Crônica da eleição do horror (14)

Dia nº 16 – Terça-feira,  23 de outubro

“Varrer os bandidos do mapa;” “Varrer da face da terra.”

Há muito mais proximidade entre Jair Bolsonaro e Fernando Haddad do que sonha o vão fanatismo das duas seitas. Não é apenas que o capitão tenha, ao longo de seus 30 anos no baixo clero da Câmara, votado sempre junto com o PT pela manutenção dos privilégios de castas de servidores, contra as medidas de responsabilidade fiscal e de defesa de enxugamento da máquina estatal.   

Não é apenas que o lulo-petismo de Haddad seja tão adorador de algumas ditaduras quanto Bolsonaro o é da ditadura brasileira de 1964-1985.

Não é apenas que tanto o lulo-petismo quanto Bolsonaro tenham ao longo dos últimos 30 anos feito as críticas mais pesadas que pode haver às instituições básicas da democracia – Judiciário, Legislativo, imprensa.

Fernando Haddad e Jair Bolsonaro são iguaizinhos, irmãos gêmeos univitelinos, na capacidade de falar asneira atrás de asneira.

Provaram isso mais uma vez nos últimos dias.

Em vídeo exibido em telões na Avenida Paulista no domingo, 21/10, Bolsonaro pediu a seus eleitores que participassem das eleições no segundo turno “sem mentiras, sem fake news, sem Folha de S.Paulo“.

“A Folha de S.Paulo é a maior fake news do Brasil. Vocês não terão mais verba publicitária do governo”, ameaçou, como se O Estado Fosse Ele, o Luis XIV da Barra da Tijuca. “Imprensa vendida, meus pêsames.”

Prometeu que, se eleito, vai promover “uma limpeza nunca vista na história desse Brasil (sic)”.

“Vamos varrer do mapa esses bandidos vermelhos do Brasil.”

“Essa turma, se quiser ficar aqui, vai ter que se colocar sob a lei de todos nós. Ou [então] vão para fora ou vão para a cadeia.”

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Irmãos univitelinos. Jair Nuliddad e Fernando Beocionário

“Varrer do mapa” os adversários, os que não comungam com suas idéias. A mais clara negação de um dos princípios básicos da democracia,  o respeito aos contrários, a convivência com os opostos.

Os lulo-petistas diriam que esse é o típico exemplo do que pensa o fascista Bolsonaro.

Pois é.

Um dia depois, na segunda-feira, 22/10, em ato no Tuca, o teatro da PUC de São Paulo, um dos discursos mais aplaudidos foi o do padre Julio Lancelotti, que chamou Bolsonaro de fascista. “Contra o fascismo, resistência, revolução, insubordinação”, disse padre Julio.

Revolução e insubordinação não são assim propriamente princípios democráticos, mas vá lá, o padre Julio Lancelotti é apenas um fiel da seita lulo-petista.

Mas o que disse o próprio candidato?

“Ele é o anti ser humano. É tudo que precisa ser varrido da face da terra”, disse Haddad.

Os repórteres Ricardo Galhardo e Ananda Portela, do Estadão, viram o óbvio, e escreveram o que viram: “O candidato do PT acabou usando palavras parecidas com as que  Bolsonaro se referiu à oposição”.

“Vamos varrer do mapa esses bandidos vermelhos.”

“É tudo que precisa ser varrido da face da terra”

Igualinho que nem. Gêmeos univitelinos. Jair Nuliddad e Fernando Beocionário.

Nenhum dos dois, no entanto, chega propriamente a ser original. Em mais de uma ocasião, o Padinho Padre Cícero do PT, o grão-vizir, o babalorixá da seita, Lula da Silva I, já havia falado: “Precisamos extirpar o DEM da política brasileira”.

FOTO NILTON FUKUDA/ESTADAO

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No afã de elogiar a Venezuela, o genial Haddad ofende os militares

Se estivesse vivo, Sérgio Porto, o grande Stanislau Ponte Preta, o criador seguramente ficaria chocado com a quantidade de itens a ser armazenado no Febeapá, o Festival de Besteiras que Assola o País.

