Está melhorando (20)

“A economia se move, o País tem rumo, fixado pela política de ajustes e reformas, a vida melhora e fica para trás o desastre causado pela irresponsabilidade populista.”

Que maravilha ler isso, ao final de um editorial de O Estado de S. Paulo – “Saindo do aperto” –, em que são apresentados diversos números que demonstram como a economia brasileira vem melhorando, após ter sido enfiada no fundo do fundo do fundo do poço pelos governos lulo-petistas.

Aliás, que maravilha que existem os editoriais do Estadão, nestes tempos de profunda crise política e moral, que parece agigantada desde maio passado pela campanha histérica das Organizações Globo contra o governo Michel Temer e pelo alarido igualmente histérico das redes sociais. Eles têm sido um bálsamo de racionalidade, ponderação, equilíbrio, neste país à beira de um ataque de nervos.

Tão à beira de um ataque de nervos que só 3% da população, segundo os institutos de pesquisa, aprovam este governo que pegou a economia destroçada, na maior recessão da História de 500 e tantos anos, e em um ano e meio já coleciona uma série de belos números a exibir.

Do jornalista Guilherme Fiúza não se pode dizer, de forma alguma, que seja racional, ponderado e equilibrado como os editoriais do Estadão. Bem ao contrário: o texto de Guilherme Fiúza é vibrante, nervoso, furibundo da vida com o festival de besteiras que o lulo-petismo vem patrocinando nos últimos tempos no Brasil. No entanto, da mesma maneira que os editoriais do Estadão, ele diz verdades – verdades que pouca gente anda dizendo, na imprensa e na bagunça das redes sociais.

Em seu artigo da sexta-feira, 18/11, em O Globo, ele escreveu:

“Digam os nomes dos bandidos que sanearam a Petrobras em tempo recorde. Quem são eles?

“Digam quais foram os pilantras do PMDB que acabaram com a roubalheira contábil no Tesouro e sanearam a política fiscal. O Brasil quer saber!

“Quem são, afinal, os decrépitos que enxotaram a gangue do Dirceu e iniciaram as reformas do Estado, com a recuperação de todos — todos — os indicadores econômicos?

“Não citam, e não citarão um único nome.

“Os cafetões da lenda — agora reforçados pela covardia tucana, que não falha — sabem que o comando das principais instituições nacionais está nas mãos de gente séria, virando noites para reverter 13 anos de pilhagem.

“Os resultados estão aí, à prova de retórica, e é comovente ver os progressistas de butique fazendo voto de cegueira.”

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Os resultados estão aí, à prova de retórica.

De Míriam Leitão não se pode dizer, de jeito nenhum, que seja pró-Temer, pró-PMDB. Muito ao contrário: sua coluna dia sim dia não tem pesadas críticas ao governo Michel Temer – em geral, a aspectos políticos, mas também a algumas decisões da área econômica. Neste domingo, 19/11, ela mostrou, em sua coluna do Globo, como a Eletrobrás saiu do fundo do poço depois que o PT deixou o governo. Em momento algum ela credita explicitamente o trabalho de reorganização da segunda maior empresa estatal ao atual governo – mas credita direitinho ao governo Dilma Rousseff o descalabro que tomou conta da Eletrobrás:

“A Eletrobras está mudando. A dívida líquida caiu, o número de funcionários foi reduzido, a administração foi reorganizada, e a ação já se valorizou em 173% até agosto. (…) A devastação causada pela ex-presidente Dilma Rousseff impressiona: a Eletrobras perdeu de 2011 a 2015 quase a metade do patrimônio líquido e acumulou prejuízo de R$ 31 bi.

“’A companhia tem 55 anos. Em quatro anos, só quatro, ela perdeu 40% do seu patrimônio líquido. Quase metade do patrimônio esfacelado em um prazo muito pequeno. Ao mesmo tempo ela aumentou muito a dívida para fazer frente a isso e aos planos enormes de investimento. Esse era o tamanho do problema 14 meses atrás” conclui Wilson Ferreira, olhando para os gráficos da companhia que preside.”

