Se há uma coisa que Marina não é…

Nestes dias às vésperas da quinta festa de Natal na vida de Marina, me ocorreu que minha neta, que merece um número tão grande de bons adjetivos – fofa, doce, suave, gostosa, amável, carinhosa, atenciosa –, não faz jus a “surpreendente”.

Não, Marina não é uma pessoa surpreendente. Bem ao contrário. De uma maneira geral, na grande maior parte das vezes, é uma criaturinha previsível. Seu comportamento de fato segue alguns padrões – raramente fogem deles.

Graças ao bom Deus.

Faz muito tempo que Mary e eu brincamos que, no quesito grudentismo, Marina puxou a avó – por algum tipo de osmose, já que DNA definitivamente não é. Pai e mãe não são grudentos, e no entanto a pequena é, e bastante. Gosta de grudar, ficar pertinho, abraçar, receber carinho, fazer carinho. Agora chego à conclusão de que herdou da avó também a coisa de ser previsível, nada surpreendente.

Tivemos mais uma comprovação disso no outro sábado, 16 de dezembro, quando a levamos à festa de aniversário do colega e amigo Theo.

Não tem jeito: já grandinha, chegando perto dos 5 anos, Marina leva um tempo para se ambientar, para se sentir minimamente à vontade num lugar que não domina. Mesmo que conheça um monte de gente que está lá.

E se repetiu na festa do Theo. Mary nos deixou diante do prédio e foi procurar lugar para estacionar. Os pais do Theo foram absolutamente simpáticos, me deixaram à vontade; pais de vários outros alunos da escolinha cumprimentaram Marina pela nome e me cumprimentaram. O clima era bom, gostoso. Mas a pequena quis ficar do meu lado, grudadinha em mim, ou no colo.

A mãe havia me prevenido com todas as letras: “Marina demora pra se enturmar, às vezes nem se enturma”.

As pessoas passavam, diziam oi pra ela, convidavam para brincar – e ela ali, grudadinha no avô. E às vezes perguntava por que a avó estava demorando.

É assim desde sempre, e não muda: desde muito pequenininha, Marina, ao chegar a um ambiente que não domina, fica quieta, muda, quase imóvel. Observa. Observa. Observa. Leva um bom tempinho pra se sentir à vontade, se soltar.

E aí tem DNA. É exatamente, mas exatamente como eu me lembro que era a mãe.

Incrível, impressionante como é igual à mãe em tantas coisas.

***

E é sempre a mesma coisa: depois de um tempinho, vai se soltando. Desta vez foram uns 15 minutos; a avó já tinha chegado. A Raquel passou mais uma vez perto de nós, mais uma vez a chamou – e dessa vez ela foi. Daí a um minuto estava sentadinha no chão, ao lado de outras crianças, em volta de uma toalha de mesa posta no chão para um piquenique de hamburguinho. Na maior.

A Raquel foi professora dela no ano passado; os pais do Theo a contrataram para servir como a animadora da festa, a coordenadora das brincadeiras, uma belíssima sacada. E Raquel ainda tinha uma ajudante, a Luciana, que também trabalha ou trabalhou na escola, e portanto conhece bem a maioria das crianças que estava ali.

E havia ainda uma moça encarregada de maquiar as crianças que tivessem vontade.

Marina resolveu entrar na fila. Tem gostado dessa coisa de maquiagem – dois dias antes, na festa de aniversário de três coleguinhas da escola, num buffet, tinha sido maquiada como gatinha.

Entrou na fila atrás de dois meninos – dois ou três.

Temerosa de que pudessem passar a perna em Marina na fila, Mary foi se sentar num banco bem próximo de onde estava a moça da maquiagem. Mas foi uma preocupação exagerada: os meninos estavam comportadinhos, esperando a vez na fila numa boa.

O que não deixa de ser uma coisa impressionante.

Acho que foi Marina mesma que pediu que a maquiagem fosse de unicórnio. E a moça é competente, muito boa de serviço, e a maquiagem da pequena ficou linda.

A rigor, a rigor, esta agenda aqui é só pretexto para botar no 50 Anos algumas fotos da sequência da pequena sendo maquiada. (As fotos estão aí abaixo, ao final do post.)

***

Nada surpreendente – previsível. Demonstrou isso mais uma vez nos primeiros minutos da festa do Theo. Calma, tranquila, paciente, na maior parte do tempo. Demonstrou isso mais uma vez ao esperar numa boa a sua vez de ser maquiada.

Naquele sábado, tanto durante a festa de aniversário quanto no bom tempo em que ficou aqui em casa, demonstrou mais uma vez que tem tido especial predileção por algumas brincadeiras, como o desenho (uma das muitas óbvias, claríssimas forças do DNA do pai) e o teatrinho, o faz-de-conta, o encenar histórias, situações.

Na sexta seguinte, 22, antevéspera da festa de Natal, fui vê-la na casa dela – e, como tem feito praticamente todas as vezes, quis brincar de teatrinho, faz-de-conta, encenação de histórias. Mas…

Pois é. Mas no entanto todavia contudo…

Noi final de tarde de sexta antevéspera de Natal, Marina estava ligeiramente aceleradinha.