A quantidade e a qualidade.

As asneiras que Fernando Haddad falou a respeito de uma eventual guerra com a Venezuela, caso Bolsonaro seja eleito, são de fazer as gargalhadas quebrarem as tumbas de Sérgio Porto, do Barão de Itararé, de Bussunda.

Nem o talento dos maiores humoristas conseguiria bater o arsenal de idiotices proferido pelo candidato do PT na entrevista no Roda Viva da TV Cultura, na segunda, 22/10.

“O candidato do PT foi questionado se não via como um erro colocar o seu partido como uma única opção para a democracia”, relatou Tânia Monteiro no Estadão. ”Haddad rebateu dizendo que seu adversário ‘incita a morte de pessoas’. ‘O filho dele (Eduardo Bolsonaro), na Avenida Paulista, disse que vai declarar guerra à Venezuela. Ele nem conhece a situação das Forças Armadas. A Venezuela tem condições bélicas superiores a do Brasil’, disse Haddad. ‘Para o Brasil declarar guerra e mandar jovens brasileiros morrer na fronteira com a Venezuela ou pede ajuda para um império internacional, provavelmente os americanos, para quem ele bate continência, ou nós vamos mandar jovens brasileiros pobres provavelmente para morrer em um conflito que não é o nosso’, completou.”

Uau! Isso é que é uma bela fala de um candidato a presidente da República, e portanto a comandante em chefe das Forças Armadas brasileiras: a cara já sai dizendo que as Forças Armadas brasileiras são uma porcaria horrorosa, e perderiam feio uma guerra com a Venezuela!

Verdade que o lulo-petismo admira mais as Forças Armadas venezuelanas – que apóiam a ditadura instaurada por Hugo Chávez – do que as Forças Armadas brasileiras, que há 33 anos se mantêm absolutamente fiéis aos preceitos da Constituição – Constituição essa que, por falar nela, o PT se recusou a assinar.

Inteligência! Sagacidade! Jogo de cintura! Sabedoria na escolha dos temas, da forma de abordá-los! Presença de espírito! Fernando Haddad é mesmo um gênio da raça.

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Oficiais generais se sentem ‘desrespeitados’ com a sagaz falsa de Haddad

Diz a reportagem de Tânia Monteiro, a experiente repórter do Estadão que cobre a área militar:

“Oficiais generais presentes à cerimônia do Dia do Aviador, realizada na Base Aérea de Brasília, nesta terça-feira, se disseram ‘desrespeitados’ com declarações do candidato Fernando Haddad (PT) em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, na noite de segunda-feira, 22.!”

E mais adiante:

“Os militares presentes na cerimônia, que preferiram falar na condição de anonimato, disseram se sentir ‘ofendidos’ e ‘desrespeitados’ com a fala do candidato. Segundo eles, Haddad ‘não conhece nada das nossas Forças Armadas’ e está ‘menosprezando’ a formação dos militares brasileiros. Criticaram ainda a forma que o petista lida com uma questão delicada ao citar de forma irresponsável sobre declarar guerra ao país vizinho com apoio dos Estados Unidos.

“Desde segunda-feira, 22, os militares já estavam incomodados com o candidato do PT que, para atacar Bolsonaro, afirmou que as instituições estão se sentindo ameaçadas, inclusive pela linha dura de parte das Forças Armadas. Na segunda-feira pela tarde, Haddad disse, antes de participar de evento com catadores de material reciclável em São Paulo, que ‘as instituições estão se sentindo ameaçadas, inclusive pela linha dura de parte das Forças Armadas’.

“Essa afirmação, ao lado da fala do filho de Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro, de que bastava um soldado e um cabo para fechar o Supremo Tribunal Federal levaram ‘grande preocupação e insatisfação’ entre os militares. Embora o candidato e seu filho tenham pedido desculpas, entendem que o ataque não foi bom. No entanto, a cúpula das Forças Armadas decidiu não responder. A avaliação foi de que em momento eleitoral, é melhor não polemizar a questão e por considerá-la ‘tema de campanha eleitoral’. Para integrantes do Alto Comando das Forças Armadas consultados pelo Estado, responder estes ‘absurdos’ seria levar para dentro dos quartéis assunto tipicamente político partidário, afeto apenas quem está na disputa das eleições.”

