Terror não tem glamour

Passado o primeiro choque da tragédia do atentado no balneário de Nice, na França, o mundo continua atônito.

Hoje sabe-se que a qualquer momento pode surgir um lobo solitário capaz de dar a própria vida para massacrar dezenas de inocentes. Todo o planeta ainda tenta entender o que aconteceu em Nice, Orlando, Paris e em tantos outros locais em que um conjunto de pessoas ou apenas um único indivíduo promoveram tragédias sob a inspiração de organizações como o Estado Islâmico, a Al-Qaeda ou outros grupos terroristas que atuam no Oriente Médio. E o mundo procura encontrar formas para enfrentar o enorme desafio de evitar estes acontecimentos.

No Brasil é de se espantar a enorme dificuldade de parte da nossa intelectualidade e da maioria dos partidos ditos de “esquerda” de assumir uma postura de condenação veemente aos atos que culminaram na morte de tantas pessoas.

Ao contrário, no lugar de condenar chegam a ridicularizar quem se preocupa com a possibilidade deste tipo de evento ocorrer por aqui. Veja o caso da decisão do governo brasileiro de cumprir 12 mandados de prisão temporária de  defensores do Estado Islâmico e que se tornou motivo de desconfiança, chacota e crítica por parte de quem considera ilegítimo ou falso tudo o que venha do governo interino.

Até membros da comunidade acadêmica fazem enorme esforço para justificar teoricamente os acontecimentos promovidos por fanáticos violentos que lutam contra a democracia e a liberdade no mundo.

Alguns glamorizam a barbárie. Interpretam a ação de terroristas como uma heróica ação anticapitalista. Não é à toa que petistas de diversos escalões se colocaram contra a Lei Antiterrorismo; estavam interessados em proteger companheiros mais radicais, como os sem-terra.

Dentro desta ótica, os grupos extremistas teriam um conteúdo revolucionário e contestador ao pregar a luta contra diversos valores da sociedade brasileira.

Não há muito ineditismo nesta interpretação. Estes mesmos pensadores de esquerda já interpretaram a violência e o banditismo como um produto direto da pobreza.  O que é um absurdo. A esmagadora maioria dos pobres não é composta de bandidos, assim como a maioria da juventude da periferia quer distância de selvageria.

A essência de atos terroristas também não pode ser interpretada e amparada por explicações psicológicas ou sociais. Aliás, os terroristas são normalmente de classe média, o que contraria qualquer explicação social desse tipo.

A “ideologia do ressentimento”, inerente aos segmentos que adotam a barbárie como forma de luta, tampouco leva à transformação da sociedade. Não constrói nada. Ao contrário, destrói.

A bandeira do anticapitalismo, por si só, não quer dizer grande coisa. E na história foi argamassa de regimes racistas e genocidas. Nunca é demais lembrar que o nazismo se definia como “anticapitalista”…

Estas violências são absolutamente incompatíveis com o Estado de Direito Democrático.

Do início do século XX até os dias de hoje, tivemos diversos embates: a revolução russa, o surgimento do fascismo e do nazismo, o stalinismo, duas guerras mundiais, Hiroshima, a guerra fria… Os únicos valores que sobreviveram a tantos confrontos, e se fortaleceram, foram a democracia e a liberdade.

São eles que estão sendo novamente atacados em todo o planeta, de forma sistemática, daí seu caráter deletério.

Aqui os defensores do Estado Islâmico foram amadores e primários segundo demonstram as mensagens trocadas entre eles e monitoradas pela Agência Brasileira de Inteligência. Nossos vândalos não parecem ter grande sofisticação intelectual. Não têm nem mesmo objetivos estratégicos claros. Eles pareciam querer promover apenas uma bravata. Nada disso é menos grave ou menos preocupante. Trata-se de uma espécie de banditismo.

Algo que deveria ser condenado claramente pela intelectualidade, movimentos sociais e forças políticas.

Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 27/7/2016. 

Um comentário para “Terror não tem glamour”

  1. Se a esquerda não condena a direita reage.

    Ao dominarem todas as estruturas do poder, da informação e da inteligência, os privilegiados monopolizam os recursos que deveriam ser de todos e abre caminho para a exploração do trabalho da imensa maioria sob a forma de taxa de lucro, juros, renda da terra ou aluguel. Tamanha violência simbólica só é possível pelo seqüestro da inteligência brasileira em prol desse 1% mais rico, que passa a monopolizar os bens e recursos escassos, sejam materiais ou ideais. Em vez de apontar para as causas reais da concentração da riqueza social e para a exclusão da maioria, essas concepções de intelectuais servis ao poder nos levam a acreditar que nossos problemas advêm da “corrupção apenas do Estado”, levando a uma falsa oposição entre o Estado demonizado, tido como ineficiente e corrupto, e um mercado visto como reino de todas as virtudes

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