Fui apressado. Errei. Não vejo prova de crime de responsabilidade

Eram 12h20 desta quinta-feira, 18/5. quando postei um texto dizendo que o menos ruim para o Brasil era afastar Michel Temer o mais rápido possível da Presidência.

Passadas menos de 10 horas, vejo que fui apressado. Errei. 

Não tenho mais certeza se o presidente de fato cometeu um crime de responsabilidade. Na verdade, não vejo prova de crime de responsabilidade naquele áudio divulgado no finalzinho da tarde.

Fui levado a achar que havia pela informação categórica de que, na conversa com Joesley Batista, Temer “avalizou” o pagamento de propina para que o ex-deputado Eduardo Cunha ficasse em silêncio.

Com a divulgação dos áudios, autorizada no final da tarde desta quinta, 18/5, pelo ministro Edson Fachin do STF, o que era uma prova cabal demonstrou-se nem tão prova nem tão cabal assim:

Joesley: “Que que eu mais ou menos dei conta de fazer até agora? Tô de bem com o Eduardo…”

Temer: “Tem de manter isso, viu?”

Péra lá: essa é a prova de crime de responsabilidade?

É claro, é óbvio: não foi uma atitude republicana Temer receber, em março, no Palácio Jaburu, um empresário afundado nas investigações da Lava Jato. Não foi. Não foi republicano ter ouvido tudo aquilo e não ter tomado qualquer tipo de atitude contra o empresário sabidamente corruptor – um bandido.

Mas não há qualquer prova de que Temer “avalizou” o pagamento de dinheiro a Eduardo Cunha em garantia de seu silêncio. Não há qualquer prova de que Temer “deu aval” à compra de silêncio de Cunha.

A divulgação da denúncia de Joesley Batista foi feita ontem, quarta, 17/5, com um estardalhaço muitíssimo maior do que o conteúdo, no que se refere a Michel Temer.

Como muita gente, eu acreditei no que li e ouvi.

E cheguei a conclusões precipitadas. Errei.

***

Pode ser que nos próximos dias se comprove que Michel Temer não tem mais condições políticas de permanecer na Presidência. Todos sabemos que Temer não é um presidente popular – muitíssimo ao contrário. Está colocando toda sua força, todo seu empenho, em tocar as reformas trabalhista e previdenciária, que, embora absolutamente necessárias ao país, são tremendamente impopulares.

E ele tem como principal opositor de seu governo o PT, um partido que, se sabe alguma coisa (além de roubar, mentir e destruir a economia do país), é fazer uma oposição forte, dura, implacável.

A forma com que foi divulgada essa delação de Joesley Batista, o tamanho estardalhaço que se fez, o fato de a divulgação ter sido feita pela empresa jornalística mais poderosa do país, de maior audiência e respeitabilidade, tudo isso seguramente ajudou a minar o pouquíssimo apoio popular com que Temer contava. E a minar também o apoio que seu governo tinha no Parlamento.

Assim, pode ser que a continuidade do governo Temer venha a se provar impossível.

Será uma grande pena, porque a verdade é que seu governo, ao longo de um ano, contra tudo e contra quase todos, obteve resultados muito bons na economia, como eu mesmo escrevi aqui um dia antes de o jornalista Lauro Jardim aparecer com aquela bomba atômica, e também na política, como escreveu no Blog do Noblat e eu reproduzi aqui no próprio dia da bomba atômica o professor Hubert Alquéres.

Será uma grande pena. Mas aí, se isso vier infelizmente a acontecer, vale o que eu escrevi horas atrás no meu texto que partiu da premissa errada de que Temer tinha que deixar o governo o quanto antes: se Temer vier a ser cassado pelo TSE, ou se vier a renunciar, ou sofrer impeachment, a saída é uma só: seguir o que determina a Constituição e promover a eleição indireta para terminar o mandato.

***

Agora, que Lauro Jardim e em seguida todas as Organizações Globo anunciaram ontem, quarta, 17/5, uma bomba atômica, e os áudios divulgados hoje comprovaram que a rigor o que há é uma bomba com capacidade para destruir alguns quarteirões, lá isso é verdade.

Isso não me inocenta pelo erro de ter aceito a premissa errada. Errei, fui apressado, escrevi sem esperar para ver exatamente o que o áudio da gravação demonstrava. Escrevi sem primeiro checar melhor.

Mas estou convencido de que foi um grande erro jornalístico. Do repórter, e em seguida dos editores e comentaristas do Jornal Nacional e do Jornal das 10 da Globonews.

Todo mundo está sujeito a cometer erros. Eu errei. Temer errou ao receber o empresário corruptor no Jaburu. As Organizações Globo erraram.

Meu erro só prejudicou a mim mesmo. Os erros de Temer e das Organizações Globo, infelizmente, prejudicaram enormemente o país.

18/5/2017, 22h05

2 Comentários para “Fui apressado. Errei. Não vejo prova de crime de responsabilidade”

  1. Todos nós somos passíveis de erro.
    No princípio, também achei que Temer cometera quase um crime de lesa-pátria. Fui induzido a isso pela manchete falsa do Jornal O Globo e pelas chamadas sensacionalistas da TV Globo.
    Agora, passados dois dias, as coisas começam a ficar claras. Há, inclusive, dúvidas sobre a higidez das gravações, dada a possibilidade de sua edição. A se confirmar isto, um crime teria sido cometido pelo Procurador Geral da República ao dar como verdadeira uma fita editada, com a participação negligente do Ministro Fachin, que descuidou-se de, primeiro, mandar ver se a fita não havia sido editada.
    Enfim, o tempo porá as coisas no devido lugar. Só não fará o Brasil recuperar a oportunidade perdida de fazer as necessárias reformas, entre elas a da previdência, que afetaria diretamente procuradores, promotores, juizes, etc.

Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *