A economia salva

Nos últimos meses de 2016 havia um clima de baixo astral na economia, com muitos analistas vaticinando a invasão da agenda da recessão – inflação alta, aumento do desemprego e PIB em queda livre – no ano de 2017.

Aqui e ali se ouviam vozes, inclusive do mundo empresarial, queixando-se da equipe do ministro da Fazenda, Henrique Meireles, cujo prazo de validade estaria se esgotando.

Poucos meses depois, o ambiente é outro. Não que a economia real já tenha sido impactada fortemente pelos novos ares. O desemprego continua sendo o tormento de milhões de brasileiros e ainda há muito chão pela frente até o Brasil voltar a ter índices de crescimento robustos.

Mas é visível a mudança de humor no mundo dos negócios. A inflação vem sendo puxada para o centro da meta, abrindo espaço para uma queda contínua da taxa básica de juros. Os investimentos diretos no país foram, em janeiro, os maiores desde 1995, o real aprecia-se em relação ao dólar e a safra agrícola de 2017 deve bater novo recorde, com um aumento de 17% em relação ao ano passado.

A indústria paulista voltou a contratar em janeiro, depois de longo e tenebroso inverno de demissões. O termômetro da indústria de embalagem também sinaliza positivamente, enquanto o risco do calote da dívida caiu pela metade, após ter ido para estratosfera nos anos da ex-presidente Dilma Rousseff.

Como em economia não existe mágica, debite-se a reversão das expectativas à persistência da equipe econômica em manter o rumo traçado há nove meses, sem truques e sem turbinar artificialmente a economia.

Ainda que cambaleie na condenável política do compadrio, em que por vezes os amigos então acima de tudo, o presidente Temer conseguiu com o arco de alianças montado no Congresso Nacional uma base sólida para aprovar as reformas necessárias, o que gera um fator decisivo para a atração de investimentos: previsibilidade.

Talvez o ponto de inflexão tenha sido a aprovação da PEC do Teto.

Na economia, não há hoje o imponderável de Almeida. A própria figura de Temer contribui para o clima de estabilidade. Nisso, diferencia-se radicalmente de Dilma.

Ao contrário de sua antecessora, montou uma equipe harmoniosa e altamente competente na Fazenda, no Banco Central, no BNDES, na Petrobrás, no IBGE e no Ministério do Exterior. Não há uma divisão entre “ortodoxos” e “desenvolvimentistas” tão ao gosto do governo passado.

Esse é o ponto forte de seu governo. A política econômica não está subordinada à busca frenética de popularidade.

Ficaram para trás, portanto, os tempos em que o rumo da economia dependia do humor da presidente, sujeito às suas interferências erráticas e à sua propulsão de meter o bedelho em tudo.

O tempo da política é outro.  Ele pode incidir sobre a própria economia, a depender da extensão e profundidade das delações da Odebrecht. Mas, por enquanto, bons ventos sopram na direção de Temer, bafejado pela melhoria do cenário econômico mundial, com o fim da recessão que se iniciou em 2008 e a recuperação do preço das commodities.

Mas a política também pode ser influenciada pelo sucesso da economia. É muito cedo para se decretar que o fim do governo Temer será igual ao do governo Sarney, quando todos queriam distância dele.

A recente pesquisa da CNT/MDA pode alimentar análises precipitadas. Mesmo fugindo da armadilha de adotar medidas populistas para turbinar os índices de aprovação do seu governo, certamente eles estarão em outro patamar se a recuperação da economia continuar nesta marcha e lograr êxito a aprovação das reformas previdenciária, trabalhista e tributária.  Ou ainda, se progredir a idéia de destravar os investimentos por meio de amplo programa de privatização e concessão.

O mundo dá voltas. Ao término de seu mandato, Temer pode ter cumprido sua missão de entregar ao sucessor um país minimamente reorganizado, em condições de alcançar o crescimento sustentado.

Convenhamos, não será pouco para quem pegou um trem desgovernado e à beira do abismo.

Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 22/2/2017. 

Um comentário para “A economia salva”

  1. As recentes pesquisas demonstram que os remédios são paliativos. Um excesso de antibióticos sociais poderão levar ao descontentamento de grande parte de batedores de panela. Os empresários voltaram a ter a perspectiva de investir pouco e lucrar bastante. A economia entrou no ritmo do samba de uma nota só, empresariado financiado e subsidiado com recursos do Estado em detrimento de ganhos sociais. A antiga e desgastada luta de empresários e trabalhadores pende novamente aos primeiros. A economia está salva.

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