT tenha se esforçado para fingir que seu candidato à Presidência, Fernando Haddad, não é um mero preposto de Lula da Silva, há algo que nenhum truque de marketing será capaz de mudar: o PT sempre foi e continuará a ser infinitas vezes menor do que o ego de Lula. Na reta final da campanha eleitoral, justamente no momento em que Haddad mais se empenha para buscar apoio fora da seita lulopetista, o demiurgo de Garanhuns, decerto inquieto na cela em que cumpre pena por corrupção, resolveu divulgar uma carta para exigir – a palavra adequada é essa – que todos reconheçam a inigualável grandeza de seu legado como governante e que votem no seu fantoche se estiverem realmente interessados em salvar a democracia brasileira, supostamente ameaçada pelos “fascistas”.

O tom da mensagem é o exato oposto do que seria recomendável para quem se diz interessado em angariar a simpatia daqueles que, embora não tenham a menor inclinação para votar em Jair Bolsonaro (PSL) para presidente, tampouco gostariam de ver o PT voltar ao poder. Para esses eleitores, somente se o PT reconhecesse, de maneira honesta e sem adversativas, seu papel preponderante na ruína econômica, política e moral do Brasil nos últimos anos, cujos frutos mais amargos foram o empobrecimento do País e a desmoralização da política, talvez houvesse alguma chance de mudar de ideia. Mas isso é impossível, em se tratando de Lula da Silva, que se considera o mais importante brasileiro vivo e o maior líder que este país jamais terá.

Na carta em que diz que “é o momento de unir o povo, os democratas, todos e todas em torno da candidatura de Fernando Haddad, para retomar o projeto de desenvolvimento com inclusão social e defender a opção do Brasil pela democracia”, Lula não reserva uma única vírgula ao desastre econômico do governo de Dilma Rousseff, outra de suas inesquecíveis criações. Ao contrário: afirma que Dilma sofreu impeachment em razão de uma imensa conspiração de “interesses poderosos dentro e fora do País”, incluindo “todas as forças da imprensa” e “setores parciais do Judiciário”, para “associar o PT à corrupção” – omitindo escandalosamente o fato de que Dilma foi cassada exclusivamente por ter fraudado as contas públicas com truques contábeis e pedaladas. O petrolão, embora tenha sido motivo mais que suficiente para que o PT fosse defenestrado do poder para nunca mais voltar, não foi levado em conta no processo.

Como jamais teve compromisso real com a democracia – que pressupõe respeito a quem tem opinião divergente, para que seja possível o consenso – e também nunca reconheceu a legitimidade de nenhum governo que não fosse o seu ou de seus títeres, Lula não consegue soar democrático nem quando isso poderia favorecer o campo petista. A carta, ao contrário, é uma reafirmação de todas as mistificações que fazem de Lula um dos demagogos mais perniciosos da história nacional.

Lá estão as patranhas que tanto colaboraram para fazer do antipetismo um movimento tão sólido e vibrante, conforme atestam as pesquisas de opinião. Lula, sempre no plural majestático, diz que “fizemos o melhor para o Brasil e para o nosso povo” e por isso “tentam destruir nossa imagem, reescrever a história, apagar a memória do povo”. O sujeito desse complô, claro, é indeterminado, mas unido no que Lula chamou de “ódio contra o PT”. Tudo porque, diz Lula, “tiramos 36 milhões de pessoas da miséria”, porque “promovemos o maior ciclo de desenvolvimento econômico com inclusão social”, porque “fizemos uma revolução silenciosa no Nordeste” e porque “abrimos as portas do Palácio do Planalto aos pobres, aos negros, às mulheres, ao povo LGBTI, aos sem-teto, aos sem-terra, aos hansenianos, aos quilombolas, a todos e todas que foram discriminados e esquecidos ao longo de séculos”. Nada mais, nada menos.

Esse panegírico só serve para mostrar que Lula é mesmo incorrigível – e que seu arrogante apelo para “votar em Fernando Haddad” e assim “defender o estado democrático de direito” contra a “ameaça fascista que paira sobre o Brasil” não vale o papel em que está escrito.

25/10/2018

Dia nº 16 – Eles são iguaizinhos. Jair Nuliddad e Fernando Beocionário.

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