Adeus à insanidade

Há um ano, o Brasil estava sem rumo e à beira do precipício. Pagávamos o preço do voluntarismo, do intervencionismo e dirigismo estatal, frutos de uma loucura chamada “nova matriz econômica”. Mambembe, o país se equilibrava sobre o tripé da insanidade: inflação alta, recessão e juros estratosféricos.

Tudo estava desalinhado.

A política externa andava para trás, amarrava-se ideologicamente ao terceiro-mundismo e ao bolivarianismo, nos condenava à irrelevância no concerto das nações.

O Brasil perdia o investment grade, afugentava os investidores. A principal empresa do país via-se à beira de quebrar, em decorrência de investimentos desastrosos (Pasadena, Abreu e Lima, Comperj, entre outros), da política de represamento de preços do petróleo e da corrupção, claro.

Os bancos estatais transferiam recursos públicos para grupos privados amigos do rei (e da rainha) a juros de pai para filho. Por meio de subsídios disfarçados foram transferidos para os chamados “campeões nacionais” US$ 120 bilhões, de 2009 a 2015, quase o mesmo que o Plano Marshall.

Impossível avaliar o primeiro ano de Michel Temer sem levar em consideração o mundo desajustado deixado por Dilma Rousseff.

Sim, por ordem na casa, era sua primeira tarefa. A segunda era encaminhar as reformas.

Com essas duas condições, seu sucessor poderá receber um país minimamente organizado, apetrechado para alcançar o crescimento e para adotar políticas públicas promotoras da cidadania e da justiça social.

A questão, portanto, é saber se Temer está cumprindo o que dele o momento histórico exige.

Uma leitura isenta levará a uma resposta positiva, apesar dos pesares. Vejamos: a espiral inflacionária, que ameaçava trazer de volta fantasmas do passado, refluiu para o centro da meta, condição necessária para a queda consistente da taxa básica de juros, que logo deverá baixar para a casa de um dígito.

O ambiente econômico hoje é outro. A agenda das reformas — ainda não concluída embora bem encaminhada — contribui para o retorno da confiança dos investidores, assim como o freio no expansionismo fiscal por meio da PEC do teto dos gastos públicos.

O risco Brasil recua ao patamar de janeiro de 2015. A agência de risco Moody’s eleva a nota da Petrobras, a estatal volta a dar lucro. Mesmo Celso Rocha Barros, um crítico do governo, elogia a equipe econômica e considera que “a mudança no BNDES também foi uma correção necessária após vários anos em que o banco se distanciou de sua função”.

A maior recessão da história vai ficando para trás. Mas a retomada da economia acontece lentamente e esse é o nó.

O passivo deixado pelos anos de terra arrasada é imenso, uma queda do PIB de 9% em dois anos, de 10% na renda dos brasileiros e 14 milhões de desempregos.

Seria ingenuidade, ou má fé, acreditar que este quadro perverso seria revertido em 12 meses.  Quem está desempregado, claro, quer solução imediata para seu drama e isto explica em grande medida a baixa popularidade de Temer.

Organizada minimamente a casa em seu primeiro ano de governo, a grande tarefa agora é fazer com que o desemprego entre em marcha regressiva, mas a devastação dos anos Dilma só permitirá que o país retome o patamar da pré-crise em dois ou três anos.

Para cumprir essa missão, Temer terá de vencer a mãe de todas as batalhas: a reforma previdenciária. Isso lhe custa popularidade, óbvio. Mas em que lugar do mundo o sistema previdenciário foi reformado com apoio popular?  Como quimioterapia, a reforma é remédio grave, mas necessário na atual situação.

Uma boa maneira de se avaliar a primeira etapa do governo Temer é cotejar seu receituário com o “programa de emergência” dos economistas de Lula, que propõe incentivo ao crédito através de empréstimos subsidiados nos bancos públicos para as famílias e empresas voltarem a se endividar, aumento do endividamento público para alavancar os investimentos pela via do “alongamento da dívida privada” e a redução do compulsório dos bancos.

Ora, tudo isso estava na famigerada “nova matriz econômica”. Tudo isso fez do Brasil do lulopetismo uma casa de loucos, que, em boa hora, deixou de existir.

Um ano após o impeachment, o Brasil não é mais o país dos sobressaltos, do imponderável de Almeida na economia. Saímos do sanatório geral para o mundo da previsibilidade.

Convenhamos, é um feito e tanto para um governo de transição.

Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat em 17/5/2017. 

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