Tumulto junto da PUC em São Paulo

2016-03 - Manifestação na PUC dia 21 - 720

Fiz esta foto pouco depois de 20h30 desta segunda-feira, 21/3, na Rua Ministro Godoy, junto do “prédio novo” da PUC de São Paulo.

O clima já era tenso.

Cerca de meia hora depois, a partir de 21 horas, haveria cenas de violência. A Tropa de Choque da PM teve que intervir para separar manifestantes pró e contra Lula-Dilma-PT.

Houve disparos de bombas de gás lacrimogêneo. A pequena multidão se dispersou. Grupos de jovens foram vistos correndo pela descida da Rua João Ramalho, em direção à baixada da Avenida Sumaré.

***

A manifestação contra Lula-Dilma-PT havia começado pouco depois das 19 horas. O caminhão de som havia parado bem diante da escadaria de entrada do que é conhecido como “prédio novo” da PUC (em contraposição aos prédios dos anos 40 localizados do outro lado da grande quadra ocupada pela universidade, na Rua Monte Alegre), no bairro de Perdizes.

E, ao microfone, alternavam-se oradores em discursos contra o governo e a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff.

O Hino Nacional foi tocado algumas vezes.

O som era potente, e podia ser ouvido distintamente nos prédios das quadras mais próximas. (Eu estava em um deles.)

Apesar da potência do som, a manifestação não atraiu uma multidão – o que absolutamente compreensível, já que o público universitário, em especial da USP e da PUC, não é composto por antipetistas – bem ao contrário. Então, os chamamentos de “fora PT”, “fora Dilma”, “fora Lula” do microfone não eram seguidos por centenas de vozes.

Pouco depois das 20h30, atravessei nas duas direções essa quadra da Rua Ministro Godoy. Não havia de fato multidão compacta. Difícil calcular número de pessoas, mas calculo que no máximo estariam ali umas cem pessoas ocupando o asfalto da rua, diante do carro de som. O movimento nas escadarias do prédio da PUC era intenso, mas não mais que o normal em dia letivo. E os diversos bares do outro lado da Ministro estavam – como sempre – cheios. A gente tem sempre a impressão de que há mais estudantes da PUC nos bares que nas salas de aula.

Do caminhão de som, o orador dizia que, dias atrás, no meio da semana passada, ali mesmo, na PUC – no Tuca, do outro lado da quadra, na Rua Monte Alegre -, tinha havido uma manifestação pró-PT. Naquela ocasião, nenhum orador contrário ao PT pôde falar, e portanto – argumentava ele – hoje, também não seria dado o microfone a defensores do PT.

Tinha havido uma demonstração de um lado. Hoje era dia do outro lado – argumentava o orador. Eles haviam pedido autorização, a autorização havia sido dada.

Um grupo de petistas havia se aproximado do caminhão de som, e protestava, a plenos pulmões, contra os oradores. Parecia que começaria naquele momento um tumulto.

O orador conclamou as pessoas contrárias ao governo a não aceitar provocação, e a sentar no chão. Dezenas de pessoas sentaram. Eu mesmo dei uma ajoelhada para ver o que acontecia.

Naquele momento, não aconteceu nada de grave. Não houve início de pancadaria, de grande movimentação.

Um dos oradores pediu um viva a PM. Poucas vezes o apoiaram.

Outro insistiu: eles não estavam ali para defender ninguém da oposição. Corrupto tem que ser preso, seja de que partido for – PSDB, PMDB, PT.

Havia ali, na esquina de João Ramalho com Ministro Godoy, duas viaturas da PM. Um ônibus do choque estava certamente postado a algumas quadras dali. Às 20h30, houve uma movimentação: um grupo de uns dez homens do choque saiu de perto da zona de conflito, enquanto outro grupo chegou para assumir o lugar.

O tumulto começaria pouco depois – mas aí eu já não estava mais lá.

***

Explico por que eu estava ali. A explicação é absolutamente simples, e bastante óbvia para quem me conhece: eu estava netando. Estava visitado minha neta, como faço três vezes por semanas – e acontece de ela morar juntinho da PUC. Estava brincando com ela quando o caminhão de som começou a transmitir os primeiros discursos.

Então, quando, terminada a visita, saí da casa da minha filha (ela mesma uma ex-estudante de Direito ali na PUC), não resisti a dar uma olhadinha.

Deveria ter ficado por ali mais um pouco, entrevistado algumas pessoas, tentando alguma informação com a PM.