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E o genial Haddad repetindo uma fake news?

Na quinta-feira passada, 18/10, a Folha de S. Paulo quebrou o galho da campanha de Haddad, fornecendo a ela uma desculpa – bastante esfarrada, é verdade, mas em todo caso uma desculpa – para explicar a derrota nas urnas: ah, foram as fake news! Foi o WhatsApp!

O PT entrou com tudo na história. Haddad e o PT pediram a impugnação da chapa de Bolsonaro – que venha o Ciro Gomes, o terceiro colocado, disputar o segundo turno, bradaram, felizes.

A possibilidade de sair dizendo que houve fraude é uma alegria para o lulo-petismo. É o tipo de estrategema que eles adoram.

Pois não é que, agora, na segunda e na terça-feiras que precedem a votação do segundo turno, Haddad pôs tudo a perder?

O Globo publicou a análise de Pedro Dias Leite. Aí vai, começando pelo título e pela linha fina, o olhinho:

Análise: Erro de Haddad abala tática petista de culpar ‘fake news’ por desvantagem

Candidado do PT à Presidência repetiu em sabatina acusação equivocada de Geraldo Azevedo, que acusou Mourão de tortura

Ao repetir sem checar uma acusação grave, e que se provou falsa, Fernando Haddad cometeu um erro que abala sua principal estratégia na reta final do segundo turno. Nos últimos dias, o candidato do PT à Presidência vinha creditando a vantagem de Jair Bolsonaro a uma indústria maciça de “fake news”. A distância de 20 milhões de votos do capitão reformado seria, única e exclusivamente, pelas mentiras espalhadas por seus partidários. Como insistir nisso depois de propagar, ele mesmo, uma notícia falsa?

Agora , toda vez que Haddad reclamar do massacre de notícias falsas contra sua campanha, partidários do adversário do PSL já têm pronta a resposta: quem espalha “fake news” é o petista, que acusou, injustamente, o general Hamilton Mourão de ser um torturador durante a ditadura militar .

O erro estratégico denota, também, o grau de pressão e de exaustão no quartel-general petista. A acusação a Mourão foi deliberada e repetida por Haddad na sabatina promovida pelos jornais O GLOBO, Extra, Valor Econômico e a Revista Época, com o objetivo de obter repercussão: “Deveria estar em todas as primeiras páginas amanhã”, disse o candidato.

Mas bastou uma busca no Google, assim que a frase foi dita, para mostrar a inconsistência da afirmação. Mourão tinha 16 anos à época em que o cantor Geraldo Azevedo foi barbaramente torturado – e as sevícias a que foi submetido são verdades comprovadas, é bom destacar. Uma acusação dessa gravidade, feita por um político que luta contra as fake news, jamais poderia ter sido feita com leviandade.

Em pouco mais de uma hora, a máquina de checagem do jornalismo profissional entrou em ação, e o erro estava esclarecido: Mourão afirmou que ainda estava no colégio, e Geraldo Azevedo disse que se equivocou e pediu desculpas pelo seu erro.

O equívoco do cantor pode ter acontecido de boa fé, ao contrário das fake news clássicas, criadas para desinformar. Mas ao ter sua repercussão ampliada contribuiu ainda mais para quem aposta na confusão de informações.

A situação eleitoral de Haddad antes do episódio já era delicada. As pesquisas praticamente não se alteraram desde o começo do segundo turno, com larga vantagem para Bolsonaro. Sua principal e última aposta dos últimos dias, de creditar a desvantagem a uma tática suja de fake news do adversário, sofreu um enorme baque com o erro da manhã desta terça-feira.

12/10/2018

Dia nº 15 – As instituições são sorvete ao sol do Planalto Central?

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