Complô familiar

Descobri há pouco uma trama familiar contra objeto de uso profissional que me era caro. A peça, é verdade, tinha algum tempinho de uso, hã… duas décadas. Tratava-se de uma bolsa de lona verde, com duas divisões, e, costurados fora, dois bolsos. Como as que se vendiam em lojas de artigos para pesca e caça, quando esta não era proibida.

Esse tipo de bolsa foi-me muito útil nos memoráveis tempos em que o Jornal da Tarde nos mandava para pontos recônditos do País (Anélio Barreto estava na aldeia de índios que adoravam a lua quando Neil Armstrong pisou no satélite, em 1969). Na área urbana a bolsa também vinha bem, por sua praticidade.

A última que comprei, objeto do atentado, foi ficando velha, desbotada, com uma carinha meio ruim, mas continuava íntegra. A família achava um despropósito eu não trocá-la por uma nova, de modelo atual. Ora, eu reagia: por que, se esta é tão boa?

Não que tivesse apego afetivo. Também usei muito um chapeuzinho cáqui, para me proteger da inclemência do sol em certas matérias. Em 1990 esqueci o dito na casa de um entrevistado, na Chapada dos Guimarães, Mato Grosso. Três quilômetros depois percebi; estava pronto para voltar e pegá-lo, quando imaginei a cena: um caixão a caminho da cova, e sobre ele o mítico chapeuzinho que o falecido usava em suas matérias… Deixei lá.

Há quase três anos, mudei com a família de casa para apartamento. No dia seguinte à mudança, viajaria para um frila em Goiânia. Onde está minha bolsa? Não achei. Nunca mais achei. Bem, mudanças são assim mesmo, coisas se perdem. Há duas semanas a verdade surgiu, graças à confissão de duas cúmplices. Enquanto eu estava fora, minha dedicada e saudosa Haydée tomou uma decisão, apoiada por Mônica, nossa filha, e Dena, minha cunhada. Jogou a bolsa no lixo!

Fevereiro de 2018

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