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Os resultados estão aí, à prova de retórica – e à prova até de campanha. Neste mesmo domingo, 19/11, em que Míriam Leitão dedica sua coluna a mostrar a recuperação da Eletrobrás (mesmo que sem explicitar que ela é obra do atual governo), O Globo foi obrigado a deixar de lado suas manchetes agourentas contra Temer para registrar: “Inflação menor libera R$ 7,8 bi para consumo”. “Alimentos mais baratos garantem folga no orçamento e ajudam PIB”, diz o olhinho, o subtítulo.

Aí abaixo, nesta 20ª edição das coletâneas “Está melhorando”, vão as íntegras da reportagem que foi manchete de O Globo neste domingo, da coluna de Míriam Leitão sobre a recuperação da Eletrobrás e do editorial do Estadão que reúne diversos números recentes da economia e mostram que muitos brasileiros já estão saindo do aperto.

Antes, alguns títulos dos jornais das duas últimas semanas:

* “Varejo cresce 0,5% e indica retomada do setor.”

“O varejo brasileiro voltou a crescer em setembro. Segundo dados divulgados ontem pelo IBGE, as vendas no setor avançaram 0,5% frente a agosto – resultado que anula a queda de 0,4% do mês anterior.” (O Globo, 16/11.)

* “Após crise, financiamento de veículos volta ao radar dos grandes bancos.” “Depois de quase secar no país, em função do aumento de calotes, empréstimos para compra de veículos voltaram a crescer nas carteiras de bancos como Bradesco e Banco do Brasil; mudança é puxada por queda das taxas de juros, inflação e desemprego.” (Estadão, 18/11.)

* “Com aumento da produção, indústria automotiva puxa recuperação da cadeira de fornecedores.” A produção de veículos no país cresceu 28,5% nos dez primeiros meses do ano. Apenas em outubro, o salto chegou a 42,2% ante o mesmo mês do ano passado. Assim, as montadoras vêm puxando a recuperação de uma série de outros segmentos industriais. (O Globo, 13/11.)

* “Moradia popular impulsiona alta do mercado imobiliário.” “No terceiro trimestre, três construtoras lançaram empreendimentos com R$ 2,02 bilhões em valor geral de vendas.” (Estadão, 17/11.)

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Saindo do aperto

Editorial, Estadão, 17/11/2017

O brasileiro volta às compras, depois de um longo aperto no gasto familiar, e o aumento das vendas no varejo reflete a melhora, lenta, mas inegável, das condições de vida. Em setembro, o comércio varejista vendeu 0,5% mais que em agosto e 6,4% mais que um ano antes. Esse dado confirma um cenário bem mais favorável que o da fase final da mais demorada e mais funda recessão registrada no Brasil. Quando se acrescenta o movimento das lojas de veículos, seus componentes e material de construção, chega-se aos números do varejo ampliado. No conjunto, o volume vendido cresceu 1% de agosto para setembro e tornou-se 9,3% superior ao de setembro de 2016, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

Responsável pela pesquisa, a economista Isabella Nunes chamou a atenção para as vendas de supermercados, 6,3% maiores que as de setembro do ano anterior, e de farmácias, com diferença de 8,3% em relação às de um ano antes. São sinais, segundo comentou, de aumento da renda familiar e da queda do desemprego. O maior movimento do comércio é visível, no entanto, em quase todos os segmentos.

No ano, o comércio varejista restrito vendeu 1,3% mais que entre janeiro e setembro de 2016. No caso do varejo ampliado, o aumento do volume, nessa comparação, chegou a 2,7%. No acumulado em 12 meses, a maior parte dos segmentos continua com números negativos, mas em firme trajetória de recuperação, assim como os indicadores de confiança de consumidores e empresários.

A melhora da renda real e, portanto, do poder de compra das famílias está claramente associada ao forte recuo da inflação. Depois de ultrapassar o ritmo anual de 10% no fim de 2015 e início de 2016, os preços de bens e serviços consumidos pelas famílias começaram a perder impulso e, em alguns casos, até a diminuir. De janeiro a setembro deste ano, a inflação ficou em 1,78%, segundo a pesquisa mensal do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Em igual período do ano anterior a variação havia sido de 5,51%. Nos 12 meses até setembro, em relação ao período imediatamente anterior, ficou em 2,54%.

Inflação moderada significa erosão mais lenta do poder de compra da renda familiar. No Brasil, a evolução mais favorável do IPCA incluiu uma prolongada queda de preços de alimentos e bebidas. Com a alimentação mais barata, sobrou mais dinheiro para o consumo de outras categorias de bens.

Mesmo com a acomodação dos preços da comida, depois de uma queda prolongada, as condições dos preços deverão permanecer compatíveis com a recuperação do consumo e, portanto, com a expansão de um componente importante da demanda interna. Outro importante componente, o investimento em máquinas, equipamentos e obras, dependerá da redução da capacidade ociosa da indústria, ainda ampla, e do avanço das concessões na área de infraestrutura.

De toda forma, a reação do consumo e o crescimento da exportação têm propiciado a reativação da indústria. Em setembro, depois de 39 meses de queda, a produção industrial acumulada em 12 meses ficou positiva, com variação de 0,4%. O balanço do mês apontou crescimento de 0,2% em relação ao volume de agosto e ganho de 2,6% em comparação com o de setembro de 2016.

A recuperação da indústria já é perceptível também na abertura de vagas. O setor criou 67 mil postos de trabalho no terceiro trimestre, com aumento de 0,6% no total de ocupados em relação ao período de abril a junho. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua. Em 12 meses, o saldo de contratações e demissões na indústria chegou a 245 mil. Alguns outros setores também contrataram e 1,06 milhão de postos foram abertos em um trimestre. Mas o desemprego total, embora em queda desde o primeiro semestre, continuou elevado, com 12,4% da força de trabalho em busca de ocupação. Mas a economia se move, o País tem rumo, fixado pela política de ajustes e reformas, a vida melhora e fica para trás o desastre causado pela irresponsabilidade populista.

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Depois da tempestade

Por Míriam Leitão, O Globo, 19/11/2017

A Eletrobras está mudando. A dívida líquida caiu, o número de funcionários foi reduzido, a administração foi reorganizada, e a ação já se valorizou em 173% até agosto. Estão sendo vendidas 77 SPEs no valor de R$ 4,6 bi. A devastação causada pela ex-presidente Dilma Rousseff impressiona: a Eletrobras perdeu de 2011 a 2015 quase a metade do patrimônio líquido e acumulou prejuízo de R$ 31 bi.

“A companhia tem 55 anos. Em quatro anos, só quatro, ela perdeu 40% do seu patrimônio líquido. Quase metade do patrimônio esfacelado em um prazo muito pequeno. Ao mesmo tempo ela aumentou muito a dívida para fazer frente a isso e aos planos enormes de investimento. Esse era o tamanho do problema 14 meses atrás” conclui Wilson Ferreira, olhando para os gráficos da companhia que preside.

Essa destruição de valor na Eletrobras aconteceu pelo mesmo motivo que houve um mar de prejuízos em todas as empresas do setor: a Medida Provisória 579. Dívidas e brigas judiciais ainda se acumulam entre os diversos segmentos do mercado por causa da MP. Com ela, a ex-presidente Dilma achou que estava reinventando a roda. Deu errado. Entre outras razões porque ela reduziu na marra o preço pago às geradoras, diminuindo em 20% a receita da Eletrobras. Mas a seca se agravou, tornando o valor pago ainda mais irreal.

A dívida comparada à sua geração operacional de caixa em um ano, a medida mais importante de endividamento — dívida líquida/Ebitda — era 8,8 vezes em setembro de 2016. Agora está em 4,1 e a meta é terminar este ano com 3,3, chegando a 2,4 em 2018.