O advérbio é bem importante. Ligeiramente. Suavemente. Vagamente.

Assim como se o toca-disco, em vez de girar o prato a 33 e 1/3 de rotações por minuto, girasse, digamos, a 34 rotações, e a voz da cantora ficasse ligeiramente mais aguda. Só ligeiramente. Vagamente.

Ou como se o projetor do grande cinema, em vez de passar a película à velocidade de 24 quadros por segundo, passasse a uns 25, ou 26, e então víssemos as pessoais se movimentando de forma ligeiramente mais acelerada que o normal. Mas só ligeiramente, vagamente – não daquele jeito em que vemos os primeiros filmes mudos, as comédias pastelão que rodavam entre 16 e 20 quadros por segundo e ficam super rápidas quando passadas a 24.

Era tão suave, de pouca monta a aceleração de Marina, que eu mesmo nem me dei conta dela, durante a hora e meia, quase duas, em que ficamos juntos, brincando no quarto dela.

Foi só quando minha filha me perguntou em mensagem à noite se Marina esteve agitada o tempo todo, ou só na hora em que ela se reuniu a nós no quarto da pequena, depois de termos ficado mais de uma hora sozinhos, que me dei conta. Sim, de fato a pequena tinha estado o tempo todo um pouquinho mais agitada que o normal.

Um pouquinho. Bem pouquinho. Mas, como saiu – ainda que levissimamente – do padrão, e Marina sai muito pouco do padrão dela, a mãe, com a sensibilidade que só mãe tem, notou.

E aí eu também notei – mas só depois que Fêzinha falou. Depois do alerta, olhando em retrospecto, sim, deu para perceber.

Mas se a mãe não tivesse notado, eu muito provavelmente não pensaria nisso.

***

Difícil resumir em que consistiu esse ligeiramente mais agitada, mas dou alguns exemplos.

Em geral, na grande maioria das vezes, Marina escolhe uma brincadeira – e não é um processo demorado. Pensa um minutinho, decide e diz o que quer fazer. Nesta sexta, ficou em dúvida. Olhava para a parede com as estantes de brinquedos, e não se decidia. Reclamou que havia coisas fora do lugar, resolveu botar em ordem.

Depois, tirou todas as muitas coisas de uma das gavetonas de brinquedos.

Um pouco depois, já fazendo um teatrinho, um faz-de-conta – ela era a mamãe, eu o papai, a Pat bonecona grande a nossa filhinha que ia muito bem na escola e tinha muitos livros de estudo –, começou a tirar os livros de um das áreas da estante. Tirou todos, uma quantidade absurda. Quando a mãe veio se encontrar conosco de novo, depois de tentar um cochilo, espantou-se com a bagunça.

A pequena ainda inventou uma outra brincadeira. Depois de eu ter pedido algumas vezes para ela ler um livro pra mim (tinha “lido” um, deliciosamente, para a avó, dias atrás), ela topou – mas de um jeito brincalhão, engraçado. Ia até a cama, pegava um dos vários livros que haviam sido retirados da estante, sentava-se diante de mim e da Pat, abria e fechava o livro em meio minuto, dizendo: – “Era uma vez – e fim!”

Repetiu isso diversas vezes, com uma carinha boa, de quem estava se divertindo com a brincadeira que tinha acabado de inventar.

Ou seja: nada muito estranho, nada muito diferente do normal dela. Apenas um pouquinho mais acelerado. Ligeiramente mais acelerado.

É exatamente porque Marina em geral, na imensa maior parte do tempo, segue alguns padrões, que deu para perceber que ela estava agitadinha. E mesmo assim eu só consegui perceber, repito, em retrospecto, olhando para trás, lembrando, depois que mãe falou que tinha achado.

E por que seria?

Ah, meu, motivo não falta. Festa demais. Expectativa para o jantar daquela noite, que seria de gala – só os três, à luz de velas. Expectativa para a festa de Natal. Vida social intensa.

E foi coisa passageira. Ficou tranquila, no normal dela, depois disso. No dia seguinte, o sábado véspera da festa de Natal, enfrentou com a mãe “um Pão de Açúcar insuportável como uma lady!”

É. Marina não é uma criatura surpreendente. É, entre muitas outras coisas, fofa, doce, suave, gostosa, amável, carinhosa, atenciosa, grudentinha.

E às vezes uma lady.

Ou, como a gente diria, nos tempos do velho JT: É uma lady, porra!

Aqui, finalmente, a seqüência de fotos.

 

23/12/2015, o quinto ano em que minha filha voltou a ter prazer com o Natal.

A foto do alto é de Mary Zaidan. As demais são de Sérgio Vaz. 

2 Comentários para “Se há uma coisa que Marina não é…”

  1. Um beijo, querida Marina, e muitas alegrias nas festas e em todo o ano que vem.
    Você é mesmo uma lady, podemos ver pelas fotos. E ficou linda de pequena unicornio…
    Com todo o carinho da amiga
    Maria Helena

Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *