Marina e a Emília

Marina se apaixonou por Emília.

Não sei exatamente quando e como isso aconteceu – mas alguém sabe exatamente onde e quando uma pessoa se apaixona por outro, por uma idéia, por um personagem?

Foi nas últimas poucas semanas, em final de setembro ou início de outubro, e portanto quando Marina estava com 4 anos e meio.

A mãe nos disse uns dez dias atrás que ela chegou da escola falando de Emília e do Sítio do Picapau Amarelo. E cantando o refrão da música: “Emília, Emília, Emilia…”

Na quarta-feira, dia 11/10, Marina nos contou: a Alcione, lá da escola, cantou a música da Emília.

Explicou que a Alcione é funcionária da escola, limpa, cuida das coisas. Não ficamos sabendo por que ela foi escolhida pelos professores para dançar a música da Emília para as crianças, mas eles seguramente sabem o que fazem, porque a Alcione deve ser muito boa…

A mãe havia contado da nova paixão feliz da vida, sabendo que o pai dela adoraria saber que a neta chegou ao mundo de Monteiro Lobato – e sugeriu que pensássemos nisso para o Dia das Crianças.

A avó, rápida que nem lanceiro em praça ou ônibus lotado, descobriu na internet uma boneca de pano da Emília e encomendou.

Aconteceu de passarmos um monte de dias sem ver a pequena – nove, um absurdo, –, e, quando a vimos, na quarta, dia 11, houve um problema, Marina fez birra, eu fiz birra, mas depois ficou tudo bem. E então entregamos o presente.

Ela a-do-rou.

Deu um berro: – “Cau! Olha só!” – e saiu correndo atrás da Cau para mostrar a Emília.

Sugerimos que ela apresentasse a nova amiga aos amigos antigos, e ela mais que depressa foi ao quarto e apresentou Emília ao Elmo, o mais antigo e mais querido de todos os muitos amigos. E o que ela disse foi bonitinho demais: – “Bem-vinda à minha casa. Espero que você goste.”

E não largou a Emília.

Quando ouvi os passos de salto alto da mãe dela chegando do trabalho, falei algo tipo: – “Ih, tem uma mãe chegando” – e aí a pequena correu para receber a mãe, e, do quarto dela, ouvimos que ela dizia: – “Mamãe, mamãe, você não vai acreditar. Feche os olhos, mamãe. Vem comigo.”

E veio trazendo a mãe até o quarto dela, para, feliz da vida – “Agora pode abrir os olhos” -, apresentar Emília.

Ora, ora, ora…

Essa menina ganha presente até demais. Gosta muito, dá importância; na maior parte das vezes, grava na memória quem deu que presente.

Mas poucas vezes vimos ela ficar tão satisfeita com um presente quanto ficou com essa bonequinha de pano bem baratinha que acontece de ser a Emília do Sítio do Picapau Amarelo.

***

Na sexta-feira espremida entre o feriado e o fim de semana, foi convidada por uma amiguinha para brincar na casa dela, que acontece de ser não no bairro, mas em outra região desta cidade que não tem mais fim não tem mais fim. Foram para lá três meninas da turma, Marina e mais duas. Marina levou a Emília.

***

Neste domingo, a mãe a deixou conosco tipo meio-dia e meia. Desci para pegá-la lá na rua. Não me espantei em ver que trazia com ela não o Elmo, mas a Emília.

Brincamos de um monte de coisas, é claro – mas, quando eu mencionei que achava que tinha a música da Emília, adorou especialmente. Fui atrás dos LPs do tempo do mãe dela, e lá estava, sim, o Pirlimpimpim. Com a faixa “Emília – A Boneca de Pano”, cantada pela Baby Consuelo, composição Baby-Pepeu.

Ouviu a música vidrada, atenta, feliz.

No meio da tarde, quando fizemos uma pausa nas brincadeiras e vimos um desenho (Vera e o Reino do Arco-Íris, a mais nova paixão “cinematográfica” da pequena), sentou-se na cadeira de balanço em que a mãe a amamentou com a Emília no colo. Atenta, vidrada nas aventuras da Vera, mas segurando sempre a Emília no colo.

Antes de ela ir embora com o pai, quase 8 da noite do primeiro dia de horário de verão, falei com ela de um livrinho que tinha comprado fazia um bom tempo, mas ainda não tinha tido oportunidade de ler para ela, O Mês de Abril, lançado pela editora Globinho na coleção Pirlimpimpim. Sugeri que ela levasse, pro pai ler pra ela na casa dela. Quis que eu lesse naquela hora mesmo.

É fantástica a magia de Emília.

Que maravilha que a Globo trouxe o Sítio do Picapau Amarelo para as gerações mais novas.

15 e 16/10/2017

4 Comentários para “Marina e a Emília”

  1. Quando completei 10 anos recebi de presente a coleção completa “O Sitio do Picapau Amarelo”, encadernada em couro marrom, com uma Emilia nas capas. Foi o presente que mais me apaixonou. Cuidava bem dos livros, mas assim mesmo, os coitados ficaram batidinhos, de tanto andarem comigo, de cá pra lá. Eu lia diariamente algum daqueles livros, era paixão mesmo. Guardei-os com cuidado para dar a meus filhos. Bem, só tive um filho e ele sentiu, logo que aprendeu a ler, a mesma paixão por Lobato, que leu nos mesmos volumes de sua mãe… Vocês podem imaginar o estado dos livros, hoje. Mas continuam nas estantes aqui de casa…

    Minha mãe me chamava de Emília, por achar que eu era espevitada, arteira, respondona, e colecionadora de objetos queridos numa malinha.

    Li Andersen, Grimm, Dickens, Damici, Molnar, e tantos outros. Mas nenhum como Monteiro Lobato, o gênio da nossa literatura, o pai da adorável Emília e do sensacional Visconde.

    Fiquei feliz ao ver a doce Marina cair nas graças da Emília!

    Um beijo, Marina. E dê um beijo na Emília por mim, por favor.

  2. Que demais essa nova paixão, e que legal que ela gostou da boneca de pano. Sinal de que já sabe dar valor às coisas simples da vida?
    E melhor ainda, que maravilha que ela chegou ao mundo de Monteiro Lobato! (Reli “Reinações de Narizinho” no carnaval deste ano, e ouso dizer que gosto mais dos livros dele para crianças do que dos para adultos).

    P.S.: E pensar que um certo partidinho aí queria censurar as obras de Monteiro…
    E um ator global que disse numa palestra em Salvador, que não vai permitir que os filhos dele leiam Lobato, porque ele era racista, mimimi, ZzzzZzzzz? Uma amiga estava presente, e me disse que também não vai ler nem deixar que os (futuros) filhos dela leiam.

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