— A empresa aumentou o endividamento e o país perdeu o grau de investimento. Uma combinação diabólica porque o banco te cobra mais caro e encurta a dívida. A Eletrobras chegou a tomar dinheiro a 16%, a 19%. O serviço da dívida aumentou 60% — explica Wilson Ferreira.

O ajuste pelo qual a estatal está passando mexe com tudo. Para se ter uma ideia, além de todas as controladas, ela tinha também 178 Sociedades de Propósito Específico. Para cada novo negócio que o governo decidia que a Eletrobras iria entrar, criava-se uma SPE, que tinha que ter uma estrutura administrativa. A nova gestão decidiu vender 77, ao valor de R$ 4,6 bi. Outras foram encerradas e algumas incorporadas ao negócio porque não havia razão para não fazerem parte da estrutura. Com o plano de aposentadoria incentivada, a companhia reduziu em 2.100 o número de funcionários, e diminuiu em R$ 900 milhões o custo. Além disso, restringiu níveis administrativos, cortou 600 cargos de gerente, e eliminou 60% dos cargos de assessor. O plano de demissão incentivada deve despedir 2.300 funcionários até o ano que vem.

— Não faz sentido ter quatro níveis hierárquicos numa holding, ou ter 2.200 caras gerenciando 15.000. Parece muito cacique.

Tudo está sendo mexido na Eletrobras, que se prepara para a privatização. Mas esta palavra Wilson Ferreira não fala.

— Haverá uma democratização do capital, e com regras para evitar que haja concentração das ações, no modelo de grandes empresas do mundo.

Ferreira não acha um mau negócio a estatal ficar com as dívidas das seis distribuidoras que controla, e vendê-las por um preço mínimo. São as companhias do Amazonas, Roraima, Acre, Rondônia, Alagoas e Piauí. A de Goiás já foi vendida.

— A Eletrobras perde muito dinheiro com essas distribuidoras. Nos últimos 10 anos foram R$ 20 bilhões. Só no ano passado foram R$ 6 bilhões de prejuízo. Ao vender, de largada, vamos reduzir em R$ 2,4 bilhões o custo de pessoal, material e serviços de terceiros.

A dívida de R$ 11 bilhões dessas companhias será transferida para a Eletrobras para tornar viável a venda das distribuidoras. Mas Wilson Ferreira diz que tudo já foi provisionado. A companhia tem apenas que usar o dinheiro, ou reverter a provisão. Por isso, ele acha que o impacto será “zero”, e que o maior ganho é sair de um negócio que a estatal nunca dominou.

Para vender parte do capital da Eletrobras será preciso aprovar o projeto de lei no Congresso, e resistir à pressão dos grupos políticos em torno de cada uma das controladas. Mas, se conseguir, o maior ganho será proteger a companhia do enorme prejuízo que tem sido a persistente interferência dos políticos que sempre controlaram a estatal. (Com Marcelo Lourenço.)

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Inflação menor libera R$ 7,8 bi para consumo

Por Cássia Almeida, O Globo, 10/11/2017

Por décadas, o Brasil sofreu com a hiperinflação. Hoje, no entanto, o indicador de preços tem trazido alento ao bolso dos brasileiros, principalmente aqueles das classes C, D e E. Graças a uma safra recorde, os preços dos alimentos vêm caindo fortemente — já ficaram 5,1% mais baixos nos últimos 12 meses —, abrindo espaço para o consumo, depois de mais de dois anos de recessão. Segundo cálculo exclusivo da consultoria Tendências, feito a pedido do GLOBO, a inflação menor trouxe este ano uma folga de R$ 7,8 bilhões no orçamento das famílias que ganham até cinco salários mínimos (R$ 4.685 mensais). Folga que já está impulsionando a economia.

Como essas famílias sentem mais o peso das compras do mês no orçamento, a deflação abre espaço para o consumo. Para elas, o peso dos alimentos é de 21,5% da cesta, e essa diferença aparece no Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que mede a inflação para quem tem rendimento familiar de até cinco mínimos. O indicador subiu 1,83% em 12 meses, enquanto o IPCA, de famílias com renda de até 40 mínimos, está em 2,7%.

