Não é pato, nem é manco

Às vésperas de ser dado o pontapé inicial da disputa presidencial nos Estados Unidos com a realização das prévias democratas no Estado de Iowa, a comparação entre dois momentos serve de ilustração para se tomar consciência do quanto a nação americana mudou, e para melhor, nos últimos oitos anos.

No último ano do governo de George Bush, em 2008, os Estados Unidos estavam mergulhados na crise do subprime (a maior recessão desde o crack de 1929), com bancos falidos, entre os quais o poderoso Lehman Brothers, desemprego acelerado e famílias desesperadas por não poderem fazer frente às dívidas hipotecárias e de cartões de crédito.

O então presidente era um pato manco, desgastado não só pela crise econômica, mas também pela divulgação de fotos de iraquianos torturados por soldados norte-americanos,mais um triste episódio da aventura bélica promovida por Bush no Iraque. Foi na condição de pato manco que fez seu último pronunciamento ao Congresso sobre o Estado da União, uma página sem relevância na história.

Oito anos depois, último ano do mandato de Barack Obama, os Estados Unidos e seu presidente vivem situação inteiramente distinta.  A economia voltou a crescer, tropas norte-americanas não estão mais no Iraque, foram gerados 14 milhões de novos empregos, o país se reaproximou de Cuba e foram revogadas as sanções ao Irã, com que os EUA não tinham relação diplomática desde 1979 e que era tratado como “eixo do mal” por George Bush, em 2002.

Barack Obama está longe, e põe distância nisso, de terminar seu mandato como pato manco. Ao contrário. Os anos Obama marcaram definitivamente os Estados Unidos e pautarão a disputa presidencial. Impossível, absolutamente impossível, os candidatos não se posicionarem sobre sua agenda de reformas: plano de saúde pública – que hoje já beneficia 18 milhões de pessoas -, mudanças climáticas, controle do comércio de armas, direitos dos imigrantes com filhos americanos, combate à desigualdade, Parceria Transpacífica.

Gostem ou não os republicanos, esta agenda veio para ficar.

Entende-se e são absolutamente compreensíveis as preocupações dos americanos com a segurança da nação, diante da real ameaça representada pelo terrorismo. A questão é definir se elas serão respondidas à moda Bush, pela via de intervenções militares unilaterais, a exemplo do que aconteceu no Iraque, ou de acordo com uma nova concepção, explicitada no dia 12 de janeiro, no último discurso O Estado da União, de Obama:

“A América vai agir, sempre, sozinha se necessário, para proteger nosso povo e nossos aliados, mas em questões de interesse global, vamos mobilizar o mundo para trabalhar conosco e nos certificar que outros países puxem seu próprio peso”.

Perfeito. Foi por aí, por exemplo, que os EUA e a União Europeia chegaram a um entendimento com vistas à suspensão das sansões ao Irã. O diálogo leva à superação de barreiras aparentemente intransponíveis. Quem iria supor, há dois anos, que a embaixada americana seria reaberta na ilha de Fidel e Raul Castro?

Ainda é cedo para se dar o balanço definitivo dos anos Obama. É possível que, ainda como presidente, ele equacione a questão da prisão de Guantánamo, levando ao seu fechamento ou apontando caminhos para tal.

Mas, desde já, é possível afirmar que será um ex-presidente extremamente forte, com presença ativa nos Estados Unidos e no cenário mundial. Obama já se comprometeu a, como cidadão, continuar a lutar por uma América mais pluralista, unida por um mesmo credo e onde todos sejam vistos como americanos, sejam “negros ou brancos, asiáticos ou latinos, gays ou héteros, democratas ou republicanos”.

O sonho americano, portanto, continua. E a expectativa é de que se renove por mais quatro anos.

Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 20/1/2016. 

3 Comentários para “Não é pato, nem é manco”

  1. Segue o texto para “O CARA” e para o “PATO MANCO DO LULA”

    por Valdir Silveira
    O FUTURO DO PT E O SOCIALISMO
    Fui buscar – e encontrei – no fundo do túnel do tempo um documento importante, histórico que explica a trajetória sinuosa do PT. Trata-se de um discurso pronunciado por Luiz Inácio da Silva, o atual Luiz Inácio Lula da Silva, no dia 27 de setembro de 1981, portanto há 36 anos, durante o 1ª Convenção Nacional do PT, realizada em Brasília, documento esse cuja capa retrata a concentração do 1º de Maio de 1980 em São Bernardo do Campo.
    O título do documento-discurso: CONSTRUIREMOS O SOCIALISMO NAS LUTAS DO DIA A DIA.
    Vou me concentrar no final do discurso de Lula: UMA SOCIEDADE SOCIALISTA LIVRE E IGUALITÁRIA, onde o ex-lider metalúrgico fala “ o nosso programa terá que ser uma sociedade sem explorados, sem exploradores. Que sociedade é esta senão a sociedade socialista? (…) Sabemos que não nos convém, nem está no nosso horizonte, adotar a ideia do socialismo para buscar medidas paliativas aos males sociais causados pelo capitalismo ou para gerenciar a crise em que este sistema se encontra. (…) O socialismo que nós queremos irá se definindo nas lutas do dia-a-dia, do mesmo modo que estamos construindo o PT.” Lula encerra seu discurso dizendo que “ o socialismo que nós queremos terá que ser a emancipação dos trabalhadores. E a libertação dos trabalhadores será obra dos próprios trabalhadores”.
    O conflito existencial do PT, nessa trajetória desde a sua fundação, seu débâcle atual, sua desestruturação e os problemas que Dilma enfrenta, frutos da conciliação e alianças desnecessárias que o partido fez. Foram – e são- alianças de classes inconciliáveis. Óleo e água não se misturam!
    Ou o PT retoma o caminho do discurso da 1ª Convenção Nacional de 27 de setembro de 1981 ou ficará marcado na história como um partido que traiu a classe trabalhadora. Ainda há tempo se corrigir os rumos e juntar-se numa grande Frente de combate e destruição da direita golpista e fascista. É preciso acabar com o estigma de que “ a esquerda não se une nem na cadeia! ”.

    LULA E FHC esquecem o que dizem e escrevem.

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