Crônica da eleição do horror (10)

Dia nº 10 – Quarta-feira, 17 de outubro

Elogiar Bolsonaro pega muito mal

Jair Bolsonaro está melhorando as coisas no Chile.

Calma, calma! Isto aqui não é um elogio a Bolsonaro, não, de jeito nenhum.

Bolsonaro está tornando as coisas melhores no Chile exatamente por ser o que é: direitista demais, defensor da ditadura, da tortura.

O presidente chileno Sebastián Piñera andou fazendo elogios ao candidato brasileiro, durante recente viagem à França e Espanha. Disse compartilhar a visão econômica de Bolsonaro, e que o brasileiro ”vai na direção correta”.

Pegou mal. Pegou tão mal que Piñera pouco depois acrescentou que tinha ”discrepâncias profundas em algumas áreas” com o militar reformado brasileiro.

“Depois de ter pisado na bola com suas expressões sobre Bolsonaro, o presidente está tentando se descolar do candidato”, analisou Guillermo Holzzman, professor da Universidade do Chile, segundo relata Janaína Figueiredo, em reportagem em O Globo desta quarta-feira, 17/10.

Piñera está no segundo mandato como presidente do Chile; foi eleito pela primeira vez em 2009, pelo partido de centro-direita Renovación Nacional, e sucedeu à socialista Michelle Bachelet. Michelle Bachelet foi reeleita em 2013, e Piñera venceu a eleição seguinte, de 2017. Foi o primeiro presidente de partido de centro-direita a governar o Chile desde a redemocratização: do fim do regime do general Pinochet Ugarte em 1990 até 2009, o Chile só havia sido governado por partidos de centro-esquerda.

Os tempos da ditadura do Chile (1973-1990) estão ainda muito presentes na vida política do país. E, lá, quem elogia militares acusados de tortura é punido. Há poucos dias, um coronel transmitiu em cerimônia informal na Escola Militar um recado de seu pai, brigadeiro condenado e preso por crimes de lesa Humanidade, em defesa dos que “enfrentaram o comunismo” durante a ditadura militar.

O comando do Exército imediatamente passou para a reserva o coronel defensor da ditadura.

E, também imediatamente, Piñera defendeu o ato do comando do Exército. Como informou El Mercurio, o Estadão chileno, o grande jornal mais antigo e tradicional do país, “Gobierno defiende remoción de director de Escuela Militar y de coronel Krassnoff Bassa. Ministro del Interior dijo que en los recintos militares ‘no se pueden hacer actividades’ respecto de personas que están hoy con ‘condena judicial’”.

Eis um trecho da reportagem de Janaina Figueiredo:

“A velocidade de atuação do governo Piñera chamou a atenção. Em seu segundo mandato, o presidente armou um Gabinete formado por ministros que, em alguns casos, ainda defendem a ditadura e votaram a favor do ‘sim’ a Pinochet no plebiscito de 5 de outubro de 1998, que, graças à vitória do ‘não’, marcou o começo da redemocratização.

“Segundo analistas ouvidos pelo Globo, existe uma tensão evidente dentro do Executivo, mas, também, uma decisão cada vez mais firme de Piñera de liderar um processo de modernização da direita, rompendo definitivamente com a herança pinochetista.

“Paralelamente, os mesmos analistas apontaram a influência do fator Jair Bolsonaro na crise entre Piñera e as alas mais radicais da direita e das Forças Armadas, poucos dias depois de o chefe de Estado ter feito elogios ao candidato presidencial brasileiro que, segundo as análises, ‘pegaram mal em importantes setores da sociedade’.

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Em resumo: para fugir das críticas por sua pisada na bola de elogiar Jair Bolsonaro, o governo do presidente Piñera está acelerando seu distanciamento de qualquer resquício de apoio à ditadura Pinochet.

Em outras palavras: ficar longe de Bolsonaro faz bem.

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É extraordinária a coerência do PT. Extraordinária!

Não dá para deixar de repetir: o PT tem uma capacidade incrível, fantástica, inacreditável, de ser coerente com o princípio da incoerência.

Na quarta-feira da semana passada, 10/10, O Globo informou em manchete: “Jaques Wagner negocia frente com FH, Ciro e Marina”. E transcreveu as seguintes declarações do ex-ministro e ex-governador da Bahia, recém-eleito senador:

“Temos que procurar todos os que estão na política e têm responsabilidade com o país.” (…) A construção do país é tijolo por tijolo, ninguém faz nada sozinho. O Fernando deu uma bela contribuição ao Brasil. Nós aprendemos a responsabilidade fiscal com ele. É uma coincidência negativa da História que, em vez de ficarem juntos, PT e PSDB tenham polarizado um com o outro. Foram as melhores forças que surgiram no período democrático.”

Na primeira página do jornal, o texto abaixo da manchete “Jaques Wagner negocia frente com FH, Ciro e Marina” era assinado por Bernardo Mello Franco. O texto ao qual a primeira página se remetia, e que trazia os parágrafos reproduzidos logo acima, era de Bernardo Mello Franco, um jornalista que tem demonstrado com insistência que tem excelente trânsito entre os próceres do PT. É assim uma espécie de porta-voz do PT.

E não é que, na edição desta quarta-feira, 17/10, O Globo teve que publicar na primeira página o título “PT agora nega busca por ‘frente democrática’”?

Diz a matéria assinada por Catarina Alencastro e Sérgio Roxo:

“’Que frente?’, respondeu Jaques Wagner, ao ser perguntado se a declaração de Cid (Gomes) enterrava o plano (de se criar uma frente democrática pró Haddad e contra Bolsonaro). “A gente quer ampliar com a sociedade. A gente conversa com todo mundo, mas não tem idéia de frente.”

Vamos repetir: na quarta-feira passada, 10/10, O Globo informou em manchete: “Jaques Wagner negocia frente com FH, Ciro e Marina”.

A matéria era assinada pelo jornalista do Globo que mais tem conversado com os dirigentes do PT. Havia aspas em falas de Jaques Wagner: “Temos que procurar todos os que estão na política e têm responsabilidade com o país.”

Não houve qualquer desmentido. Nem Jaques Wagner nem ninguém da direção do PT procurou O Globo para dizer que não havia negociação para se fazer uma frente com FH, Ciro e Marina.

Aí Ciro viajou para a Europa, Marina voltou a seu casulo de onde só sairá daqui a quatro anos, e FHC não caiu na armadilha – FHC, definitivamente, não é bobo, não é jejuno, não é babaca. Babacas são os petistas que ficam cantam “Lula, Lula”, disse Cid Gomes, em evento do próprio PT, em Fortaleza, na segunda-feira, 15/10.

E aí então Jaques Wagner diz: “Que frente?”

É preciso realmente tirar o chapéu para o PT, para os lulo-petistas. Nunca houve, neste país, ou em qualquer outro país deste planeta, qualquer grupamento, político ou não, com tamanha capacidade de ser coerente com o princípio da incoerência.

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E, nesta quarta, o próprio Fernando Nuliddad, perdão, Fernando Andrade, perdão, Fernando Suvinil, perdão, Fernando Haddad veio a público fazer elogios ao juiz Sérgio Moro e críticas às isenções fiscais dadas pelo governo Dilma Rousseff.

Já começam a chamá-lo de Fernando Falsiddad.

17/10/2018

Dia nº 9 – A questão básica é que Bolsonaro não tem competência.

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