— O rendimento cresceu, e a perda foi menor para essas famílias. O valor representa por volta de 34% do volume total destinado ao Bolsa Família e uma média de R$ 145 por família que está nessa faixa de renda — afirma Camila Saito, economista da Tendências que fez o estudo.

Esse movimento benigno dos preços deve ditar o ritmo de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) nos próximos trimestres, como aconteceu entre abril e junho. Nesse período, o consumo das famílias subiu 1,4%, a primeira alta depois de nove trimestres.

Esse espaço no orçamento tem gerado mais demanda, e não só nos hipermercados. Como os alimentos são produtos de primeira necessidade e, por isso, a quantidade comprada não varia muito nem mesmo em momentos de crise, quando o preço cai, sobra dinheiro para incrementar o consumo de outros itens.

Pela Pesquisa Mensal do Comércio, do IBGE, móveis e eletrodomésticos têm se destacado. A venda desses itens cresceu 16,6% em setembro, no quinto mês consecutivo de alta de dois dígitos na comparação com o mesmo mês do ano passado. No ano, o movimento cresceu 8,8%, a maior alta entre os setores.

— O varejo voltou a crescer, coleciona variações positivas, não há dúvida. A deflação foi de grande ajuda — afirma o economista Luiz Roberto Cunha, professor da PUC.

É a primeira vez que se vê uma deflação tão forte nos alimentos, segundo Cunha. E isso teve impacto na inflação. O economista lembra que o IPCA acumulado em 12 meses recuou de 8,5% em setembro do ano passado para 2,7% em outubro deste ano. Nas suas estimativas, 75% dessa queda ocorreram graças à deflação dos alimentos:

— E os números não devem mudar. Os preços dos alimentos devem cair entre 4% e 4,5% este ano.

Há cinco meses consecutivos, o comércio vem registrando aumento nas vendas, na comparação com o mesmo mês de 2016. Segundo Ronaldo Labrudi, presidente do Grupo Pão de Açúcar (GPA), a forte deflação de alimentos ajudou o setor supermercadista a superar a grave recessão pela qual o Brasil passou entre 2014 e o início deste ano. Desde que os preços passaram a cair, em meados de 2016, as vendas tomaram a direção oposta, tornando-se um impulso adicional a ramos de negócio como o da marca Assaí, um dos maiores atacarejos do Brasil.

Nos últimos meses, afirma Labrudi, a folga orçamentária das famílias está sendo aplicada também a outros segmentos, puxando negócios que haviam sentido mais a crise, como eletrodomésticos e eletrônicos. O GPA é dono das marcas Casas Bahia e Ponto Frio, que formam a Via Varejo.

— Houve um represamento grande em eletros durante a recessão. Mas, nos últimos meses, (o setor) começou a destravar, e já crescemos a dois dígitos na Via Varejo. Se a economia crescer um pouquinho em 2018, esse segmento vai deslanchar totalmente — prevê Labrudi.

Nessa cadeia de lojas, as vendas vêm crescendo a dois dígitos desde o início de 2017, o que não acontecia desde o terceiro trimestre de 2013, último ano de crescimento mais forte da economia, de 3%. No terceiro trimestre, as vendas das lojas abertas há mais de um ano da Via Varejo cresceram 18,6% e, na internet, o movimento aumentou 24,4%. O grupo anunciou que abrirá de 70 a 80 lojas no ano que vem.

Mais legumes e frutas. Marly Brito e o filho André perceberam a queda dos preços nas compras mensais – Hermes de Paula / Agência O Globo

A pensionista Marly de Brito e o filho André, funcionário do Banco do Brasil, que moram em Vila Isabel, perceberam no carrinho de compras os preços 5% mais baixos dos alimentos. Gastam em média R$ 1.200 com alimentação.