Mas sou mau repórter (sempre fui), estou aposentado e estava cansado, querendo um banho e precisando jantar, e então vim embora para casa, do outro lado da Avenida Sumaré.

Soube do gás lacrimogêneo, dos ruídos fortes que pareciam tiros, da correria de grupos de jovens pela minha filha.

***

Vejo agora, 22h30, a notinha publicada no portal da Folha de S. Paulo, com assinatura de três jornalistas. Comento com Mary que, por mais falho que seja, o meu texto está melhor que o da Folha – e sou obrigado a ouvir o seguinte: “Ué, mas isso é fácil”!”

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Escrevi isso aí acima como um relato, uma descrição do que vi e ouvi, quase uma reportagem mesmo. Ao contrário do que em geral faço aqui, que é expressão de opinião.

Agora, finalzinho da noite, tudo absolutamente calmo na região da PUC desde antes das 23h, percebo sinais de que os “bloqueiros progressistas” – os que jornalistas chapa-branca que defendem o governo recebendo dinheiro por isso – já começaram a sair dizendo que “mais uma vez a PM fascista do governador tucano de São Paulo” etc, etc, etc.

Eles escrevem o que são pagos para escrever.

Não testemunhei a ação da PM – mas pelo que vi lá a PM foi tentar apartar briga.

A coisa é absolutamente simples. Aquilo ali era uma manifestação de um lado, como lembrou bem um dos oradores que ouvi de perto, ali na Ministro Godoy. Era uma manifestação de verde-amarelos. O que um grupo de vermelhos iria fazer no meio de uma manifestação de verde-amarelos, a não ser provocar briga?

E aí a PM entra para apartar briga, e vêm dizer que é a polícia fascista do governador tucano? Ora, façam-me o favor!

21/3/2016

9 Comentários para “Tumulto junto da PUC em São Paulo”

  1. Bom trabalho de reportagem mesmo com o tendencioso arremate final.
    Aproxima-se o fatídico e histórico 31 de março, com a prisão do Lula, desfecha-se o golpe legal institucionalizado.
    Que não exista cadáver!

  2. Por medo queimei minhas camisas vermelhas até porque tenho gosto pelo amarelo. Não gosto do preto.

  3. Os alunos que apoiam Dilma já tinham feito sua manifestação, sem nenhuma interferência. Quando os que fazem oposição tentaram se manifestar, foram simplesmente atacados por uma turma que admira ditaduras onde falar contra o governo é crime.

  4. Honorável, Miltinho, você não acha que esse golpe está sendo urdido desde a Constituinte, quando colocaram o capítulo referente ao impeachment? E o que você achou do complô do STF, que, no lugar de condenar o golpe, simplesmente regulamentou o rito do impeachment, esclarecendo que devem ser seguidos os mesmos procedimentos do golpe contra Collor? Qual é a sua opinião sobre alguns acovardados Ministros, incluindo Toffolli, terem declarado à imprensa que o impeachment não é golpe? São ministros coxinhas? E, na eventualidade de derrubarem um governo pela força das armas, contra a vontade da maioria, deveremos chamar de que, agora? De impeachment?

  5. Luiz Carlos, você exagerou no brilho ao questionar isto aqui: “E, na eventualidade de derrubarem um governo pela força das armas, contra a vontade da maioria, deveremos chamar de que, agora? De impeachment?”
    Sensacional!
    Muito obrigado!
    Sérgio

  6. Depois que chamaram a Alemanha comunista, a do muro com metralhadoras, fossos e cachorros, de República Democrática da Alemanha ….

  7. Há juízes que acreditam que “os fins justificam os meios” e sendo assim, atos judiciais de força, ainda que contrariando a Lei e a Constituição podem se justificar a pretexto de serem instrumentos edificadores da ordem e da moral. Outros, porém, entendem que só é possível construir uma sociedade melhor com o rigoroso respeito às leis e à Constituição. Em um país verdadeiramente democrático, a ninguém é dado andar acima das leis, nem políticos poderosos, nem empresários e tampouco os juízes.

    O judiciário é o último bastião dos direitos fundamentais, do Estado de Democrático de Direito. É muito perigoso aplaudirmos a construção de um populismo judicial, um absolutismo da toga, com atuar baseado em estratégias que inspiraram os regimes totalitários do fascismo italiano, do nazismo Alemão e da inquisição medieval.

    Todos queremos que os corruptos sejam punidos. Mas nem todos estabelecem, como condição indispensável para isso, o respeito aos limites impostos pela Lei. Não! Os GOLPES, por mais louváveis, não justificam os meios!

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