Trump instilou o medo no coração do país mais forte do mundo

Nos Estados Unidos da América a madrugada de 8 para 9 de novembro foi impressionante. A maioria das grandes cidades, e muitas das pequenas, rebelou-se, ficou em polvorosa com a vitória do candidato republicano.
Eu não esperava a vitória do Trump, claro que não. Mas sabia que, SE ele ganhasse, aquele grande país entraria em choque. Não precisava ser uma analista política, o que definitivamente não sou. Bastava ouvir e ler as palavras e promessas estúpidas e cruéis que ele pronunciou durante sua campanha.

E hoje, ainda ouço uma entrevista de Rudi Giulianni, que dizem será o Advogado-Geral da União do governo Trump, na qual ele garante que o muro dividindo os EUA do México será construído pois foi uma promessa de campanha e Trump não vai desrespeitar as promessas de campanha.

Podemos então esperar que essa figura intolerante e fanática vá, com a facilidade que um Congresso nas suas mãos permitirá, cumprir todas as promessas que fez durante a campanha?

Trump se mostrou sempre como fanático, intolerante, preconceituoso.  Durante toda sua vida: como estudante; como homem de negócios; quando se candidatou a ser escolhido pelo Partido Republicano; como candidato oficial dos republicanos. Sempre uma figura inepta, disposta a contrariar e ferir, a ter sua opinião vitoriosa.  Não há nenhum motivo para crer que ele será um presidente equilibrado, fraternal, tolerante. Ou menos orgulhoso: vejam como ele reage às manifestações populares contra sua eleição – insiste em dizer que é a imprensa que põe as pessoas nas ruas. Não quer aceitar que é a sua pessoa que leva o povo a protestar.

Como estranhar que a população americana esteja com muito medo?

Trump prometeu acabar com o Obamacare, o que levaria milhares de doentes ao desespero; caçar e deportar imigrantes, dividindo e destruindo suas famílias; barrar a entrada de muçulmanos; incrementar um programa ameaçador de “lei e ordem” nas cidades do interior, logo quando as comunidades minoritárias andam sofrendo com a agressividade da polícia.

No entanto, ele venceu. É verdade que venceu no Colégio Eleitoral e perdeu (por muito pouco) nos votos populares.  Mas assim é o sistema eleitoral americano.

O que leva o governo Obama, a quem Trump tanto ofendeu e agrediu, a encetar uma transição suave e decididamente democrática do Salão Oval às mãos dessa figura que Hillary Clinton, em muito boa hora, colocou na ‘cesta dos deploráveis’?

A resposta é muito simples: como disse Barack Obama em seu discurso logo após a vitória de Trump, “o país precisa agora de unidade, inclusão e respeito pelas instituições. Antes de qualquer outra coisa, somos todos americanos, somos todos patriotas”.

Palavras verdadeiras e de muito bom senso, não acham? Mas não acredito que será fácil convencer os eleitores desgostosos a aceitar um homem como Trump.  Nesta segunda noite desde o resultado das eleições, as ruas estão cada vez mais cheias de gente protestando e dizendo que não aceitam esse presidente. Mas, apesar do choque, do medo, do susto, vão acabar aceitando. Era demais esperar que aceitassem como carneiros a vitória do absurdo candidato, sexista, racista, xenófobo, um bully desde que era aluno do ensino médio.

Li com muita atenção a página de Opinião de ontem do NYT.  Segundo um dos seus colaboradores pode muito bem ser que Trump não tenha sido eleito apesar de seus defeitos de caráter, mas sim porque esses defeitos agradaram a muitos.

Caso para se pensar com cuidado, não é, não? Triste, mas muito possível.

Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 11/11/2016. 

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