— Como tudo está um pouco mais barato e ainda há muitas ofertas, comprei frutas e legumes a mais — diz Marly.

Brito diz que constatou uma folga no orçamento, mas, por enquanto, a família ainda não sabe em que vai gastar o dinheiro economizado nas compras:

— Não estamos com nenhuma necessidade de compra urgente para usar essa diferença. Mas a sensação que tivemos é, sim, de folga no orçamento.

Segundo Marcelo Neri, diretor da FGV Social, no momento mais crítico da crise, em 2016, quando a inflação ainda estava um pouco abaixo de 10% ao ano, a subida de preços foi responsável por 70% da perda do poder de compra dos trabalhadores, que, no segundo trimestre do ano passado, chegou a 5,6%.

— Essa queda da inflação, de retomada da economia, joga contra a desigualdade. Há um efeito redistributivo da deflação dos alimentos. Ela joga a favor dos trabalhadores de renda mais baixa e chega em boa hora, contrabalançando o aumento de desigualdade da renda de trabalho dos últimos dois anos — afirma Neri.

Ele garante que os efeitos da redução do preço dos alimentos vão além:

— Faz as rodas da economia girarem mais. E o efeito líquido é de redução da pobreza. O bolo está crescendo, e o bolo dos pobres está crescendo ainda mais, porque os pobres consomem mais alimentos. Vem em um bom momento, depois de dois anos de efeitos negativos, de regressão social.

Segundo estudo do Credit Suisse, o ciclo atual de queda de inflação recente foi o maior desde 2003. O IPCA acumulado em 12 meses caiu de 10,7% em janeiro do ano passado para 2,7% em outubro deste ano, graças à alimentação.

— O recuo foi muito expressivo em todos os produtos. Essa deflação nos alimentos cria folga para os demais itens da cesta de bens. Por isso, no segundo trimestre, aumentou o consumo das famílias, e melhoraram os indicadores de supermercados e de outros setores — explica Lucas Vilela, economista do banco.

Para qualquer recorte de renda, a inflação é a menor em quase 20 anos. Em 1998, o IPCA fechou o ano em 1,65%.

Historicamente, a inflação é prejudicial às famílias de renda mais baixa. Estudo de Maria Andréia Parente, do Ipea, mostrou que, de julho de 2006 a setembro de 2017, nos domicílios onde o rendimento é de até R$ 900, a inflação chegou a 102,2%; enquanto para os que ganham dez vezes mais, acima de R$ 9 mil, a inflação ficou em 83,6%. Este ano, no entanto, a história mudou. Em outubro, enquanto a inflação acumulada em 12 meses das famílias mais pobres foi de 2%, o segmento mais rico viu os preços médios de sua cesta de consumo subirem 3,5%.

Em agosto, por exemplo, os preços dos produtos da cesta de famílias que estão na faixa de renda mais baixa caíram em média 0,22%, enquanto para os mais ricos a inflação ficou positiva em 0,53%.

Para o ano que vem, as previsões dos especialistas são de inflação dos alimentos no mesmo nível do índice de preços médio, perto de 4,5%. Mas outros fatores devem manter a retomada da economia. O desemprego deve continuar caindo, e se espera alguma recuperação do investimento. O Credit Suisse projeta expansão da economia de 0,5% este ano, mas, para 2018, a previsão é de alta de 2,5%. (Colaborou Gabriel Toscano.)

19/11/2017

Da mesma série:

Está melhorando (19): Renda dos trabalhadores cresce, indústria volta ao azul…

Está melhorando (18): FMI eleva projeção do PIB, montadoras anunciam investimentos… 

Está melhorando (17): Enfim, a indústria reage – e já puxa a criação de empregos.

Está melhorando (16): Empregos com carteira se recuperam, leilão é sucesso…

5 Comentários para “Está melhorando (20)”

  1. Bravíssimo, Um. Vou copiar e compartilhar na minha linha do tempo. Linha do tempo? Tenho muita antipatia dessas três palavras.

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